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Perguntas para quem pretende se posicionar sobre o impeachment.
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Quem não tem colírio usa óculos escuros

(Raul Seixas).

 

 

Os que já abraçaram, apaixonadamente, uma posição sobre o tema, dificilmente mudarão de ideia. Por isso, o texto prioriza os não tão convictos.

A reflexão pode se dar em três níveis: o deontológico, o pragmático e o ideológico.

Primeiro deve-se responder a seguinte questão (deontológica): as “pedaladas fiscais” são fatos graves o suficiente para cassar a Presidente da República? Relembre-se que a definição do que é grave ou não é uma decisão política e, portanto, depende de uma avaliação subjetiva. Nesta ponderação, o que está em questão não são os atos de corrupção deste ou daquele grupo político vinculado a Dilma, mas, a forma como a Presidente (somente ela) usou os recursos públicos.

No nível pragmático a reflexão é a seguinte: com a queda de Dilma e a ascensão de Michel Temer (e do PMDB) a corrupção tenderá a diminuir? Desta podem derivar outras perguntas: com Temer no Poder, Eduardo Cunha cairá? Como o PMDB manterá a “governabilidade”? Os arranjos que o PMDB realizará para mantê-la farão a corrupção diminuir?

Atenção! A opção: fora Dilma, fora Cunha e fora Temer não é factível. Não, ao menos, de uma vez só. Ou seja, a realidade posta, obriga que cada um pense no “menos pior”. A resposta, portanto, é um tanto especulativa e depende do grau de esperança que cada um tem nas instituições e nos referidos “atores”.

Terceiro ponto: a queda (ou a manutenção) de Dilma tenderá a gerar a estabilidade das coisas na política e na economia? Aqui a questão é mais ideológica: a) se Dilma ficar, o seu projeto igualitário de Estado interventor para a promoção das oportunidades dos menos favorecidos promoverá justiça e prosperidade? b) se Dilma cair, o projeto de Temer (que parece mais de direta) promoverá um pais justo e próspero por meio de mais liberdade econômica, menos regulação e maior atuação da iniciativa privada?

Aquele que responde todas as perguntas num mesmo sentido tende a estar mais “confortável” na discussão. É o caso de quem acredita que as “pedaladas fiscais” são graves, que o Governo atual é mais suscetível à corrupção e que a salvação do país está na direita. O contrário também se aplica aquele que se opõe a esta visão (as pedaladas são perdoáveis; outro Governo seria mais vulnerável a ilícitos; a esquerda é mais justa).

Alguns, para simplificar, podem encerrar a reflexão na questão pragmática. Quem acredita que este ou aquele grupo estará menos “vulnerável” à corrupção, não discutirá a questão em termos ideológicos (direita e esquerda), pouco importando o que virá pela frente.

Mas, a ponderação pode se tornar mais complexa quando se prefere um projeto mais igualitário, porém, acredita-se que os erros do atual Governo são imperdoáveis. O mesmo vale para o liberal que não acredita num Governo mais probo com Temer.

De toda forma, é importante de cada qual responda estas questões para si, e procure racionalizar o problema (ainda que isto seja muito difícil), para que não seja influenciado somente por soluções fáceis, normalmente, propagadas por aqueles que querem preservar um benefício atual, ou, vir a ter algum num eventual novo Governo.

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