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O menino mais falante e curioso das tirinhas brasileiras se aprumou todo para vir hoje à noite a Curitiba lançar seu novo livro. Vestiu touca, blusa, cachecol e confessou ainda não ter certeza se estava preparado para o frio. Ao que tudo indica, ele não tem com o que se preocupar. O que não vai faltar é uma recepção calorosa para ele e para seu criador, o desenhista catarinense Alexandre Beck.

O evento no Facebook, que convida todos a prestigiá-los nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação, às 19h30, está super movimentado há mais de um mês e já ultrapassou mil confirmações.

De acordo com a livraria, o autor decidiu chegar mais cedo para atender a essa demanda e a partir das 16h00 começará a autografar livros.

Em entrevista para o Rodapé, o desenhista falou do trabalho mais recente, nos contou sobre sua rotina, revelou algumas de suas influências e adiantou que já está traduzindo algumas tirinhas para o espanhol. Vem ver!

Sua primeira formação é Agronomia. O que te levou para o mundo do desenho?
O desenho sempre esteva comigo, e me acompanhou nas graduações de agronomia e comunicação social. Em 2000, vi um anúncio de vaga para ilustrador no jornal Diário Catarinense. Levei meus desenhos, passei por um processo seletivo e fui trabalhar na redação.

Como e quando surgiu a ideia de criar o Armandinho?
Não foi exatamente de uma ideia, mas de uma “emergência”. Precisava fazer três tiras para ilustrar uma matéria que seria publicada no dia seguinte, sobre como pais e filhos poderiam lidar com economia doméstica. Os personagens que eu fazia na época não se encaixariam no que eu precisava. Então busquei uma ilustração de um menino que eu tinha pronta, e desenhei pernas para representar os pais. Eu gostei do resultado, da praticidade e da forma de abordagem, e meses depois substituí a tira que fazia no jornal pela do Armandinho.

Qual foi o momento em que você percebeu que o personagem se tornou um grande sucesso?
Ele começou a ficar conhecido nas redes sociais no início de 2013. Eu estava há poucos meses em Santa Maria/RS, e – com esposa e filhos – sentimos a dor da cidade no 27 de janeiro, quando houve o incêndio na boate Kiss. Nesse dia fiz uma tira, e descobri que nosso sentimento era compartilhado por muitos. Dois meses depois uma tira que fala sobre amor impulsionou o personagem ao restante do país. Mas o que considero “sucesso” no Armadinho não é “fama e reconhecimento” do personagem, como alguns confundem. Ter reconhecimento não é um “fim”, mas um “meio”, para que ideias e assuntos que considero importantes sejam rediscutidos e repensados.

Quantas histórias você consegue produzir por semana?
Às vezes faço muitas tiras em pouco tempo, às vezes passam dias sem que eu produza nenhuma. Na média do ano, são 8 ou 9 tiras por semana.

E como surgem as ideias?
Podem vir de várias formas. Algo curioso, engraçado, sério, triste, banal ou muito importante. Algumas tiras surgem prontas, de imediato, outras demoro vários meses para pesquisar e refletir antes de encontrar a forma e as palavras e criar coragem de fazer.

Não é raro ver o Armandinho ser comparado ao Calvin e à Mafalda. Como você reage a isso? Qual a sua relação com esses personagens?
Sei que Calvin e Mafalda são referências mundiais em relação às tirinhas. Eu gosto de ambos os personagens, e é possível ver pontos em comum entre eles e o Armandinho, mas minhas influências são outras. Muitas pessoas fazem comparações pontuais, de abordagens e situações, que recebo como um generoso elogio.

Como é sua rotina?
Em relação ao trabalho, não tenho uma rotina definida. Em relação às tiras, sempre anoto e reavalio ideias, e às vezes tiro o dia pra produzi-las. Outros dias fico respondendo pessoas e editoras via e-mails, embalando livros, etc. São muitas pequenas atividades. Sempre tiro tempo para nadar, conversar e ler. Nos finais de semana que passo em casa, a mesma coisa. Acompanho muito minha esposa em viagens a congressos, e aproveito para planejar lançamentos nas cidades onde vamos, como desta vez em Curitiba. Procuro aproveitar bem meu tempo para estar livre quando estou com meus filhos, que moram em Florianópolis. Quando possível, eles me acompanham nas viagens, como no lançamento em Curitiba do ano passado. Desta vez não sei se eles poderão ir. É uma quinta-feira, e eles têm aula.

O que mudou na sua vida depois que o Armandinho ganhou mais de 700 mil seguidores no Brasil inteiro?
Continuo criando tiras e pensando da mesma forma. A maior mudança, creio, foi em relação ao tempo. Sempre respondi e-mails e mensagens, e isso tem se tornado difícil.

Como você avalia a questão dos direitos autorais na internet?
A internet é um campo recente em que estamos aprendendo a conviver. Em pouco tempo, muitos materiais e obras ficaram acessíveis a todos, incluindo gente mal informada e mal intencionada. Imagine uma cidade onde, de uma hora para outra, todos pudessem dirigir carros, mas que só alguns soubessem da existência das leis de trânsito. Estamos todos aprendendo.

Já houve alguma situação em que tirinhas suas foram publicadas sem os créditos ou com a ideia original deturpada? Como lidou com isso?
Sim, já houve. Quando acontece tento inicialmente uma conversa, mas hoje há formas judiciais de resolver estas coisas, inclusive com reparos financeiros por mau uso, uso não autorizado ou adulteração de trabalhos.

Você já está no sexto livro. Que novidade a edição mais recente traz?
O Armandinho Cinco (o primeiro foi o Armandinho Zero) segue a sequência das tiras dos demais livros, na ordem em que foram criadas. Como diferencial dos demais, creio que segue um processo de amadurecimento das ideias, trazendo novos temas e abordagens. Ele também traz as primeiras tiras que publiquei na Folha de São Paulo, a convite da psicóloga e educadora Rosely Sayão, que inclusive assina o texto de apresentação deste sexto livro.

O Armandinho chegou a Portugal. Como ele foi parar lá?
Creio que teve início por brasileiros via rede social, e aos poucos o Armandinho foi sendo conhecido pelos portugueses. Sobre os livros, há cerca de um ano recebi o telefonema de um editor português, Mario de Moura. Ele tem uma longa trajetória no campo editorial português, inclusive com o trabalho do Paulo Coelho. Em agosto do ano passado, Mario veio ao Brasil e me convidou para encontrá-lo em São Paulo. Eu agradeci, mas tinha já marcado um lançamento em Porto Alegre na ocasião. Pois ele, aos 90 anos, foi a Porto Alegre e acompanhou o lançamento. Assim não havia como recusar.

Há projetos de levá-lo para outros países, em outras línguas?
A página do Armandinho já é seguida por pessoas de muitos, muitos países. Primeiro por brasileiros, que estão em todas as partes do mundo; segundo por pessoas que falam português, como em Portugal, Moçambique, Angola e Timor Leste. Vejo também que aumenta o número de leitores do Armandinho que falam espanhol. Tenho muito carinho pelos nossos vizinhos latino americanos. Por isso estou traduzindo o Armandinho Zero para o espanhol. Sem editora e sem planos, de forma bem pessoal. Algumas tiras circulam na internet com textos traduzidos em italiano, francês, e inglês, mantendo a fidelidade e assinatura – fica claro que o uso no caso teve um bom propósito. Fico contente por saber que estão sendo lidas assim em outros países, mas é algo que ficará para depois.

O Armandinho é um verdadeiro poeta. Você também escreve literatura?
Agradeço o elogio, por mim e pelo Armandinho. Gosto muito de escrever, e às vezes o espaço de uma tira me restringe demais, além dos inevitáveis problemas de interpretação. Devo me arriscar em breve a fazer outras coisas diferentes.

Você já disse em algumas entrevistas que Eduardo Galeano influenciou muito seu trabalho. Que heranças o autor deixou para você e para o Armandinho?
Eduardo Galeano me é talvez a influência conhecida mais próxima – moro a 250 km da fronteira do Uruguai – mas há muitos outros nomes. É possível encontrar muitos pontos em comum nas ideias das diferentes pessoas que conseguem pensar – e se preocupar – em uma humanidade como um todo, de uma forma ampla. Independente da escolaridade, do sexo, da cor da pele, da religião, do tempo e do espaço. O ponto que considero hoje dos mais importantes – e Eduardo Galeano via isso com muita clareza – era a importância de se perceber na pele do outro. Não tenho dúvidas que qualquer passo nesta direção será um passo na direção de um mundo mais justo. E se é mais justo, é melhor.

Foto: Lucas Moço/Livrarias Curitiba


Lançamento – Armandinho 5

Quando? Hoje, às 19h30
Onde? Nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação, Av. Sete de Setembro, 2775, Rebouças.

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