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Antidiva por opção, Karine Alexandrino tomba em cena alternativa de Curitiba e causa furor na Casa Selvática (foto por Nicolas Gondim)

Antidiva por opção, Karine Alexandrino tomba em cena alternativa de Curitiba e causa furor na Casa Selvática (foto por Nicolas Gondim)

No último sábado, 24/04, Curitiba recebeu a cantora e performer cearense Karine Alexandrino, que veio a cidade lançar seu terceiro CD, “Mulher Tombada”. O pocket-show “Sucesso é para os fracos”, aconteceu na Casa Selvática, reduto da cena LGBTS alternativa de Curitiba, e causou impacto a quem assistiu a performance única e cheia de personalidade da artista.

Karine é conhecida e amada no universo gay há pelo menos 20 anos, desde suas primeiras performances encarnando a persona Mulher Tombada, uma crítica profunda aos discursos feministas mais propagandísticos de si e ao machismo velado de todas as relações.

Ela não se identifica com nada disso. E sofre e se salva na ironia. Para ela, todos os discursos que sintetizam as angústias da maioria calam as nuances trazidas apenas pelo individual. A cada performance, se propõe a dar voz apenas à experiência dela própria, mulher que tomba sim, mas se levanta, pois sabe: “Do chão não passa”.

“Se não for sincero não quero! ”

Fênix única, Karine se assume uma antidiva endividada; gosta do público seleto que a segue, não pretende ser a nova voz ou o novo rosto de qualquer modismo musical. Ela se coloca à margem, de propósito, e sabe o preço que paga por isso.

Com “Mulher Tombada”, ela fecha a trilogia que conta com os álbuns “Solteira producta”, de 2002, e “Querem acabar comigo, Roberto” (2004). É perceptível e contagiante sua abordagem do feminismo na Práxis, seja nas letras, seja nas quedas que performa a cada vez no palco: mímese da reinvenção de si e da condição que carrega desde o nascimento, afinal, ser dura na queda é atributo necessário à mulher.

Ela coloca Hemingway em seu devido lugar, e diz que “Zelda não morreu, quem morreu fui eu”. Faz de seu corpo uma plataforma de experiência feminista: com collant cravejado de lantejoulas, peruca extravagante, brinca de ser Barbie e imperfeita; sexualiza com a falta de voluptuosidade de seu corpo; com erotismo, escancara a costela de Adão. “Kiss kiss kiss”: ela oferece a própria pele, “mas não pode correr sangue”, diz em outra música. Rima, angustiada: “Mulher tombada/ a eterna luta entre o salto e a escada”. Em “Meu nome é igual”, lembra: “O presente dela é cheio de dúvida/ com um marido mal escolhido/ (sou feita para o amor) ”. Experiência própria.

Sua performance ainda alerta, de modo autêntico, o fim não tão próximo do machismo, e expõe o paradoxo de se dizer feminista: “Não li Simone de Beauvoir, ainda. Estou com algumas leituras atrasadas, mas acho, por experiência, que a gente vive sobrecarregada, desde o nascimento: não basta ser mulher e representar esse papel na sociedade, ainda tem que evidenciar essa situação, ser sozinha e guerreira. Acho que há muito discurso sobre o feminismo, devemos nos calar. ”

Ao dizer isso é notável a melancolia imensa que carrega por todas as vozes silenciadas. Ao dar voz a si mesma, pelo nonsense performático e pelo discurso que expõe as vísceras de suas vivências, Karine acerta em cheio esse público colocado à marginalidade de toda a discussão e hashtags reducionistas. Sucesso é para os fracos, forte é quem consegue aceitar suas fraquezas e dúvidas, é quem se mantém absolutamente sincero nas suas relações.

(Por Luciane Alves)

 

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Ouça o trabalho de Karine Alexandrino no Soundcloud:

Clipe Mulher Tombada:

Clipe Se Não For Sincero, Não Quero:

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