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O apreço não tem preço
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Nos passos iniciais do Plantão de Estilo, dei uma remexida no baú da memória para despertar lembranças relacionadas aos sapatos, que foram ou são moda, acompanhantes de nossas jornadas, abrigos dos pés de valsa, mas também de doloridos calos e bolhas.A mineira Mary Figueiredo Arantes, a alma por trás da Mary Design – ou seria o contrário? Não tem como separar, neste caso, criatura e criadora –resgatou uma história sua sobre o assunto.

“ Você conhece o “salga-bunda”?, me perguntou em Belo Horizonte, no dia 28 de outubro de2011, sexta-feira, pouco antes do meio-dia no showroom de sua marca (“Meu Querido Diário”…). –“Não”, respondi segura de que a minha ignorância era totalmente justificada pela enorme distância entre Curitiba e a capital mineira. Ela me contou que este era o “apelido” de um calçado rudimentar feito de couro natural e solado de borracha. Inseparável companheiro de mineiros do interior em suas longas caminhadas entre um lugar e outro. Como percorriam caminhos lamacentos, o movimento dos pés jogava barro na parte detrás da calça. A “fragelada” (vem de flagelada?), como se referiam também ao sapato, era guardada cuidadosamente na bolsa ou sacola quando o último córrego separava o usuário do seu destino. Então ele lavava os pés, trocava o sapato sujo por outro limpinho.

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Lembranças alimentam o trabalho de Mary Figueiredo Arantes. Por cultivá-las, como riquezas únicas e compartilháveis, ela embalou o lançamento de sua coleção Inverno 2012, no Minas Trend Preview, num manifesto. Um apelo, um alerta, contra os tempos modernos de memória curta e passos apressados. Lembrar de uma história contada pelo seu pai – alfaiate modesto, morando com a família numerosa numa pequena casa azul, grudada no morro, numa cidadezinha do mineiro Vale do Jequitinhonha – tem tudo a ver com o conceito das peças apresentadas numa exposição no Museu de Artes e Ofícios, prédio histórico de Belo Horizonte.

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Para Mary, o apreço pelas memórias é o que move a criatividade, sendo estas pessoais, individualizam a produção.
E apreço não tem preço, embora acrescente incomensurável valor ao que se faz, como e com quem se vive. O apreço não tem preço, por exemplo, quando este une, tal qual fio invisível, pessoas de sentimentos e propósitos semelhantes. Nós fortalecedores e tramas estimuladoras – nada se rompe, tudo nos aproxima.

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O apreço não tem preço na parceria, ou melhor, na amizade costurada entre Mary e Nara Terra: há sete anos “elas tecem quilômetros de bijuterias”, que não são simples peças desenvolvidas para acompanhar às tendências da temporada. Colares, anéis, pulseiras, brincos contam histórias e resgatam memórias para dar vida longa a materiais que poderiam ser descartados, marginalizados e esquecidos. Renascem conduzidos por agulhas que seguem o movimento dos dedos e não o das máquinas. Mary sonha, Nara concretiza.

Alinhavos, tramas, fuxicos, bordados, linhas coloridas, cordas fazem parte dos ingredientes de uma receita que não poderia ir ao forno se fosse preparada apenas por duas ou quatros mãos. Necessita do sal e do açúcar que outras tantas mãos de artesãs, contratadas por elas, polvilham pelas peças em produção. Conscientização social, sustentabilidade? Naturais em quem bota o coração em cada pedacinho de tecido e em cada centímetro de fio, que tecem além de bijus, roupas e móveis.

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O Inverno 2012 de Mary Design marca o início de uma nova fase na vida de Mary e Nara: a coleção Por um Fio vem antecedida pela palavra DIARIAMENTE. O cotidiano da casa, e de quem mora nela, vive agora um novo tempo. Cadeiras, pufes, banquinhos, bolsas, anéis, pulseiras, brincos, colares, blusas, saias e vestidos nos envolvem num único e emotivo abraço. Com a logo Mary Design nas bijuterias e acrescido do Diariamente nos móveis. Um apreço que não tem preço!

INFORMAÇÕES EXTRAS
-Mary Arantes e Nara Terra estiveram em Curitiba em fevereiro de 2010. Realizaram duas oficinas de criação, na programação paralela do Paraná Business Collection. Uma delas usou o fio como condutor para despertar a criatividade e a outra, especialíssima, virou “lição de sensibilidade” ensinada pelas artesãs do Instituto Paranaense de Cegos, que compartilharam a experiência de “sentir” o que os olhos não captam.

-“ O apreço não tem preço” é frase cantada pelo MPB-4 na música Amigo é Pra Essas Coisas“, composta por Sílvio da Silva Jr e Aldir Blanc.

-Minas Trend Preview, 9ª edição, foi realizado de 25 a 29 de outubro, no Expominas, em Belo Horizonte, com o lançamento de coleções Inverno 2012. Na passarela, 20 desfiles e no salão de negócios 240 marcas de roupas e acessórios. Confira mais sobre o evento no www.conceitoatual.com.br

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