• Carregando...
Um conflito com bases tão complexas como o argumento da existência de Deus.

Duas visões de um mesmo conflito.

Os dois textos abaixo fazem parte da iniciativa de fomentar o debate academicamente a partir da colaboração de dois intelectuais que merecem as minhas mais sinceras homenagens e agradecimentos por aceitarem colocar suas ideias à prova e a debate.

Dois mundos absolutamente diversos, duas visões divergentes que abordam sensivelmente a mesma tragédia humana. O primeiro texto foi escrito pelo internacionalista e empresário Bruno Maggi Pissollo e o texto imediatamente posterior foi a excelente percepção do Professor de História do Direito da FIEP Victor Hugo Domingues. Contribuam, comentem e fomentem o debate. Obrigado Bruno! Obrigado Victor!

 

Vamos aos textos.

 

Israel não deixará de existir – por Bruno Maggi Pissollo

O Estado de Israel, criado logo após a segunda guerra mundial, no que era até então domínio do império britânico, nunca foi reconhecido como Estado com direito a existir pela maioria dos palestinos e árabes. Logo após sua criação todos os seus vizinhos declararam guerra a Israel, visando destruir o Estado judeu, porém, surpreendentemente, Israel sobreviveu. Passado os anos e muitas guerras Israel assinou acordos de paz com alguns países vizinhos, como Egito e Jordânia, devolvendo territórios que havia conquistado destes países em troca do reconhecimento do Estado judeu. Israel reconhece o direito de existir um Estado palestino, porém os palestinos não aceitam o direito de Israel existir e respondem a todas as tentativas de paz com mísseis, sequestros e homens-bomba.

O fato é que Israel não vai deixar de existir, não há como voltar atrás do que já foi feito, o Estado judaico continuará existindo, com ou sem guerra. Por outro lado o Hamas (grupo terrorista palestino) só pode existir com guerra, uma vez acabado os conflitos acabaria também o próprio Hamas, o qual o único propósito de existência é atacar Israel.

Caso Israel parasse de se defender, continuaria sendo atacado pelo Hamas e outros grupos terroristas, porém se os palestinos parassem de atacar Israel e se concentrassem na criação de seu próprio Estado, haveria paz, como de fato houve paz entre Israel e Egito por exemplo.

Não faz sentido algum que Israel tenha interesse no conflito, porém também não faz sentido algum que Israel deixe de se defender, o Estado não pode se acovardar diante dos ataques sofridos, precisa defender seus cidadãos e seu país, pra isso precisa atacar o Hamas, desmantelando e enfraquecendo esse grupo ou o mesmo pode se tornar mais forte e colocar em risco a integridade do Estado judeu. Não existe negociação com o Hamas, é impossível negociar com um grupo que declaradamente alega que o motivo de sua existência é acabar com Israel, sendo assim quando existe momentos de trégua, estes momentos só servem para o Hamas se recuperar e voltar a atacar. Além disso, o próprio Hamas declara abertamente que utiliza escudos humanos para defender seu arsenal. Milhares de pessoas são obrigadas a defenderem armas do Hamas com sua própria vida, resultando assim num grande número de mortos do lado palestino.

Pense bem, o que Israel ganharia matando civis palestinos? A única coisa que ganharia seria a antipatia internacional, o que já acontece, porém quando pessoas são mortas do lado palestino o objetivo é desestruturar o Hamas, já quando há mortos do lado judeu, eles podem ser qualquer pessoa, o único objetivo é matar judeus seja lá que for. Israel é o único Estado democrático no oriente médio, é tão democrático que em seu próprio parlamento existem árabes muçulmanos (em 2013 eram 8 deputados de dois partidos). Aproximadamente 1/5 dos israelenses são árabes muçulmanos e esses tem os mesmos direitos e deveres de qualquer israelense judeu. Porém essa democracia, direito das mulheres e de homossexuais etc, incomoda muito os muçulmanos mais radicais, os quais não conseguem conviver com valores democráticos ocidentais e resistem a isso com morte.

 

Os “intelectuais” ocidentais e o conflito árabe-israelense – por Victor Hugo Domingues.

 

No livro “Os Intelectuais e a Sociedade” Thomas Sowell inicia seu prefácio chamando a atenção para o fenômeno caracterizado pela – cada vez mais crescente – influencia dos “intelectuais” no mundo contemporâneo, e como esse fato se materializa nos países onde esses “pensadores” gozam de grande liberdade para exercer seu prestígio opiniático, mesmo a contrassenso dos valores fundamentais das modernas nações ocidentais.

Nossa cultura social e política tem a genética moral fundida na religiosidade judaico-cristã, no direito romano e na filosofia grega clássica. Por mais ateu, criminoso ou sodomita que qualquer indivíduo nessa sociedade possa ser ou parecer, um traço indistinguível que nos conecta enquanto sociedade é a partilha de valores comuns, mesmo que inconscientemente.

Somos o que somos por nossos valores ocidentais, e não por qualquer outro devaneio utópico progressista. Longe de qualquer proselitismo conservador ou moralista, nossos valores ocidentais forjaram aquilo que hoje chamamos de “conquistas da civilização”. A autodeterminação individual, a tolerância e o respeito ao próximo e, sobretudo, a democracia, provém de origens históricas paralelas ao nascimento do mundo ocidental. O livre arbítrio – apanágio ideológico de 100 em cada 100 manifestações de rua – já era previsto em inúmeras passagens bíblicas do velho testamento, sem nunca ter quebrado uma vidraça sequer. Em tempos de feminismo de boutique, nunca é demais relembrar o destacado papel das mulheres na sociedade judaica, sem as quais o homem nunca poderia atingir seu estado de completude existencial, alcançado logicamente com a instituição do casamento e a formação da família.

Nada disso parece demover os “intelectuais”, e seu posicionamento antissionista, acerca do conflito Israel-Palestina. Para nossos “pensadores”, é insignificante que Israel, um pequeno país rodeado por 22 estados árabes hostis, que até hoje não reconheceram a divisão proposta pela ONU em 1947, seja o único país realmente democrático na região, com sólida organização partidária, tolerante – vejam vocês –, até com o antissemitismo praticado por judeus dentro do seu próprio território.

Para os nossos “pensadores”, as penalidades impostas pelo sistema jurídico israelense aos judeus que mataram árabes por vingança, com drásticas penas de prisão, não são provas suficiente de civilização. Sequer o Estatuto do Hamas, que menciona expressamente a eliminação total de Israel do mapa, numa política chamada internamente de “judeus ao mar”, parece causar o mínimo assombro aos nossos intelectuais.

A depender dos tutores das consciências alheias, Israel deverá desativar seu sistema antibélico para receber, com paz e amor, os mais de dois mil mísseis lançados pelo Hamas, e finalmente equalizar o número de vítimas do “lado de cá do muro”. Para os pastores da razão essa seria a demonstração de humanidade capaz de por fim ao conflito. Historicamente o discurso antissionista não exige muito discernimento, basta olhar para trás.

E se existe uma única – não menos fundamental – razão para que os não judeus se importem com conflito no Oriente médio é a manutenção dos valores ocidentais.

O primeiro e mais valioso de todos é a tolerância. E ela começa com a aceitação do Estado Judeu de Israel, reconhecido há tempos pelas Nações Unidas. Aliás, a soberania externa enquanto elemento do Estado moderno se materializa na resposta às ameaças ou agressões estrangeiras, sobretudo quando o objetivo único do “estrangeiro” é a eliminação total da sua comunidade.

Democracia, liberdade de pensamento, autoderminação individual ou mesmo livre-arbítrio, não são ideias familiares a quem costuma dispor da vida em nome de uma causa, seja ela qual for, mesmo que “santa”, como pregam os iluminados do Hamas e endossam bovinamente os “intelectuais” ungidos da nossa tão frágil ocidentalidade.

 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]