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Quase no mesmo tempo em que lançou o clipe para a música “I Couldn’t Reach You”, a banda Rosie and Me anunciou que estava interrompendo suas atividades. Foi no final do mês de novembro. O vídeo, gravado na cativante Witmarsum (PR) e bem dirigido por Caio Rubini, fez a banda, como se diz, “sair por cima.” Mas não porque estivesse por baixo.

2012 também foi o ano em que o grupo curitibano de pop-folk-country lançou seu primeiro disco, Arrows of My Ways. Apesar de ser muito fiel ao seu estilo e quase hermético na sonoridade a que se propõe, o melancólico álbum foi recebido com abraços e afeto do público. Basta lembrar do show de lançamento no Wonka, no meio deste ano.

Em julho, foi a vez da versão para “Ready for the Floor”, do Hot Chip, com a devida autorização dos britânicos.

Mas voltemos um ano mais.
Em 2011, a banda de Rosanne Machado (vocais/violão/banjo), Tiago Barbosa (bateria), Guilherme Miranda (baixo), Thomas Kossar (guitarra) e Ivan Camargo (violão) se apresentou no badalado festival norte-americano South by Southwest. Eles tocaram no mítico Hotel Café, em Los Angeles, um lugar que desde o início da década passada (2000 pra frente) é palco certo para bons artistas iniciantes e talentosos. Por exemplo: ao lado da Rosie and Me tocaram Rachel Yagamata e Elisabeth and the Catapult, entre muitos outros. Mas outro passo atrás, só mais um.

Em 2010, depois de gravar algumas músicas e lançar com sucesso na internet, a Rosie and Me jogou no mundo o EP Bird and the Whale. “Bonfire” é uma das melhores músicas da década entre as lançadas por bandas curitibanas, e, ironicamente, vai na contramão da delicada densidade que marca a sonoridade do grupo.

Foi por um triz que a Rosie and Me não acabou antes, durante um imbróglio envolvendo a gravadora Curve Music e um produtor. Passados os ressentimentos e prejuízos, o grupo avançou e se reergueu, como se comprova nos pequenos grandes feitos descritos ali em cima. Mas então, o que aconteceu?

Falei com Rosanne esses tempos, perguntei sobre o fim do grupo, e a resposta só veio agora. A demora foi justificada. “A princípio fiquei meio de pé atrás em responder, porque não sei ser política e tinha receio de chatear os piás falando sobre isso num lugar público. Pensando mais uma vez, vejo que não é nada de mais. No começo do ano, surgiram várias oportunidades que considero ‘grandes’ para a banda. Com isso em mente, houve entre nós um voto de compromisso para que investíssemos mais tempo e vontade no projeto para aproveitar ao máximo qualquer chance de crescer como grupo. Obviamente, algo deu errado. Ao longo do ano, nosso ‘pacto’ foi esquecido e algumas oportunidades foram perdidas por simples omissão.”


No texto que escreveu, Rosanne não parece amargurada ou ressentida. Pareceu sincera. No momento em que lia suas explicações, lembrei do show que fizeram, ou tentaram fazer, no Espaço Cult, também neste ano. Sua revolta foi prova da importância que a banda tem/tinha para ela; e prova do quanto o grupo se importa com seu público. Rosanne segue com a explicação.

“Acredito que uma banda deva ser unida e tocar sem pretensão, porque todos gostam do que estão fazendo. Quando percebi que não havia o mesmo comprometimento por parte de todo mundo, achei melhor deixar que os rapazes seguissem com suas próprias prioridades, já que isso afetava direta ou indiretamente a vida de todos (comprometer um ‘emprego regular’ por viajar para um show, por exemplo).”

Todos sabem que em bandas e relações amorosas, o que vale é a confiança, dedicação e a dose certa de compromisso, que muitas vezes se traduz em vontade. E como tudo — namoros e ensaios, casamentos e bandas — é feito de gente, que não está certa nem errada, muita coisa pode acontecer. Inclusive o fim de um relacionamento promissor (para uma das partes) ou de uma banda de relativo sucesso. Deixar um emprego regular em troca de uma banda é uma escolha. Tal qual, envolve muitos fatores e variáveis. Mas escolhemos as coisas da vida tanto com a cabeça quanto com o coração. Claro que bandas acabam também porque não têm espaço ou são muito ruins – e normalmente uma coisa tem a ver com outra. Ou ainda por falta de profissionalismo. Mas não foi o caso da Rosie and Me. Rosanne segue.

Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

“Desde que anunciei o fim da banda, tive que abrir mão de convites para tocar no Brasil e exterior, coisas que sempre foram grandes metas nossas. É triste a sensação de perder eventos tão legais por se tratar de algo que não depende só da minha vontade. Apesar de estar triste com a decisão, sinto que foi a mais responsável e justa.”

A Rosie and Me pode se gabar de, em seis anos de carreira, ter deixado um pequeno legado. Musicalmente, um folk curitibanamente cinza, que encontrou na voz especial de Rosanne Machado um megafone. No “réquiem oficial das bandas da cidade”, o da Rosie and Me foi em alto estilo, com um clipe de encher os olhos. Na lição para as que seguem ou passarão a existir, um lembrete: comprometimento e interesse, como deve ser quando você faz parte da vida de outra pessoa. E agora, o que resta? De novo, Rosanne.

“Não existem projetos específicos em que o pessoal esteja envolvido, a não ser pelo Thomas, que toca em algumas bandas gospel. Eu e o baterista continuamos a tocar juntos. Moramos perto um do outro e isso sempre fez parte de nossa rotina. Pessoalmente, só tenho a dizer que gosto genuinamente de tocar. Portanto, não pretendo deixar essa atividade de lado.” Há uma banda a menos em Curitiba.

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