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Pinguim inconformado
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Crônica originalmente publicada no caderno Verão da Gazeta do Povo deste sábado (29).

Felipe Lima / Gazeta do Povo

Não que eu queira bater de frente com os biólogos, que são quem realmente manjam desse negócio de flora e, no caso em questão, fauna. Mas nada me tira da cabeça que esse pinguinzinho que veio parar aqui em Caiobá há coisa de duas semanas estava mesmo era a fim de curtir.

Tudo bem e vá lá: eu até aceito a teoria de que o bicudinho veio parar no nosso Litoral trazido por alguma corrente marítima em que ele não deveria ter se metido. Mas daí a me dizer que isso não foi intencional, rá, aqui, ó, Juvenal!

Antes de mais nada, façamos uma análise detalhada do perfil do pinguim. O dito-cujo tem bico. Tem pena. Tem asa. Faz ninho. Bota ovo. Mas não voa!

Em bom português, depois do avestruz e da ema – que tenho para mim que também aparecerão algum dia na praia, de preferência numa daquelas tardes bem tranquilas de réveillon ou carnaval – nunca houve na história desse mundão uma ave mais esquisita e troncha do que o nosso amigo pinguim. Nem o urubu, um dos bichos mais horrorosos de toda a espécie animal, é uma ave tão estranha quanto o inimigo do Batman.

E aí é que mora a questão: alguns pinguins têm um sério complexo de inferioridade por não voarem. A maioria resigna-se com essa condição. Aceita numa boa e toca a vida adiante, correndo daquele jeitinho sem jeito e nadando atrás dos peixes como dá. Mas sempre há os revoltados, os que não aceitam a sua condição de pinguim.

Como o nosso amigo de Caiobá, que, descontente com a migração mixuruca que a espécie dele faz, resolveu dar uma de andorinha, que viaja milhares e milhares de quilômetros lá do Canadá até o Brasil varonil só para fugir da friagem e pegar aquele bronze que só os trópicos proporcionam.

E é nessa hora que, a exemplo do nosso amiguinho de Caiobá, que vários pinguins inconformados se jogam de corpo e alma ao mar, dispostos a enfrentar as mais fortes tormentas só para garantir alguns dias de descanso à beira do mar de uma praia de verdade, não aquela coisa sem graça do Polo Sul.

Um ato de coragem, sem dúvida, cuja aventura só perde para a migração de outra espécie também um tanto o quanto inconformada com a sua condição de bípede: os seres humanos, que se metem em congestionamentos quilométricos de horas e horas só para dar o ar da graça na praia mais próxima.

Por isso me solidarizo com você, meu caro pinguinzinho inconformado. Porque esse negócio de não podermos voar é mesmo uma tremenda sacanagem.

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