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0000 – que bicho é esse?
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Beronha jura e aposta que nunca jogou. Não conhece o motivo, mas sabe que se trata de contravenção. Isso mesmo, acertaram (seco e molhado): estamos falando do jogo do bicho.
Como Natureza Morta também jura de pés juntos que ignora olimpicamente o assunto – “conheço apenas o aspecto histórico da questão” -, ficou por conta do nosso anti-herói de plantão explicar o que se passava.
No mês de setembro aconteceu uma coisa rara no bicho: deu 0000.
– Foi na extração da Federal do dia 24, um sábado – prosseguiu Beronha, demonstrando, com riqueza de detalhes, dominar a matéria, embora diga e repita que não é dado a uma fezinha.
– Aconteceu no primeiro prêmio da extração número 04.591 e rendeu boa grana a um número recorde de apostadores. Muitos deles, os tais pequenos contraventores, acertaram o milhar na cabeça, enquanto outros optaram pela numeração repetida do primeiro ao quinto.

Dia de revelações

Passado o espanto (mútuo), os dois continuaram conversando na Mansão da Vila Piroquinha. Antes, Beronha quis saber se não havia nenhum grampo na sala.
– Pode dar zebra.
Atendo-se à história, o solitário da Vila Piroquinha contou que o jogo do bicho – “bolsa ilegal de apostas” – foi inventado em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, e com outro propósito. Fundador e proprietário do jardim zoológico do Rio de Janeiro, entrou na onda do comércio: sorteio de brindes para atrair a clientela e enfrentar a crise dos primeiros anos de República.
Instituiu um prêmio em dinheiro para aumentar a frequência ao zoológico.
O portador do bilhete de entrada que tivesse a figura do “animal do dia”, a ser escolhido entre os 25 do zoológico, embolsaria a bufunfa. O bicho ficava encoberto por um pano, que só era retirado no fechamento do parque. A ideia prosperou e os animais, associados a séries numéricas da loteria, foram ganhando espaço. Fora e longe do zoológico do barão.
– Deu no que deu – completou Beronha.
E, para confirmar seu “total desconhecimento da matéria”, revelou a última vez que tinha dado o milhar 0000: outubro de 1966.

Quem não arrisca…

Ao encerrar o papo, depois de ficar sabendo que os números do jogo do bicho vão de 00 a 100, e que cada bicho tem cinco números, Natureza olhou para o grande relógio de parede e pediu um palpite para o sorteio Corujinha, aquele que acontece às 21 horas.
Beronha, que ainda “desconhecia” os meandros do jogo, deu alguns conselhos. Ou, melhor, meros palpites:
– Se o número for 123, jogue na centena; se for 1234, no milhar. Caso seja 12, jogue no grupo ou na dezena.
Conclusão: caso o governo pretendesse mesmo acabar com o bicho, ele não teria proibido, mas legalizado o jogo. Haveria, é claro, o risco de ressurgir a contravenção no paralelo, mas, a tradicional, essa iria pras cucuias.
Beronha:
– De pleno acordo. Como diz a minha turma: aqui, o legal mesmo é o ilegal…

ENQUANTO ISSO…


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