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Uma das coisas que a escola ensina é que errar é absolutamente inaceitável (photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/25028863@N00/6449796821">NOV 2011 305</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>)
Uma das coisas que a escola ensina é que errar é absolutamente inaceitável (photo credit: NOV 2011 305 via photopin (license))| Foto:
Intervenção urbana que mostra o desenho de uma criança envergonhada sentada em uma banqueta com um chapéu pontudo indicando que ela é considerada burra

Uma das coisas que a escola ensina é que errar é absolutamente inaceitável (FOTO: NOV 2011 305 via photopin (license))

Todos nascemos com potencial criativo e produtivo.

A maior parte de nós, no entanto, tem essas capacidades podadas pela escola, justamente o ambiente em que deveriam ser desenvolvidas.

Até o dia do vestibular, ficamos quase 15 anos sentados, durante cinco horas por dia em uma carteira escolar.

Aos poucos, nossos impulsos – de sair correndo dali, de brincarmos, de aprendermos por vontade própria e de experimentar nossa própria versão do que seria a vida – são convertidos em uma anuência bovina.

Depois dessa década e meia – cuja fachada é ensinar temas voltados para o vestibular e outros sistemas de avaliação excludentes – a criança na verdade aprendeu o seguinte, por condicionamento:

1. Dedicar boa parte de seu tempo em uma atividade de que você não gosta é aceitável e é premiado: a criança é condicionada a ficar entre quatro e cinco horas de seu dia sentada aprendendo matemática num momento em que ela não quer aprender matemática, aprendendo português num momento em que ela não quer aprender português e ciências num momento em que não quer aprender ciências. Isso de forma estanque: como se português, ciências, matemática e história tivessem horário para terminar e começar. Os verdadeiros interesses do aluno, que poderiam ser aproveitados como motor do verdadeiro aprendizado, são totalmente ignorados. Na verdade, isso serve para condicionar a criança para a futura vida adulta, quando se envolver com trabalhos que não lhe interessam e que muitas vezes são insuportáveis terá de ser um comportamento aceitável.

2. Errar é inaceitável: o erro faz parte do processo criativo e, muitas vezes, pode ser assimilado à produção do conhecimento e até mesmo aos seus resultados. No entanto, as avaliações mais do que servirem de parâmetro para as metodologias de ensino – se estão funcionando ou não – e para o trabalho do professor – se está sendo capaz de ensinar ou não -, servem para dizer qual aluno é melhor e qual aluno é pior, quem é burro e quem não é, quem é digno de estar no ensino superior e quem não é, quem é dedicado e quem não é. Ainda que o conhecimento usado para avaliar “erros” e “acertos” seja tão aleatório e inútil como saber a diferença entre uma oração subordinada adjetiva e uma adverbial.  Trata-se de uma forma de condicionar a criança à futura vida adulta, época em que o esperado é que ela não experimente alternativas aos modos de vida mais normativos, pois errar é ruim e sempre é punido.

3. A autoridade está sempre certa: embora muitos professores estejam cientes de que não estão à frente da sala de aula para serem um canal para a verdade absoluta, ainda assim o modelo de ensino condiciona a criança a esse tipo de paradigma, em que uma figura representa a fonte de conhecimento e que isso basta. No futuro, ela estará menos propensa a buscar respostas por ela mesma às questões mais viscerais para sua vida. Não bastasse isso, muitos professores acreditam sim que são representantes da verdade.

Quando vemos tantas crianças com distúrbios de atenção e até revoltadas em sala de aula, cabe perguntar se são elas que estão erradas ou se todo o sistema de ensino é que está doente.

Escrevi de uma forma mais autoral sobre tudo isso no texto Fique Calmo! Tudo o Que a Escola Ensinou Pra Você! Confira.

Leia o artigo anterior sobre o tema: A Sombra Macabra do Vestibular.

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