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Cinema na sala VIP, a experiência
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Nos guichês do Espaço Itaú de Cinema em Curitiba, um casal de idosos está prestes a comprar ingressos para Deus da Carnificina, novo filme de Roman Polanski. “São 32 reais”, diz a atendente. “Quê?”, retruca o senhor, assustado. “É que está passando na sala VIP. Daí é esse preço.” “Tudo isso? Servem aperitivo na sala VIP?”, brinca o cliente, antes de trocar a nota de vinte reais pelo cartão de débito, e enfim comprar os convites.
“Ainda não”, diz a atendente, com um estranho sorriso no rosto.

A sala 5 é uma das duas salas VIP do Espaço Itaú. Tem 39 lugares. São quatro fileiras de poltronas duplas e, no fim de tudo, no canto direito de quem entra, há um assento único, solitário — talvez a proporção entre casais e pessoas que vão sozinhas ao cinema não seja tão grande assim. Mas vá lá.

Hugo Harada

As poltronas são feitas de couro ecológico. Nelas, cabe uma pessoa gorda. Ao se sentar, o próximo passo é, sem dúvida, procurar desesperadamente pela alavanca que irá reclinar o assento. Ela está do lado esquerdo É um troço pequeno, de plástico. Só puxar e zapt!, a parte de baixo se transforma em um apoio de pés confortabilíssimo. Você se sente como se estivesse numa barbearia, esperando a toalhinha quente no rosto.

No meio das duas cadeiras há um braço que as divide. O apoio é um pouco maior e mais fino do que aqueles que existem em bancos traseiros de carros luxuosos. À altura do braço esquerdo, brilha uma mesinha de madeira, que gira em L. Ela é perfeita para receber uma pequena bandeja. Apesar de a pipoca pequena custar R$ 7, deve-se comer muito nas salas VIP.

Debaixo disso, também há um pequeno lixo de metal que alguém poderia facilmente confundir com um cinzeiro. De resto, tudo igual.

Divulgação
É mais ou menos assim.

“Pro tamanho da tela, achei nosso lugar longe”, brada a senhora, esposa do idoso que desembolsou R$ 16 por ingresso para ver o filme de Polanksi – o valor da inteira é de R$ 32, mas pessoas acima de 65 anos, crianças de até 12 anos e estudantes pagam meia-entrada.

Mas, como se esquecessem de tudo rapidamente, logo eles se rendem às benesses daquele espaço, estranhamente confortável e curiosamente intimista.

É porque a poltrona reclina, muitíssimo. Em sua horizontalidade total, a sensação que temos é a mesma de quando deitamos nos assentos de um ônibus leito. E há uma comoção estranha, uma intimidade que existe, mas não é compartilhada. Não se esqueça: há uma pessoa deitada ao seu lado, que pode até estar sem os calçados, balançando os dedinhos dos pés.

Parece que assistimos ao filme no conforto de casa, embora com algum estranho refestelado em sua sala de estar. Na sessão de Deus da Carnificina, numa tarde/noite de segunda-feira, eram 7 as almas VIPs.

Entrei em contato com a F&M Pro-Cultura, assessoria do Espaço Itaú de Cinema, para saber a quantas anda essa empreitada very important. Já vi muita gente reclamando de filmes que só passam lá – caso de Deus da Carnificina – e outros se surpreendendo com o preço dos ingressos, que varia de R$ 15 (meia-entrada às quartas-feiras até 15h30), a R$ 40 (valor da inteira para sexta, sábado, domingo e feriado). Não obtive resposta.

O Espaço Itaú de Cinema foi inaugurado no dia 30 de março, em “substituição” ao antigo Unibanco Arteplex. A proposta ainda é a mesma: mesclar filmes alternativos com blockbusters. Há que se lembrar que o complexo está no Shopping Crystal, um dos mais pomposos da cidade – então, se deparar com salas VIPs ali faz todo o sentido.

Confesso que assistir a um filme nestas condições especiais é bom demais. E também caro demais.

Conversando com amigos por aí, surgiram outras opiniões. Há os quase xiitas, que defendem que, para se ter a experiência do cinema por completo, muito conforto é um atrapalho. É preciso concentração e dedicação. Assistir a filmes na sala VIP, então, seria algo como estudar na cama.

Há os que não se importam e só querem conforto mesmo, quanto mais melhor. Estes estão só esperando os aperitivos.

E há os tradicionais-minimalistas, aqueles que se recusam a pagar tanto dinheiro por algo que podem obter por muito menos. Por exemplo, no cinema ao lado, ali no Shopping Novo Batel.

Eu penso assim: depende do filme e do seu estado. Se o sono bater, não tenha dúvida: a poltrona te engole e você dorme já nos créditos iniciais, mesmo vendo pezinhos balançando.

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