• Carregando...
J. Batista/Agência Câmara
J. Batista/Agência Câmara| Foto:

As articulações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para uma eventual substituição ao presidente Michel Temer mostram como funciona o exercício do poder no Congresso Nacional. A Presidência da República poderá cair nas mãos de um partido que tem a oitava maior bancada na Câmara, com apenas 29 integrantes. Pode parecer algo improvável, mas Maia já conquistou o atual posto nas mesmas condições. Ele pode alcançar o cargo máximo porque os parlamentares veem nele o melhor caminho para manter o poder que hoje usufruem.

Maia chegará ao Palácio do Planalto mais rapidamente se Temer for afastado para responder processo no Supremo Tribunal Federal. Pode ainda ser candidato numa eleição indireta. Os nomes que surgiram, como Nelson Jobim e a ministra Carmem Lúcia, não teriam chance num colégio eleitoral tão previsível. Deputados e senadores não entregariam o poder a alguém que não pudessem controlar. Ele querem um presidente como Temer, como Maia, que distribua cargos e verbas públicas, além de outras benesses, mantendo a prática do fisiologismo.

Leia também: Maré do poder mudou: PSDB e ministros de Temer se aproximam de Rodrigo Maia

Dilma Rousseff caiu porque a economia estava ruindo, porque a Lava Jato avançava sobre os líderes petistas, mas principalmente porque nunca entendeu como funciona o Congresso – eu falo do atual Congresso. A presidente não gostava dos políticos, não os conhecia. Na reta final do impeachment, recebeu deputados a rodo no Planalto – algo que raramente fez no seu governo. Alguns relataram que ficaram decepcionados porque ela não sabia o nome de quase nenhum deles.

Outro fato que se repete em mais essa crise presidencial é o processo gradativo de enfraquecimento do governo. À medida que Temer e os caciques palacianos viram suspeitos ou até mesmo caem do cargo, a base aliada vai se esfarelando. Ao levar o primeiro tiro, a ferida fica aberta, sangrando. Depois, o governo vai se deteriorando aos poucos, apodrecendo. E os parlamentares vão procurando um porto seguro.

Aconteceu assim nos impeachments de Dilma e Fernando Collor. No final de 2015, parecia impossível a oposição conseguir dois terços dos votos da Câmara para abrir o processo de impeachment. O governo petista queria ir logo para o voto, porque achava que tinha maioria. A oposição foi ganhando tempo, conquistando adesões, até virar o jogo.

No início de março, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o governo contava com o apoio de 85% da Câmara. Tinha gordura para queimar e, ainda assim, aprovar sem emendas a reforma da Previdência. Pois o governo já está no osso. Os mesmos parlamentares que ficaram ao lado de Temer para derrubar Dilma agora procuram uma alternativa.

Leia Também: E no oitavo dia, Deus criou o Congresso

Em meio à tempestade, Maia vai fazendo as suas articulações. O passo mais importante será fechar um acordo com o PSDB. Isso pode acontecer já na análise do pedido para processar Temer. O democrata está seguindo todos os passos da cartilha do impeachment. Tem dito que não está articulando a sucessão do presidente, exatamente como fazia Itamar Franco, enquanto se reunia com os aliados na famosa “batcaverna” – como ficou conhecido o gabinete do senador Pedro Simon (PMDB-RS).

Temer foi mais ostensivo. Montou o seu governo no Palácio do Jaburu. O plano de governo – baseado no documento “Uma ponte para o futuro” – já havia se tornado público seis meses antes. Maia não vai precisar de nada disso. Se tiver que assumir a Presidência, manterá o ministro Henrique Meirelles na Fazenda e terá o apoio de uma base parlamentar muito parecida com aquela que aprovou o afastamento de Dilma. Mudanças de verdade só virão em outubro de 2018.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]