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Sobre greve(s), há quem tenha lembrado julho de 1917.  As reivindicações trabalhistas já eram tratadas como caso de polícia – com cassetetes e patas de cavalos. Então, na ordeira Curitiba, faltou espaço nas cadeias. E muitos presos foram parar em lugares incertos e não sabidos. Não sabidos até hoje.

Era uma greve geral que sacudia muitas cidades do país, tema de um profundo estudo em A Greve Geral de 17 em Curitiba – Resgate da Memória Operária, livro de 1996, de autoria de Ricardo Marcelo Fonseca e Maurício Galeb, com apresentação do advogado Cláudio Ribeiro.

Hoje, quem passa pela Sociedade Garibaldi ou pela Sociedade Beneficente Protetora dos Operários certamente ignora que elas foram alguns dos palcos de uma guerra (nada surda) para sufocar os trabalhadores, seus anseios e reivindicações. Voltando a 1917.

O livro frisa que “as lutas populares não estão reduzidas apenas aos Tenentes de 22, à Coluna Prestes ou à Intentona de 35”.

Alguns trechos:

– Em Curitiba, já em 1883 esboçam-se as primeiras tentativas de organização operária com a fundação da Sociedade Protetora dos Operários, iniciativa do pedreiro Benedito Marques. Em seguida surge a Sociedade Recreativa e Beneficente de Operários Alemães (1884), enquanto italianos anarquistas oriundos da Colônia Cecília fundam a Sociedade Giusepe Garibaldi. E, em 1891, circula o primeiro jornal de trabalhadores, o Operário Livre. Em 1906 é fundada a Federação Operária Paranaense (F.O.P.) e, no ano seguinte, a capital é sede do primeiro Congresso Operário Estadual, organizado pela F.O.P. e a Liga dos Sapateiros de Curitiba.

“Elemento perturbador da ordem”

Enquanto o chefe de polícia garantia que a ordem seria mantida, separando “o elemento operário do elemento perturbador da ordem”, a cidade mergulhava no caos. O livro registra, entre outros casos, com base nos jornais da época, que no bairro do Portão “foram arrancados alguns trilhos, enquanto a ponte sobre o Rio Belém era danificada e, no alto Bigorrilho, vários postes telefônicos foram derrubados”.

Pouco depois, um grupo “arrancou a ponte sobre o Rio Barigui e sobre o Rio Belém, cortando deste modo a ligação com o matadouro”.

“Uma cidade pacata e ordeira”

No dia 24 de julho, terça-feira, Curitiba “já voltava à sua costumeira normalidade, digna de uma cidade pacata e ordeira”. A repressão policial, “tão festejada e elogiada, acabara com a greve. Mas, apesar de tudo, havia os que não se conformavam e condenavam a ação da polícia. Queriam saber onde foram parar as pessoas como Octavio Prado, Bortolo Scarmagnan e Caetano Grassi, que desapareceram para sempre do cenário curitibano”.

De repente, a visibilidade

A movimentação operária de 1917 “não foi mera arruaça de anarquistas desocupados nem tampouco um avento primário e infantil dos trabalhadores. Foi, ao contrário, revelador da forte presença de uma classe que, para a historiografia oficial, era (e, no caso curitibano, ainda é) quase invisível. Revelou de modo dramático a existência de um problema que era completamente ignorado pelos extratos dominantes da época: a questão social”, ressaltam os autores do livro.

Deu no Diário da Tarde

Reivindicações da época, conforme comunicado entregue ao jornal Diário da Tarde: “Jornada de 8 horas, abolição completa das multas, impedimento de crianças menores de 14 anos no trabalho, impedimento de moças de menos de 21 anos, os que ganharem por dia terão tabela mínima de 5$000, os por hora a 800, abolição dos trabalhos nocturnos exceptuando se os necessários, não trabalhando mais de seis horas, o patrão não pode dispensar o empregado sem prévio aviso de 18 dias, dando em cada dia uma hora de folga para procurar trabalho, a responsabilidade dos patrões nos acidentes, a extinção das taxas beneficientes obrigatórias como as do bond e da estrada de ferro, a redução dos impostos para carroceiros, a redução dos preços dos generos alimentícios, exigir a baixa immediata da farinha de trigo e assucar, diminuição os preços de aluguel de casa, exigir do governo fiscalização dos generos alimentícios, abolição dos trabalhos por peça, hygiene nas fabricas, reintegração dos grevistas nos seus primitivos lugares, uma vez cessada a gréve, sob pena do movimento paredista continuar”.

Dica sobre o livro, que continua atualíssimo: na falta de uma reedição, pode ser encontrado na Biblioteca Pública – ou, quem sabe, em algum sebo. Vale a pena ir atrás.

ENQUANTO ISSO…

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