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O caos – a cada esquina
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Depois de encarar uma sucessão de congestionamentos às 7 da manhã em vários pontos de Curitiba, ao parar (ou ser obrigado a parar) no Prado Velho, um motorista recebeu um exemplar do jornal Metro. Manchete: Tempo perdido – Curitibano desperdiçou 83 horas parado no trânsito em 2016.

A inevitável reação:

– Poxa, eu poderia ter ficado muito mais tempo no boteco…

Voltando à notícia. Pesquisa da empresa holandesa TomTom, fabricante de sistemas de navegação para automóveis, por supuesto, coloca Curitiba em 144º lugar no ranking de 390 cidades de 48 países enroscadas no trânsito. Entre as brasileiras, Curitiba desponta na 9ª colocação. Há quem tenha comemorado: menos mal…

Na matéria, assinada por Rafael Neves, temos que o motorista na capital passa, em média, 22 minutos por dia parado no congestionamento. Nosso trânsito piorou 2% no ano passado.

Aí, o motorista, o ainda retido no Prado Velho, lembrou de Trânsito Louco.

Os “vícios urbanos”

Trânsito Louco é o título de um livro de Marcos Prado, lançado em 1973. Entre as razões do trânsito que já era maluco naquela época, temos do arquiteto, ex-IPPUC e ex-Detran, que, em 1971, o desafio curitibano era “implantar um plano de trânsito numa cidade com vícios urbanos impermeável a qualquer modificação em sua estrutura viária tradicional”.

Na orelha do livro, o ex-prefeito Jaime Lerner garante que trânsito era “assunto que mais preocupa do que entusiasma, embora num país onde os automóveis crescem em progressão geométrica e isso acaba por atingir a todos, indistintamente”.

Neuróticos ao volante

Implantado na década de 1970, o exame psicotécnico para obtenção de carteira de habilitação apontou, nas primeiras levas, que só em Curitiba “quase 10% dos candidatos mostraram ser neuróticos”.

E, ainda conforme Marcos Prado, Curitiba, como todas as cidades “em crescimento espontâneo”, não possui uma infraestrutura para suportar o impacto da era industrial, “cujo efeito mais direto é o aumento progressivo da sua frota de veículos”.

Proporcionalmente à sua população, “a cidade apresentava uma das menores áreas centrais – aproximadamente 0,5 Km quadrados -, onde há excepcional concentração de atividades comerciais, bancárias, culturais e recreativas”.

Ainda do livro:

– Os acidentes são hoje o nosso maior mal social. É um verdadeiro massacre que substitui as pragas da idade média, no Século XX.

– O liberalismo econômico, iniciado no final do século XVIII, faz com que escape do controle da comunidade ou da municipalidade a vida urbana, cuja instabilidade é marcante. A cidade passa a ser instrumento de lucro. (…) As pessoas servem-se da cidade. Esta deixa de ser realidade coletiva para ser realidade espacial apenas. A organização da cidade começa a depender da via férrea e das vias de acesso. Perde a autonomia, desaba sua estrutura, cria-se um tecido urbano desordenado.

– Durante o ano de 1970, em Curitiba, mais de 100 pessoas não voltaram para casa, vítimas de acidentes de trânsito. Em 1971, 66 morreram nas suas ruas e 1.400 em todo o Paraná. O aumento do número de veículos é vertiginoso: São Paulo atinge quase 1.000.000 de veículos e Curitiba aumentou sua frota 200% em 10 anos. Este formidável aumento da frota, a falta de preparo da população para a entrada na era do automóvel, a falta de condições das ruas, a inexistência de uma consciência dos problemas criados pelo automóvel por parte das autoridades, levou às condições que hoje prevalecem nas grandes cidades.

– O tráfego, mais que um problema à espera de solução, é uma situação social que requer uma política rigorosa e paciente, insiste Prado.

Uma realidade kafkaniana

Falando do volume mensal de carros novos emplacados, Prado cita que em 1973 seria superior a 2.000 veículos, um crescimento quase geométrico e que, pelas facilidades de compra, “vamos nos aproximando do atendimento do desejo de cada família ter seu próprio carro”.

“É necessário entender o tráfego como a presença de veículo na cidade, em movimento e parado. Vemos grande parte da inteligência sendo dedicada apenas à engenharia de fluxo de tráfego – medidas de volume, desenho de ruas e intersecções –, mas raramente ouvimos alguém indagar por que os veículos se movem, ou se o tráfego poderia ser eliminado ou dirigido a outras direções pela manipulação das causas dos movimentos”.

No final, o arquiteto diz que abordou os problemas mais importantes e que as críticas, apesar de duras, refletem parcialmente a realidade, que chega a ser kafkaniana.

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Afinal, era a tal da conurbação, assunto para o blog de amanhã. Se a gente não ficar preso no trânsito…

ENQUANTO ISSO…

 

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