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Trombone de Frutas: a banda mais sintonizada e nutritiva de Curitiba
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“Nos sigam. De bicicleta.”

Foi logo após o show do Siba, pernambucano que abriu a segunda edição do projeto Cultura na Rua, na Boca Maldita, em Curitiba, no sábado à tarde. A derradeira frase que a banda Trombone de Frutas soltou para aquelas trezentas pessoas é também definidora de uma coleção de pensamentos e atitudes que atinge seu ápice exatamente agora, ao encontrar a música, a arte.

Bruno Stock

Fotos: Bruno Stock

Vestidos como hippies urbanos (camisas chamativas, mas “aceitáveis” perante os olhos quem, por exemplo, caminhava pela XV e resolveu parar um pouquinho), o coletivo é uma espécie de símbolo bem acabado do que ultimamente está sendo discutido e pensado na cidade e, porque não, no país. É quase uma banda-manifesto, que troca atos por música e humor. Eles são a faceta prática de uma onda de pensamentos que, embora disforme, tenha seus representantes, por exemplo, nas Bicicletadas, na Marcha das Vadias, na opção vegetariana e, em último caso, na descrença de que tudo que importa nesse mundo é ter um emprego formal e um salário suficiente para satisfazer nossos mimos consumistas.

Bruno Stock

Cantam eles o amor (“agora abrace a pessoa ao seu lado”), a desilusão (“vai doer mesmo se eu falar de mim”), o bom gosto musical que acaba por servir de álibi para fazer o que fazem — a citação a “I Want You (She’s So Heavy)”, dos Beatles –, e uma ressonante ideia de libertação das amarras dos papéis e funções que exercemos na sociedade, isso em dois exemplos: “tira a mochila pra passear, tira pra ficar mais leve”, trecho da letra de uma das músicas; e um discurso proferido por Conde Baltazar, o vocalista, que em resumo foi: “encontrei um palhaço na rua e perguntei ‘o que foi, palhaço?’; um palhaço me encontrou na rua e perguntou: ‘por que você é só mais um?'”

O sexteto tem a bicicleta como meio de transporte principal. Alguns deles são vegetarianos. E formam uma banda, ora, que distribui frutas frescas para a sua plateia, o que simboliza ainda mais sua essência “natural” e orgânica, além de uma interessante inocência. E por tudo isso, eles sabem: haters gonna hate.

Se na teoria o grupo é perfeito, na prática não fica longe. Marcel Cruz, o percussionista, é conhecido por sua participação no bloco Garibaldis e Sacis – tem o samba na ponta das mãos. O baterista João Taborda é versátil ao extremo — o que mais chama a atenção, entretanto, é a proporção engraçada entre sua altura e o tamanho do seu cabelo. Rodrigo Ribeiro, o baixista, é reto e direto, apesar do suingue. E aí surgem as três figuras definidoras do Trombone.

Bruno Stock

Marc Olaf (piano, teclados e flauta) é um músico por inteiro. Toca tudo e tem cabeça de maestro – é daqueles que reconhecem os acordes de uma canção a quilômetros de distância, mesmo se o que ouvir for um assovio desafinado. Thiago Ramalho (guitarra) é técnica pura. Profissional do beatbox, recentemente ficou em 3.° lugar num importante concurso de pedais de guitarra, na California. No grupo Klezmorim, explode com o baixo. No Trombone, é o porto seguro instrumental. É a cabeça de todo aquele coração de frutas – semana passada o encontrei na rua, de bicicleta. Ele ouvia Radiohead. Conde Baltazar (seu nome verdadeiro é Alexandre Zampier) é um palhaço. Improvisa. Acerta. Faz rir. Erra. Não consegue fazer funcionar o lançador de confetes – esqueceu de retirar o lacre, mas afinal, as coisas no mundo não deveriam ser mais fáceis?

Indissociável do tempo em que vive, o Trombone de Frutas é substancialmente pós-moderno. Recorta pedaços de estilos e ritmos e os une. Quatro, cinco, em uma só música. Um rap improvisado (soava como o “russo ancestral” criado por André Abujamra) de repente dá lugar a uma valsa; a bossa nova, com flauta e tudo, irrompe em um rock Led Zeppelin clássico e classudo. É quase tudo ao mesmo tempo, o que às vezes mareia.

Bruno Stock

A Trombone de Frutas é mais que uma banda porque, de certa forma, representa os anseios de parte de uma geração. O que é um baita feito, principalmente quando encontra sintonia. Fora isso, faz um show dos mais divertidos. Porque me diga: em que outra circunstância há o risco de você voltar para casa com um mamão amarelo nas mãos?

 

 

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