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Banda Expresso Vermelho (foto: arquivo da banda)

Banda Expresso Vermelho (foto: arquivo da banda)

A cultura de outros países, estados e até cidades é sempre mais valorizada do que a produzida localmente. Quando falamos de bandas essa porcentagem sobe então consideravelmente. Não que a qualidade tenha alguma relação com essa medida, talvez seja algo cultural, talvez seja algo impensado, o fato é que precisamos encontrar um meio de mudar essa visão primitiva. Curitiba tem a fama de ter cidadãos frios e calados, mas em contraponto tem um rock quente e perturbador. A cada esquina pode-se encontrar tal pessoa que é amiga de fulano que tem uma banda de rock. No meio de toda essa produção local começo falando de uma banda chamada Expresso Vermelho.

Com o nome inspirado na linha curitibana de ônibus a banda formada em 2011 já passou por reformulações até se consolidar no trio atual que se apresenta no formato baixo, teclado, guitarra e um baterista convidado. O primeiro trabalho foi um EP com seis faixas chamado de “Caos” e agora em setembro desse ano saiu o primeiro disco completo da banda que foi intitulado de “UM”.  Com riffs rápidos, e uma cozinha cheia de groove Paranóia vem dar as caras como a primeira faixa do disco em uma daquelas histórias em que a mulher faz o cara correr atrás dela, cabe ao ouvinte decidir qual é esse tal vôo que eles insistem em temer.

Sempre gostei de vocais limpos sem muitos efeitos, mas na faixa “Eu não preciso de você” o drive encaixou muito bem. Num jogo de dúvidas e amores o personagem dessa faixa não sabe se quer, ou não, viver o tal amor anunciado, por mais que reafirme a todo instante o grudento refrão titulo da música. O teclado sessentista dá as caras com força total mostrando que nem só de cordas é feito o rock. Em seqüência o ouvinte pode dar uma respirada e ouvir a lenta e bem trabalhada “Libertina”, diria eu que se juntássemos uma pitada de Los Hermanos[1] com um quê de Skank[2] sairia assim. Com um vocal mais grave que as anteriores Jimmy Reuter tenta nos explicar do que é feito o amor. Quando a música é mais lenta é que fica possível identificar a capacidade dos arranjos.

“O que você me fez” vem em seguida e é o ápice para Dudu Drewinski, o responsável pelos teclados e sintetizadores da banda. “Medo e delírio” é o que senti ouvindo a quinta faixa do álbum, o solo é daqueles que você coloca no modo repetição e consegue imaginar uma paisagem ao seu redor, peso na medida certa e alterações repentinas de ritmos, grande sacada.

A primeira música que ouvi do disco “UM” foi “Estrada Errada”. A sexta faixa do álbum é a marca registrada e se ainda não for deveria ser a música de trabalho da banda. Com um verso tranqüilo a musica parte de uma melodia grudenta para um refrão gritado que não deixa a desejar pra nenhum roqueiro de plantão. Simples, rápida e cheia de recado pra dar. A seqüência se dá com “Maquina de Guerra”, a primeira composta em parceria com os outros integrantes da banda. A música que fala desde o sofrimento dos negros e índios até a salvação prometida pela fé monetária das igrejas tem o suingue recorrente no disco. Como é agradável ao ouvido o som da guitarra strato com cordas novas, da um brilho difícil de ser explicado.

Livre de nós dois poderia ter uma equalização que favorecesse um pouco mais o vocal que ficou um pouco escondido atrás da guitarra que em partes segue a mesma melodia da voz. Ponto positivo para o slide, os sintetizadores ao final da música, e a jogada com o stéreo. Quando li o nome da nona música do disco logo pensei se tratar de uma declaração de amor pra uma tal “Lili”, ledo engano, a música fala do sol, de caminhar mais devagar, e daqueles que mentem, são mais divagações do que conclusões, Mauricio mostra o poder do seu baixo com linhas hora marcantes hora livre, e o final novamente é interessante com sintetizadores, loopings e viradas de bateria. “Sangue e petróleo” mostra a juventude rebelde presente na banda quando critica a sociedade que vive a base de água e óleo.

A última faixa inédita e penúltima do disco é uma pancada. Intitulada “Telefone Ocupado” tem momentos de atenção para todos. Quase aos 2 minutos de música a bateria da uma aula de ritmo e pegada, na seqüência o baixo e teclado se unem em um desafio de timbres e harmonias único. A guitarra permanece durante a música toda flutuando por linhas da imaginação de Jimmy Reuter. Finalzinho bem sacado do teclado imitando o som do telefone ocupado. O disco termina com a faixa bônus chamada de “Caos”, numa interpretação livre porém certeira. Enquanto Reuter brinca com a voz Dudu o cerca de dedilhados num piano com um timbre quase erudito. Essa que é a única faixa sem bateria do disco traz um violão de aço muito bem equalizado, a letra fala do Caos que é a vida enquanto se tenta amar e dos copos de cerveja.

“Um” é um disco muito bem produzido e equalizado e nos mostra que a Expresso Vermelho tem o seu lugar no meio das milhares de novas bandas que surgem por aí. Não há nada dessa geração criada em apartamento no som dos caras, é rock ‘n’ roll, psicodélico, folk e até romântico sem ser brega. Com esse disco de estréia Jimmy, Dudu e Mauricio mostram que tem grande qualidade musical e profissionalismo. Seu material gráfico é bem produzido e seus contatos são fáceis de encontrar, ponto fundamental para bandas de hoje. Sigo ansioso para ouvi-los ao vivo e mais ainda para ver o que virá a seguir.

Confira o novo álbum da banda:

 

John Barba, autor da matéria, é músico, compositor, estudante e professor. Vocalista das bandas Filhos da Lidia e Ervilhas Astrais, atua ainda como violonista na Orquestra Latino Americana da Unespar.


[1] Banda de rock nacional dos anos 2000 que teve grande repercussão entre o público jovem. (site oficial)

[2] Banda mineira de pop rock de grande sucesso até hoje, ficou marcada por utilizar metais em suas músicas. (site oficial)

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