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Nó na cuca (e na língua)
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Dá para imaginar a cena. O cidadão estaciona o carro diante da barraquinha e pergunta ao tranquilo Batata:

– Escrevendo uma carta, quando é que a gente emprega o por que separado, o porque junto, o por quê separado e com chapeuzinho e porquê junto e com o chapeuzinho?

– Pergunta lá no Posto Ipiranga.

– Não adianta, eu já estive lá…

É uma dúvida bastante comum, tanto que o professor Pasquale Cipro Neto dedicou-se ao assunto em sua coluna Inculta&Bela, em 2008, na Gazeta do Povo.

É junto ou separado?

Longe de ser o Posto Ipiranga, ensina ele:

– O ponto de interrogação pouca diferença faz na hora de tomar a decisão de juntar (“porque”) ou separar (“por que”). A velha história de que na pergunta é separado e na resposta é junto só pode ter alguma utilidade quando se sabe que a pergunta pode ser direta ou indireta.

Para explicar por que não se emprega o ponto de interrogação nas perguntas indiretas, temos a seguinte pergunta, indireta: “Por que não se emprega o ponto de interrogação nas perguntas indiretas?”. Esse “por que”, equivalente a “por qual razão”, “por que razão”, é separadíssimo, independentemente da presença ou da ausência do ponto de interrogação.

– Outro exemplo dessa ocorrência de “por que”: “O senador não disse por que (por qual razão) se envolveu no episódio da violação do painel do Senado”; “Luxemburgo finge não compreender por que (por qual razão) é irregular o uso do ponto eletrônico”. Em nenhum desses casos há ponto de interrogação, embora em todos eles haja pergunta indireta e, consequentemente, o emprego de “por que”.

– É importante notar que em alguns casos a grafia define o sentido. Quando se escreve “O ministro não explicou por que não compareceu”, informa-se que o ministro não explicou por qual razão deixou de comparecer. Quando se escreve “O ministro não explicou porque não compareceu”, informa-se que o ministro não explicou o que se esperava que explicasse por uma razão muito simples: não compareceu.

– Outro caso importante do emprego de “por que” ocorre quando o “que” é pronome relativo. Nesse caso, “por que” acaba equivalendo a “pelo/a qual” ou “pelos/as quais”. Veja este exemplo, da canção Esquinas, de Djavan: “Só eu sei as esquinas por que (pelas quais) passei”.

E surge o tal monossílabo tônico

– Por fim, é imperativo citar um caso sofisticado do emprego de “por que”: “Opto por que sejam cassados”. Temos aí a preposição “por”, regida por “optar” (se alguém opta, pode optar por algo), e a conjunção integrante “que”, que introduz a oração que funciona como complemento do verbo “optar”. Se esse período composto fosse transformado em simples, teríamos algo como “Opto pela cassação deles”, em que “pela” resulta de “per” (forma original da preposição “por”) + “a”.

– E quando se grafa “por quê”? Quando essa expressão introduz pergunta (direta ou indireta) e ocorre pausa depois dela: “Ninguém sabe por quê”; “Você não vai? Por quê?”. Nesse caso, o “que” é monossílabo tônico e, por terminar em “e”, é acentuado.

Beronha, tentando encerrar o papo:

– Pra mim, a bendita reforma ortográfica enterrou essa questão e todas as minhas dúvidas a respeito. Desta e de todas as outras questões. Belê?

ENQUANTO ISSO…

 

 

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