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Ao ataque
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Texto originalmente publicado no domingo (17) no caderno Viver Bem, da Gazeta do Povo.

Felipe de Lima

As colegas de trabalho há tempos comentavam. Bonito e bacana daquele jeito e sozinho? Casado não era. Nem noivo. Nenhum sinal de aliança na mão. Namoradas também nunca foram vistas. Flertes? Nenhum. Cogitou-se a possibilidade de ele ser gay. Mas se fosse, teria de haver os mesmo indícios que há em um relacionamento heterossexual. E nada de nada.

Messenger, Facebook, Twitter ou qualquer outra rede social nem pensar. Do contrário, alguém, pelo menos algum dos amigos mais próximos, o teria adicionado nos respectivos contatos.Mas nem tão insensível assim era o sujeito. Afinal, tudo isso era justamente em decorrência de uma paixão. Sua única e verdadeira paixão: o futebol. O mundo da bola tomava completamente a vida dele quando não estava trabalhando.

Ia a todas as partidas de sua equipe. Fosse onde fosse. Vivia viajando para ver as partidas. Havia também as reuniões semanais às sextas-feiras do conselho do clube, do qual fazia parte. O sábado era reservado ao trabalho voluntário: ensinar futebol a crianças carentes de uma escola pública da periferia.

Ela achou engraçado essa história de ele ser tão cobiçado e estar sozinho. Bem como o fato de ser tão fanático por futebol. Simpatizou com o rapaz certa vez que ele abriu a porta do escritório para que ela passasse. Foi ali que decidira tirar a limpo essa história de que ele só amava o futebol.

Comprou o plano de sócios do clube para ir aos jogos. Sempre ficava perto dele no estádio, fingindo um encontro casual. Gastou uma boa grana na camiseta do clube, na faixa de cabelo do clube, no boné do clube… Até calcinha do clube comprara pensando no momento a sós com ele.

Passava o jogo inteiro jogando charme. Tentava cruzar a barreira da indiferença com indiretas de todas as formas. Mas o assunto sempre recaía sobre o rendimento de algum jogador que ela não tinha a menor ideia de quem era.

Houve dias em que chegou a apelar a decotes ousados – com a blusinha comprada na loja oficial do clube, é claro. Tudo completamente ineficaz. Nunca conseguia chamar mais a atenção dele do que o futebol.

Até o dia em que se enfezou e partiu para o ataque de vez:

– Me diz uma coisa, você só pensa em futebol o tempo inteiro?

Ele pensou, titubeou, e respondeu sem jeito.

– Na verdade, não.

– E no que mais você pensa, além do futebol?

– Em você! Quer ver o próximo jogo lá em casa?

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