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Semáforo dá apenas 5 segundos de sinal verde para o pedestre
| Foto:
Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Aperte e corra: para atravessar a avenida em 10 segundos, pedestre tem que andar no dobro da velocidade normal.

Cinco segundos. Esse é o tempo que um pedestre tem de sinal verde para atravessar a Avenida Visconde de Guarapuava, no cruzamento com a Rua Mariano Torres, no centro de Curitiba.

No fim de novembro, um semáforo foi instalado no local para garantir a travessia segura de pedestres e ciclistas, nesse que é um dos cruzamentos mais perigosos da cidade.

Na ocasião, a notícia foi divulgada aqui no Ir e Vir de Bike com o seguinte título: Cai um símbolo da carrocracia em Curitiba. O símbolo pode ter caído mas, pelo visto, a mentalidade do regime não mudou em nada.

Na fase de testes, o sinaleiro abria para os pedestres dentro dos ciclos — ou seja, cada vez que o sinal fechava em um dos sentidos da avenida para os carros, abria-se para a travessia das pessoas.

Em seguida, o equipamento passou a funcionar apenas por acionamento automático — abrindo o sinal verde apenas após o botão ser pressionado por alguém. A justificativa da Prefeitura foi de que o regime de ciclos estava provocando muita demora para os motoristas e causando congestionamento.

Depois disso, outra mudança: o semáforo passou a funcionar apenas por acionamento e obedecendo o ciclo dos carros. Ou seja, o pedestre aciona e sinal entre “na fila”, abrindo apenas depois que os dois sentidos da via tiverem sido abertos para os carros.

Isso faz com que o pedestre e o ciclista tenham que esperar entre 45 segundos e 1,5 minuto para que o sinal fique verde para eles. E tudo isso para que ele tenha míseros 5 segundos de sinal verde, com mais 5 segundos de sinal vermelho piscando, totalizando 10 segundos para que se complete a travessia.

Convenhamos: 10 segundos para atravessar cerca de 30 metros (distância entre uma calçada e outra) é muito pouco, mesmo para quem está de bicicleta! Se o ciclista está parado, esperando o sinal abrir, e leva de 2 a 3 segundos para montar na bicicleta e iniciar a travessia, terá apenas 3 ou 2 segundos de sinal verde para completá-la com segurança.

Contabilizar os outros 5 segundos de sinal piscando é um risco. Digo isso porque, nos 10 minutos que fiquei observando o cruzamento, não raro os motoristas avançaram quando perceberam que o sinal já estava piscando para o pedestre — mesmo que ele não tivesse terminado a travessia.

Ou seja, dos 10 segundos disponíveis, o que já é pouco, apenas 5 segundos garantem a travessia efetivamente segura.

Agora, algumas contas para provar que o tempo é realmente muito escasso: quando caminhamos, nos movemos a uma velocidade média de 5 km/h, ou, cerca de 1,4 metros por segundo. Ou seja, nos 10 segundos que tem, um pedestre caminhando tem condições de atravessar apenas 46% do trajeto — 14 m dos 30 m da Avenida Visconde de Guarapuava, na esquina com a Mariano Torres.

Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Cruzamento é um dos pontos mais críticos do trânsito da capital, colocando em risco a vida das pessoas em detrimento da “circulação” dos automóveis.

Para conseguir atravessar nos 10 segundos que tem de sinal aberto, o pedestre tem andar em velocidade de 3 metros por segundo, ou, 10,8 km/h — 116% acima da velocidade normal de uma caminhada. Resumindo: para atravessar a rua você tem que apertar um botão, esperar até 1,5 minuto e sair correndo!

Para garantir uma travessia no tempo normal de uma pessoa caminhando, o tempo de espera do semáforo, com sinal verde, deveria ser de, no mínimo 21,5 segundos — mais que o dobro do tempo oferecido atualmente.

Por mais que se argumente que isso aumentará o tempo de espera dos veículos, nunca é demais lembrar que a preferência no trânsito é sempre do pedestre.

Se, depois de tantos anos, o equipamento foi instalado ali com esse objetivo, seria razoável reconsiderar o tempo de abertura para os pedestres — e, como no período de testes, voltar a colocar a abertura após o acionamento do botão, sem que o pedestre tenha que aguardar que todo o ciclo seja completado.

Procurada na última quinta-feira (19) para comentar o assunto, a Diretoria de Engenharia de Tráfego da Secretaria de Trânsito de Curitiba (Setran) não se manifestou até o fechamento dessa matéria.

Anteriormente, a diretoria havia se comprometido a estudar a adequação da localização dos postes. Isso porque os equipamentos, que também servem aos ciclistas, ficam fora da rota da
ciclofaixa, obrigando que o ciclista tenha que invadir a calçada, onde não há guia rebaixada, para que possa acionar o sistema e fazer a travessia em segurança.

Além disso, o botão de acionamento fica na face contrária ao lado da ciclofaixa, o que torna o equipamento pouco funcional para os ciclistas.

Atualização (23/01 às 10h)

Na manhã dessa segunda-feira (23) a diretora de Engenharia de Tráfego da Setran, Guacira Civolani, encaminhou ao blog a seguinte nota:

“Esclarecemos que durante o dia temos 5 diferentes tipos de programação na cidade, para atender os diferentes picos, com tempos diferentes de verde para veículos e pedestres.

No período analisado por você, pelo filme, julgamos ser após as 20h00 onde está rodando um ciclo de 60 segundos e por esse motivo o tempo de verde é menor que nos demais ciclos, tanto veicular quanto para pedestres.

Nos horários de pico, onde o fluxo de pedestres e ciclista é maior o tempo de verde é de 10 segundos mais 5 segundos de piscante.

A equipe técnica está avaliando a possibilidade de implantarmos uma coluna exclusiva para pedestres e ciclistas no meio do canteiro, permitindo a travessia em duas etapas e atendendo todas as demandas, pois sabemos da prioridade dos pedestres mas também temos diversas linhas de ônibus (com vários pedestres em seu interior) que estavam com a sua tabela atrasada em função do tempo de verde inicial que havíamos implantado”.

A nota afirma ainda que uma equipe de manutenção semafórica já esteve no local e está providenciando a relocação dos postes para local mais adequado.

Minha opinião

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que mesmo os 15 segundos no horário de pico não garantem tempo suficiente para uma travessia segura. Isso exige que o pedestre caminhe a 7,2 km/h — velocidade 44% acima da normal.

A solução apresentada, de instalação de uma coluna exclusiva para pedestres e ciclistas no meio do canteiro, permitindo a travessia em duas etapas, também não resolve o problema. Ao contrário, só o agrava.

Qual é o plano? Fazer com que os pedestres tenham que esperar 3 minutos para atravessar 30 metros de rua? Não é preciso ser engenheiro ou cientista social para saber que os ciclistas e pedestres vão continuar atravessando a rua no sinal vermelho, se expondo a riscos desnecessários.

Não adianta gastar recursos públicos para instalar três postes para que não vão servir para absolutamente nada.

É preciso inverter a lógica atual. Se o carro não pode esperar 21,5 segundos a mais no sinal vermelho — não esperam sequer os míseros 10 segundos –, porque o pedestre deverá esperar 180 segundos para atravessar uma rua? E se alguém for atropelado naquela esquina nessa situação? De quem será a culpa?

E, para finalizar, o argumento de que os ônibus “tem vários pedestres em seu interior” é uma falácia vazia que empobrece o debate e tenta desviar o foco da real origem do problema.

Nada impede, por exemplo, que a mesma lógica seja usada para justificar a preferência dos automóveis individuais (como, aliás, vem sendo feito nas últimas décadas). Afinal, cada carro tem, no mínimo, um pedestre em seu interior, não é mesmo? Essa linha de pensamento ajudaria a explicar os 10 segundos dados a um pedestre para atravessar a rua, exigindo que ele corra para dar mais fluidez ao trânsito motorizado.

Aliás, tem cabimento que estejamos aqui, discutindo e fazendo cálculos para que uma pessoa tenha a condição de atravessar uma rua de 30 metros em segurança?

Não é preciso gastar muito tempo na prancheta — até porque Curitiba tem outras prioridades e necessita desse capital humano para outras questões importantes.

Que tal aumentar o tempo do sinaleiro dos pedestres para não menos do que o necessário para que alguém atravesse a rua sem ter que correr? (Eureka!)

O que fazer com os carros, ônibus e os seus pedestres em potencial? Simples: eles que esperem o sinal abrir. Quando eles forem atravessar a rua na condição de pedestres efetivos, vão entender…

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