Caco, o caracol

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Caco era um lindo caracol! Como não havia nascido na nobre família dos escargots, frequentou uma escola próxima ao seu local de nascimento e, ao crescer, foi “convidado” a morar em um vasto jardim para servir à cadeia alimentar.
Caco não tinha medo e adorava passear pelos jardins. Sem pressa alguma, ia caminhando lentamente por entre as flores e a grama, apreciando a paisagem e recolhendo pétalas.
Esse era seu hobby favorito! Gostava de analisar as cores, texturas e aromas tão diversificados do belo espaço verde onde residia.
Cada pétala encontrada era devidamente guardada na sua concha, mesmo aquelas que eram ásperas e venenosas. Mesmo aquelas que feriram seu manto. Ele entendia que tudo que vinha ao seu encontro era dele e assim, merecia ser arquivado.

Desenho de Laura Tegoni Hoepfner

O sonho de Caco era encontrar a flor de lótus. Segundo o que havia estudado na Escola Moluscos Gastrópodes, era a flor mais rara de todo o planeta, símbolo da pureza e perfeição caracolar.
E assim passavam os dias… andando e guardando, andando e armazenando, andando e acumulando…
Certafeita, acordou e começou a caminhada matinal. Ao longe, enxergou um brilho diferente. Primeiramente, julgou ser o reflexo de algum metal arremessado por algum vizinho danadinho. Como o brilho se intensificava, considerou a hipótese de estar errado e a curiosidade o invadiu!
Acelerou o caminhar na melhor velocidade que conseguiu. Sentiu-se lento pela primeira vez na vida. Aquela “mochila” nas suas costas nunca esteve tão pesada!
Depois de MUITO esforço, eis que o milagre se manifestou diante de seus olhos: uma flor de lótus. Inacreditavelmente, em meio a lama, nascera a mais bela flor do universo!

Desenho de Laura Tegoni Hoepfner

Ele não sabe quanto tempo ficou ali, inebriado com tamanha beleza e luz.
Quando voltou a si, olhou ao redor e viu, caída e reluzente, uma pétala lilás prateada! O item mais valioso para um colecionador de pétalas.
Ele se moveu em direção àquele tesouro e, do modo mais lento e delicado que conseguiu, pegou a pétala.
Porém, algo inusitado aconteceu… A peça floral não cabia na concha!
Ele virou, mexeu, apertou tudo que estava guardado lá, mas não havia meios de caber.
Ele ficou desesperado! Como assim? Ele acha um tesouro e ele não cabe no baú? Que “trolagem” da vida era aquela?
Em meio ao choro, uma nuvem se formou diante dele e no meio da nuvem, um caracol iluminado. Ele assim se apresentou: “- Saudações Caco! Sou o anjo guardião dos caracóis! E vim te ajudar!”
Caco coçou os olhos um no outro, porque não acreditava no que via.
Mas aquele anjo era real! E pensou consigo mesmo: “-Se não for real, o que tenho a perder se eu pedir a ajuda dele?”. Então cheio de coragem, pronunciou-se: “- Senhor anjo! Eu achei a pétala das pétalas e não consigo guardar na minha concha! Ajuda-me!”
O anjo sorriu e respondeu:”- Claro Caco querido! É simples! Precisamos nos libertar do velho para que o novo tenha espaço nas nossas vidas! Liberte-se de todas as pétalas que não tem mais serventia, daquelas que te lembram momentos de dor e queimaduras, daquelas que perderam a cor e o viço! Você tem todo espaço que precisa, basta se desapegar!”
E assim, como veio, sumiu em meio a névoa!
Caco exclamou:”-Claro! Como não pensei nisso antes!” E logo começou a selecionar as pétalas para descarte, algumas já amareladas e emboloradas.
Uma sensação de vazio se fez… um vazio gostoso, com cor de paz interior, cheiro de harmonia e gosto de liberdade!
Quando finalmente concluiu a tarefa, colheu a nova pétala, ciente que um dia, ela também seria devolvida a terra, numa reverência respeitosa ao passado e numa saudação festiva ao futuro!

Desenho de Laura Tegoni Hoepfner

Desejo, carinhosamente, que neste primeiro dia do ano, você possa limpar sua concha! Remova a pétala da mágoa pelo presente não recebido, da dor da partida de um amigo, da bronca que recebeu de um professor, da desilusão amorosa, do bullying que sofreu de um “escargot impiedoso” e do coração que entregou a uma borboleta que partiu sem a menor cerimônia.
Desapegue de tudo que não agrega valor à sua vida: roupas apertadas, sapatos gastos, bolsas sem zíper, malas sem alça e relacionamentos desgastados.

Abra espaço para este ano lindo que se inicia, permitindo que o novo invada, alegremente, a sua vida!

Um abraço forte!

Dani

* Meus agradecimentos a minha amada sobrinha Laura, que carinhosamente, topou o desafio de ilustrar este post!