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De escândalos e censura
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Cachoeira continua respingando na pauta do dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha. Enquanto se assiste ao show de bravatas de alguns integrantes da CPI, continuamos no vai não vai. E, por via de regra, acabamos não indo.
Sobre isso, Natureza Morta aproveitou para lembrar um episódio também deveras escandaloso. Está lá, em “Paulo Pimentel, Momentos Decisivos”, livro do jornalista Hugo (Mendonça) Santana, Travessa dos Editores, 2008.

Gravador (de bolso) era o máximo

“Um governador cassado por um gravador de bolso” é o intertítulo empregado por Hugo Mendonça. Trata da ascensão e queda de Haroldo Leon Peres, o governador nomeado pela ditadura civil-militar de 64 que – mal em todos os sentidos – ocupou o Palácio Iguaçu por 8 meses. Acossado por denúncias de corrupção, renunciou – ou foi renunciado – em novembro de 1971.
LP, como era provocativamente chamado pelo jornal O Estado do Paraná (LP – 33 rotações?), assumiu no dia 15 de março. Ah! também para provocar, só publicava fotos de LP de perfil. Tinha uma estrutura nasal avantajada. A gota d’água, para a deposição, foi “uma conversa que manteve com o empresário Cecílio Rego de Almeida, em Copacabana, quando pediu comissão (US$ 1 milhão) sobre obras que a empreiteira CR Almeida estava construindo no Paraná. Leon Peres não contava com um gravador escondido em um bolso do empresário. A notícia correu o Estado e chegou a Brasília. O governador optou pela renúncia, na iminência de ser cassado. Não foi sequer processado”.

Rigor? Só para os adversários

A manchete de primeira página do “jornal do dr. Paulo” no dia 21 de novembro, um domingo, foi “Viaduto Paulo de Frontin desaba e mata dezenas no Rio”. Na terça-feira, já que não circulava às segundas, veio a bomba, na segunda edição, a chamada edição da capital, que era atualizada: “LEON PERES RENUNCIOU!” Caixa alta e com direito a ponto de exclamação, o que não era permitido pelo manual de redação.
O texto: “O governador Haroldo Leon Peres confirmou ontem o seu ‘afastamento definitivo do governo’. Nota oficial do Palácio Iguaçu: Em virtude de notórias dificuldades enfrentadas na direção do estado, ‘entendeu de seu dever afastar-se definitivamente’. A Assembléia Legislativa dá posse hoje a Parigot, 73.° governador em 118 anos do Paraná”.
Informa o jornal que, uma semana antes, LP seguiu para Brasília, inesperadamente, voltando na quinta-feira, dia 18. Na sexta-feira, 19, retornou ao Rio. Reunião dia 22 – que seria às 17 horas. E ressaltava que “nada havia de oficial quanto à sua renúncia, que fora confirmada pelo secretario do Interior e Justiça, quase no momento em que chegara de Brasília, dia 18”.

Sob o regime da mordaça

Sabia-se (e muito) sobre os bastidores da nomeação e da renúncia, mas pouco era divulgado. A férrea censura aos jornais estava em vigor. Basta ver que, além de ordens específicas, havia – desde 1969 – uma espécie de édito real baixado pela Polícia Federal, conforme “orientações do ministro da Justiça”.
Entre muitas outras coisas, vetava (surpresa?) “críticas ao governo federal pela escolha dos governadores de Estado. Não se atribuir ao presidente da República os erros cometidos pelos homens escolhidos por ele para governar os Estados”.
Mas que o homem caiu, caiu. E, hoje, em plena democracia, com a propalada independência dos poderes etc e tal, o que se poderia esperar? Que o caso Cachoeira&Cia fosse tratado com agilidade, e dentro do que manda a lei. Do que determina a lei e exige a sociedade, finalizou um cada vez mais indignado solitário da Vila Piroquinha.
O professor Afronsius e Beronha acompanharam o voto de Minerva.
E deu para ouvir três toques seguidos na madeira.

ENQUANTO ISSO…


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