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Arquivo pessoal da autora
Arquivo pessoal da autora| Foto:

Saudações!

Neste último domingo escrevi um post sobre gordofobia. O eco foi enorme e fiquei bem feliz em ler as mensagens das leitoras.

Surgiram algumas dúvidas, as quais respondo por aqui, assegurando-me que fique acessível para todos.

Comecei a terapia pela primeira vez em 1998. Eu havia perdido meu emprego, engordado horrores, tinha um comportamento de extremo cuidado com minha filha pequena. O engraçado é que minha motivação para a ir a terapia não foi a minha infelicidade. Eu estava preocupada que a minha fobia de que algo acontecesse à Manu a afetasse de alguma maneira. Eu não conseguia deixá-la sozinha. Sempre tinha a sensação de que aconteceria alguma coisa ou que ela seria levada de mim. Suava frio, embolava o estômago com o coração e vivia neste inferno imaginário acompanhada diariamente pela ansiedade. Muitas pessoas faziam questão de jogar na minha cara que eu era louca, psicótica, superprotetora e que estava MUITO errada no meu comportamento. Assim, como eu não era uma “boa mãe”, fui em busca de ajuda.

Perceber o quanto eu projetava minha vida na deles e quanto havia esquecido de mim foi um choque. Mas pensei, bora lá… Tratei as questões em relação à minha filha e resolvi partir na maior aventura da minha vida: reencontrar a mim mesma. A primeira coisa que “saltava aos olhos”: eu não me aceitava gorda de jeito nenhum! E assim, amadurecemos, eu e o meu terapeuta, a ideia da cirurgia, porque eu sozinha, não dava conta.

Gente, eu rezei muito neste processo todo! Pedia a Deus, que se não fosse para fazer a bariátrica, que Ele me mandasse um sinal, que algo não desse certo ou que o convênio não aprovasse, enfim…O fato é que tudo fluiu maravilhosamente bem. Confesso que fiz tudo sozinha e escondida. Só comuniquei quando estava tudo certo e por conta daquela bendita hora que você tem que levar alguém da família para que a equipe conte todos os riscos que você corre.

Eu fui em busca de um milagre, na verdade. Eu queria emagrecer rápido e nunca mais engordar. E ai sim, eu reencontraria a Dani e seria feliz para sempre!

Buscava o milagre da aceitação. Queria ser aceita por todos como eu nunca houvera me sentido… Buscava a aceitação da Dani menina que não conseguia correr rápido, a aceitação da Dani adolescente que era somente a amiga dos meninos, a aceitação da Dani adulta que não achava roupas.

Buscava também, o milagre da paz… Queria poder comer em paz, o que eu quisesse, quanto quisesse e quando eu quisesse, sem ninguém para me recriminar e fazer aquela pergunta que eu mais odiava: e o regime Dani? Ou aquela clássica: Cuide-se! Você está engordando! (Só pra constar, a gente sabe que está gorda ou engordando e ficar falando de regime ou apontando para o nosso corpo não ajuda em nada! A gente tem espelho em casa, e pasmem, a gente se percebe gorda…)

Buscava o milagre da vitória contra a compulsão alimentar… Desde que me entendi por gente, a comida vencia todas as batalhas. Eu era uma perdedora.

Meu marido foi até a porta do hospital pedindo para eu não me operar. Tínhamos uma filha de 4 anos e ele jurava que me amava como eu era, com quase 120 quilos. Respondi que não bastava ele me amar, que eu tinha que me amar também e encarei a cirurgia. Cheguei a escrever uma carta de despedida, deixada aos cuidados de uma amiga, caso o pior acontecesse.

Como sou a mais sortuda das mulheres da face da Terra, fiz a primeira cirurgia dia 03 de janeiro. A dita passagem do estômago para o intestino ficou fechada e dia 06 de janeiro fiz nova cirurgia. Neste intervalo de 3 dias eu me arrependi ateeeeeeeeé o último…Porque eu tinha inventado moda? Porque eu não imaginei que ia dar complicação? Porque Deus tinha mandado o tal sinal atrasado? A sensação de ter errado na escolha aliada ao medo de morrer é uma sensação que não desejo ao meu pior inimigo. Meu médico, foi maravilhoso! Mega eficiente para identificar o problema, interveio de maneira primorosa.

Passada a tempestade, veio a bonança. Emagreci superbem e em 18 meses estava com o peso tão sonhado, tanto que abandonei a terapia.

E quando você emagrece a percepção do mundo sobre você muda. É um paradoxo estranho. Quanto mais você perde peso, mais ganha visibilidade. TODO MUNDO NOTA e comenta.

A gente vive um período de euforia e deleite. Elogios sem fim, compras e mais compras e o coração começa a ficar em paz. Afinal, você está finalmente magra! (ufa!)

Quando o peso estabiliza junto com sua vida, aquele bendito elefante que morava atrás da sua orelha, resolve aparecer de novo.

Ai você pensa: “wtf?”. Eu estou magra, usando manequim 40 e não estou feliz ainda? Porquê?

Naquela época, entendi que era minha plástica que faltava. Ai sim, seria plenamente feliz, pensei.

Neste meio tempo, a compulsão pela comida deu lugar a compulsão pela compra. Eu acreditava que era algo normal, afinal, eu não havia sentido o prazer de comprar roupas lindas e “de magra”. Gastei o que tinha e o que não tinha…(por isto a bariátrica NECESSITA de acompanhamento psicológico posterior, porque há o risco de trocar uma compulsão por outra(s)).

Olhava as roupas e me fazia aquela célebre pergunta: “Eu preciso?” e na mesma hora me respondia: “Eu não preciso, mas mereço”!

Decidimos ter o Lipe, que nasceu em 2003 e em 2008, quando ele já estava mais independente, pude me operar.

Fiz a plástica dos seios e do abdome juntas. Levei um mês para me levantar sozinha e tive aqueles ataques de arrependimento de novo. Mas no fim, adorei o resultado e pensei: agora sim, pode vir ó tal felicidade.

Como ela não veio e comecei planejar a próxima plástica, afinal, faltava ainda arrumar as pernas, o bumbum, os braços, as costas e a terrível papada.

Minha fada madrinha nessa hora, deve ter dado um berro comigo! E compreendi que o milagre que eu tanto esperava não aconteceria no meu mundo exterior…

Lembrei nessa hora que alguém, algum dia, disse-me algo que não compreendi: que a cirurgia não adiantaria de nada se eu não curasse o meu interior. Confesso que naquela hora pensei: CAPAZ! Eu já descobri que é só isso que me falta!

E então percebi que eu havia avançado muito pouco em relação a minha busca inicial: reencontrar a Dani. Caminhei poucos passos, na verdade.

É duro encarar que se esteve equivocada esse tempo todo… Descobri, a duras penas, que a tal felicidade, definitivamente, não está atrelada ao tanto de quilos que temos.

Descobri também que o milagre não existe…Você não consegue comer tudo o que quer porque “não cabe”. Tem que fazer escolhas! Se não fizer as escolhas corretas, ganha peso com muita facilidade! Engordei uns 10 quilos de lá para cá… A gente opera o estômago mas os olhos não. Olha e sente vontade de comer docinhos, salgadinho, besteirol “engordiet” como qualquer ser mortal! Compreendi que se a gente não mudar os hábitos e assimilar profundamente a tal reeducação alimentar, ganha peso de novo!

Arquivo pessoal da autora

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A bariátrica não é o fim, é um meio! Ajuda mas não soluciona. É uma peça importante mas não completa o quebra-cabeças sozinha.

De lá pra cá, fiz coaching, estou na nutri e na terapia de novo. Estas ferramentas têm funcionado comigo porque desenvolvi uma postura de autoobservação constante. Observo-me, acolho-me e procuro ir curando minhas dores aqui e ali.

Percebo-me em um processo de aceitação e construção do meu amor próprio! E vivo, um passo de cada vez, uma cura de cada vez e hoje, ela, a felicidade, é minha companheira de jornada! Anda lado a lado comigo em muitos momentos. Tem dias que ela abre as asas e voa para outras paragens… Sinto sua falta, mas aprendi que ela é assim mesmo, ora está aqui, ora vai visitar outras Danis e vivo, finalmente, em paz.

E só pra finalizar, como vocês sabem, eu sou doida por contos de fadas. Eles povoaram a minha infância e fazem morada no meu coração. Eu sonhava que um dia, minha fada madrinha ia aparecer e me transformar de uma gorda feia em uma princesa linda. E toda esta vivência, trouxe-me a maior descoberta que fiz nestes quase 45 anos de vida, que a nossa fada madrinha existe… Somos nós mesmas. Ela existe dentro de cada uma de nós! Só precisamos encontrá-la para que um monte de sonhos comece a se tornar realidade! Ela me ensinou a acreditar em mim!

Crédito: Gislaine Bueno

Crédito: Gislaine Bueno

Não desista de você! Você vale a pena e tem um universo lindo na sua alma, ansiando por ser descoberto e uma fada madrinha aguardando pra ser desperta!

Envio o mais caloroso e apertado abraço,

Danielle

#tamojuntas!

PS. E para você que tem filhos obesos, por favor, tome providências AGORA! Ajude seu filho neste desafio que pode deixar sequelas físicas e emocionais profundas! Não é frescura da criança e pode não passar com o tempo!

Por Dani Lourenço

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