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De Sófocles a Adoniran
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Censura foi o tema da conversa junto à cerca (viva) da Vila Piroquinha. Um rápido dedo de prosa, já que o frio enxotou o professor Afronsius, Natureza Morta e Beronha.
Censura? Qual o motivo? O professor Afronsius contou que tinha lido, na seção Almanaque, da Revista de História da Biblioteca Nacional deste mês, uma nota sob o título “Sófocles, o subversivo”. No tempo da censura da ditadura civil-militar de 1964, “as forças da repressão, em duas ocasiões, foram atrás de um alvo de peso.
Em 1965, na estreia de Electra, no Teatro Municipal de São Paulo, agentes do Dops compareceram ao local com “uma dura missão”: prender o autor da peça. Um subversivo. “O problema era que o procurado, o grego Sófocles, morrera em 406 a.C. Mas isso não impediu que, algum tempo depois, a Secretaria de Segurança Pública do Rio proibisse em Niterói a encenação de Édipo Rei, outro de seus textos. Alegou-se o mesmo de antes: a obra era subversiva”.
Como assinala a revista, a história saiu publicada no livro “Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País”, de Stanislaw Ponte Preta.

Mais gente na mira

Aproveitando, Natureza Morta sacou o fascículo 6 da coleção A Ditadura Militar no Brasil, da revista Caros Amigos. Ainda sobre a censura, temos o caso ocorrido com o compositor e cantor Adoniran Barbosa, autor de Trem das Onze, Saudosa Maloca e “outras preciosidades”.
Ao preparar um disco com sambas que já tinham sido gravados, levou chumbo por causa de um trecho de Samba do Arnesto. Adoniran, famoso por reproduzir o “falar típico dos paulistanos de bairros como Brás, Bexiga e Barra Funda”, diz num trecho:
– O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Nóis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo Cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais. (Nóis num semo tatu.)
O censor queria que ele regravasse cantando assim: Ficamos com uma baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais. (Nós não somos tatus).
Mais: exigia que Arnesto virasse Ernesto e Tiro ao Arvo, Tiro ao Alvo.
Adoniran “achou melhor esperar a burrice passar para voltar a gravar”.
Beronha, nosso anti-herói de plantão, aproveitou e saiu cantando o “Samba do Arnesto”, rumo ao Bar VIP. Para esquentar o pelo.

ENQUANTO ISSO…


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