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Physalis, um encanto de frutinha. E dá no quintal
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Magret de canard com molho de physalis e purê de batata-doce roxa. (Foto/ Anacreon de Téos)

A produção de physalis do latifúndio. (Foto/ Anacreon de Téos)

Tudo que encontro tento plantar no latifúndio. Muita coisa não dá certo, talvez por desleixo na hora de pôr na terra ou mesmo por incompatibilidade de ambiente. Mas de vez em quando me surpreendo com resultados positivos que vão até além da conta. E aí vejo a relação da planta com a terra, com o clima, com a vocação do local.
Foi a experiência que tive com a Physalis, por exemplo. Da primeira vez que vi imaginei tratar-se de fruta exótica. Afinal de contas, as caixinhas à venda lá no Mercado Municipal eram todas de origem colombiana e nada indicava haver algo parecido por aqui.
Daí a leitura me explicou que também era coisa nossa, brasileira. Tanto da Mata Atlântica quanto do Cerrado ou da Região Amazônia. E que era conhecida também como Juá, Juá-Poca, Camapu, Balãozinho ou Saco de Bode. Mas daí a ter produção própria foi uma grande diferença.
Começou com uma visita à casa de meu irmão, Fernando. No quintal dele havia um arbusto exuberante, em plena produção. De Physalis, para todos os gostos. Mostrei-me interessado e ele tratou de arranjar uma muda e algumas frutas para que eu aproveitasse a semente. Espremi, deixei secar um pouco a polpa e plantei numa caixinha de leite longa vida. E a muda que veio dele já chegou frondosa, prontinha para ser plantada. Dei um tempo, cuidei dela enquanto nasciam as minhas e levei-as todas ao mesmo tempo para o latifúndio.
Encontramos um cantinho e plantamos todas as mudas, cercada de cuidados com o vento e com a exposição ao sol (na casa do Fernando o pé fica encostado no muro, protegido, e foi nosso parâmetro). Tudo bem, todos os pés pegaram e dali uns tempos, quatro ou cinco meses, começaram a vir os primeiros frutos.
Foi aí que o caseiro exclamou: “era isso? Aqui tem em toda parte, vai tudo na roçada!”
Como assim? Já havia Physalis por lá e eu não sabia? Sim, havia. Aos montes. A recomendação, natural, ele já esperava. Que não mais se cortem os pés na roçada. Isso feito, os arbustos cresceram e hoje produzem o suficiente para abastecer a casa e forçar a imaginação para escolher o melhor uso dessas simpáticas, belas e saborosas frutinhas.
Comecei pelo mais simples, fazendo uma geleia. Não tinha muito, mas consegui fechar 250g da fruta, sem o invólucro charmoso. Na proporção de açúcar, uns 220g. Juntar os dois na panela, fogo brando e esperar dar ponto. Deixei passar um pouco, ficou mais para doce do que geleia, mas tudo bem, saboroso, o caminho é esse.
Daí veio a ideia. Se é uma fruta ácida – azedinha, como querem -, pode render uma boa caipirinha. Ops, caipirinha não, é só de limão e cachaça, a tradicional. Qualquer outra versão, na bebida ou na fruta, explicam os bartenders nos cursos oficiais, deve ser chamada de “stick”. Mas, a rigor, ninguém chama. Dei uma pesquisada por aí e encontrei boas dicas numa página só de caipirinhas da Cachaça Matriarca. Tinha de physalis, na medida que eu queria. Fiz e ficou muito boa. Mas muito boa mesmo.
Mas, irrequieto, ainda queria mais. Algo agridoce daria tão certo, imaginava. Foi quando veio o estalo: e por que não num molho para magret? Tradicionalmente o peito de pato é servido escoltado por um molho agridoce de frutas. Quase sempre frutas vermelhas e há receitas clássicas com framboesa, blueberries (mirtilos) ou morangos. Mas, voltando ao assunto da acidez, por que não de physalis? E aí soltei e imaginação, com base em tudo que já havia aprendido sobre os deliciosos nacos de carne – que estão entre meus favoritos de sempre.
A produção do latifúndio crescendo cada vez mais era a deixa que precisava. Prato de domingo, estava decidido. Daí foi só avisar na sexta o Dielson Schilipacke, da Casa de Carnes Pé de Boi (ou seria no Espaço Angus Prime, inaugurado há pouco tempo?), para tirar um magret do freezer e passar para a geladeira, para que o descongelamento ocorresse sem atropelos (sempre faça isso com qualquer congelado, nunca mergulhe em água ou use o microondas, o sabor e a textura jamais serão os mesmos).
O magret da Villa Germania, aqui de pertinho, Indaial, Santa Catarina, não deve nada ao que se tem lá fora. “Magret de Canard”, como diz na embalagem (para diferenciar o peito de pato nacional, bem menor), produzido a partir de matrizes importadas, da mesma linhagem de patos franceses ou canadenses. Uma caixa com dois peitos pesa R$ 1 kg, pouco mais que isso. E é suficiente para atender quatro pessoas em pratos bem elaborados.
Foi o que fiz, mas em receita para dois, para poder usufruir desse domingo saboroso, enquanto o calendário profissional ainda me permite. Tinha algumas batatas-doce roxas na despensa para um purê e contrastar a cor na apresentação final do prato (antes que me perguntem, tem na Banca do Mário, no mercadão). Daí foi só abrir um Bordeaux e curtir a vida.
Quer as receitas? Vamos lá.
Caipirinha de physalis
Preparo
Em um copo baixo de caipirinha, macerar:
8 physalis sem a folha
2 colheres (sopa) de açúcar ou a seu gosto
Macerar bem, completar com gelo e 60 ml de cachaça
Misturar bem no copo e, se necessário, adicionar mais gelo.
Decorar a gosto
Magret de canard com molho de physalis e purê de batata-doce roxa
Ingredientes
1 magret de canard de 500g
3 colheres (sopa) de manteiga
¼ de cebola picada
1 cálice de vinho branco
2 colheres (sopa) de açúcar
15 physalis, sem a capa e cortados ao meio
2 folhas de sálvia, picadas
Sal e pimenta-do-reino, moídos na hora
500g de batata-doce roxa
½ xícara de leite integral
Preparo
Aqueça o forno a 110ºC.
Cozinhe as batatas no microondas (por 3 minutos), ou no forno convencional, revestidas por papel alumínio, se preferir. Descasque, esprema e leve a uma panela com 1 colher de manteiga. Misture bem, junte o leite e deixe cozinhar por um instante.
Tempere com sal e pimenta-do-reino e reserve.
Corte os excessos laterais de gordura do magret e aprume-o em torno da carne. Faça cortes rasos na gordura, em xadrez.
Aqueça uma frigideira em fogo médio e, sem qualquer outra gordura, ponha o magret com a gordura para baixo, deixando tostar por uns três ou quatro minutos. Vire de lado e deixe por mais dois minutos.
Retire a peça de carne da frigideira, tempere com sal e pimenta e reserve-a no forno, enquanto prepara o molho.
Elimine o excesso de gordura da frigideira, deixando algo como 1 colher (sopa). Aqueça e junte a cebola, para murchar. Deglace com o vinho branco e deixe praticamente evaporar.
Adicione, então, a manteiga restante, deixe derreter e junte o açúcar e as physalis. Acrescente a sálvia, refogue tudo até que as frutinhas comecem a desmanchar e desligue o fogo.
Retire o magret do forno, deixe descansar por uns minutos até que os sucos se acomodem. Corte em fatias e ajeite no prato, despejando um pouco do molho em cima e acompanhando do purê ao lado.
Rendimento: 2 porções.
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