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Primos unidos e felizes através do olhar de Olívia aos 8 anos.
Primos unidos e felizes através do olhar de Olívia aos 8 anos. | Foto:

Nos últimos dias tivemos uma avalanche de notícias sobre o jogo “Baleia Azul”, mas afinal o que é isso?

Trata-se de um jogo mortal onde crianças e adolescentes são instigados a executar tarefas como assistir filmes de terror, ouvir músicas melancólicas, mutilar-se e ao fim de 50 dias a última e mais temida das missões: o suicídio.  Os curadores do jogo exigem provas da execução das tarefas e ameaçam os participantes que desistirem das tarefas macabras. Esse tipo de desafio existe há muitos anos, porém, com o auxílio das redes sociais, jogos online e falta de vínculo familiar vêm ganhando força e novos adeptos a cada dia.

Como mãe também fiquei muito preocupada e conversei com meus pequenos: Lara, 9 anos e Henrique, 11 anos, ambos já tinham ouvido falar do jogo e sabiam exatamente como ele acontece.  O Henrique me deu sua opinião de forma muito clara para sua pouca idade: “Existe o jogo, mas uma criança não tenta jogar se estiver feliz. Eu acho que para ser atingido psicologicamente tem que ter doença, depressão. Só o jogo não mata!” E terminou: “depressão é doença né mãe?”  Tivemos uma longa conversa sobre a diferença entre tristeza e depressão, suas causas  e consequências e fiquei me perguntando: Quantas crianças tem a oportunidade de falar abertamente com seus pais? Qual o caminho para essas crianças e adolescentes?

Segundo Dr. Antonio Carlos de Farias, neurologista infantil do Hospital Pequeno Príncipe e doutor em neurociências, somente um bom vínculo familiar pode proteger adolescentes ainda imaturos para ponderar sobre emoções.  Claro que a vulnerabilidade para ansiedade e depressão e formação de grupos pela web torna este grupo mais suscetível. Os interesses em comum “viralizam” e nas escolas, por vezes, eles são levados por colegas a participarem destes jogos macabros. É preciso incentivá-los a dizer não! Os pais necessitam dialogar de forma harmônica com os filhos. Ponderar sobre projetos de vida que podem ser interrompidos e principalmente estar atentos a falta de motivação do filho para as coisas do mundo real. As demandas virtuais não podem se sobrepor as reais, se o filho prefere a web ao almoço com a família, ao cinema com os amigos, esquece de realizar tarefas escolares, algo deve estar errado.

A Marina Vidal Stabile é psicanalista da Quinta do Sol e há 20 anos atua em consultório e instituições psiquiátricas. Ela relata que com frequência seus pacientes falam da facilidade do acesso a este universo doentio que reflete o que há de mais macabro na mente humana: exposição ao suicídio (como jogo da Baleia Azul), ao controle e sadismo (como o jogo da asfixia), ao cutting como estilo de vida, a anorexia, o uso pesado de drogas, enfim uma infinidade de produções patológicas, desagregadoras e disfuncionais. Certamente tudo muito assustador. Mas há um senão muito importante nesta história que ela gostaria muito de dividir: é fato que nesses 20 anos de experiência não viu um único caso sequer de suicídio na adolescência que não tenha, antes de acontecer efetivamente, mostrado sinais disso. Em especial, a adolescência é uma fase da vida muito marcada por intensidade emocional, dúvidas, aflições, sofrimento, confusão, mudanças importantes no corpo, na mente, nos padrões de relacionamento. Neste momento, a fragilidade emocional e a dificuldade do adolescente em encontrar alguém com quem possa realmente conversar de suas dores emocionais, sentimentos, conflitos, angústias e medos e construir um caminho consistente para manejo e superação disto tudo podem deixá-lo numa situação de vulnerabilidade.

Esta vulnerabilidade se manifesta como mudança de comportamento, isolamento social, perda de amigos, diminuição do rendimento escolar, oscilações de humor, alterações do padrão de sono entre outros. E, neste momento, uma ajuda é extremamente bem vinda!

Por isso, vale nossa velha máxima de estarmos juntos, ligados emocionalmente em nossos filhos, atentos e disponíveis para suas necessidades, construirmos pontes para diálogo franco, honesto, amoroso. Se necessário, buscarmos opinião de um especialista.   Este é o maior fator preventivo que existe, não apenas para o suicídio como também para todos os demais transtornos emocionais.

A presença de celulares e tablets em reuniões familiares, restaurantes e festas é muito preocupante. Observe a sua volta e a si mesmo!

*cutting – comportamento atualmente muito encontrado nos adolescentes que cortam partes de seu corpo em busca de alívio emocional.

Por Danielle Kiatkoski

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