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Se a gente fizesse uma lista das personalidades mais controversas da literatura brasileira, acho que Monteiro Lobato estaria no topo dela. Apontado por muita gente como racista e com padrões conservadores e retrógrados, o pai da Emília, do Visconde e da Tia Anastácia tinha convicções, que, com muita frequência, são objetos de análise e crítica.

Mas o grande mérito do escritor fica por conta de seu vanguardismo na produção literária nacional para crianças. Pelas mãos de Lobato, passaram mais de 40 obras infantis, entre traduções, adaptações e criações próprias, como Emília no país da Gramática e Reinações de Narizinho.

O paulista de Taubaté, que nasceu em 1882, fazia aniversário no dia 18 de abril. É por isso que, hoje, para homenageá-lo, se comemora o dia nacional do livro infantil.

O autor que impulsionou a produção literária para a meninada no Brasil deu a primeira e última entrevista para o rádio em 1948, ano em que morreu. No áudio, gravado em seu gabinete de trabalho, é possível conhecer seu jeito de falar meio seco, muitas vezes rude, que se quebra apenas quando a conversa se trata da admiração de seus pequenos leitores. “O numero de cartas de crianças que eu recebo e a sinceridade do que elas dizem me fazem crer que se eu vivesse de novo, voltaria pelo mesmo caminho”. E, com delicadeza, complementa: “As crianças me condenam porque eu escrevi pouco para elas. Eu deveria ter escrito muito mais”.

Sua pouca familiaridade com o microfone, ao qual Lobato apelida de “canudo”, é um detalhe engraçado. Ele parecia nervoso ao ser entrevistado. “Os assuntos são infinitos, mas quando chega na hora de agarrar um e falar no rádio, é muito difícil”, brincou.

Pelo visto, assunto não foi o problema. Na entrevista concedida ao jornalista Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, Monteiro falou sobre política, petróleo, desconfiança, cautela, seu amor por pamonha e, muitas vezes, cortou o bate-papo pela metade, como quando foi perguntado sobre o que o inspirou a criar suas personagens infantis. “Eu não me lembro mais como é que surgiu. Faz tanto tempo!” E desconversou “Eu queria que o radiologista, radiólogo, não sei o quê, fizesse uma pergunta menos pessoal, menos próxima. Isso tá muito esquisito”.

Queria contar como termina a entrevista, mas, como sei que vocês não gostam de spoilers, vou deixar que descubram. Vale a pena ouvir as três partes do áudio 🙂

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