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O caos de cada um
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Em mais um dia empacado nos engarrafamentos que tomaram conta de Curitiba, o motorista conseguiu chegar ao boteco. E desabafou:

– Me senti um personagem do Federico…

– Quem? Você quis dizer Frederico.

– Não. Federico, Federico Fellini. O do filme 8 e Meio – ou, no original, Otto e Mezzo.

De fato. Oito e Meio (Itália/França – 1963), com Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Sandra Milo e Claudia Cardinale, começa num engarrafamento. Mastroianni faz o papel de Guido, um produtor de cinema em crise – tanto no campo profissional como no sentimental – e que se vê preso num engarrafamento de trânsito.

Para o crítico Rubens Ewald Filho, “se Federico Fellini era indiscutivelmente um gênio, sua obra-prima é um filme ainda mais autobiográfico, a partir do próprio título Oito e Meio. A história de um cineasta famoso em crise, que acha que não tem mais nada a dizer. Fica enrolando o produtor, a equipe, a estrela Claudia Cardinale, todos esperando suas instruções, enquanto mistura lembranças do passado e imagens de sua fantasia”.

Em 1963, Oito e Meio ganhou o Oscar de filme estrangeiro e também o de melhor figurino em preto e branco. Mais recentemente, uma enquete com 30 importantes cineastas apontou-o como o maior filme europeu de todos os tempos e Fellini, por supuesto, como o autor mais influente.

Ainda sobre o filme, temos CI(S)NE, ensaios 1964-1969, do curitibano Lélio Sotto Maior Júnior, publicação de 1995:

– Lubitsch é um pessimista dissimulado, Fellini é um otimista dissimulado. Obra mágica, antinaturalista, Fellini 8 e ½ é inquestionavelmente o maior Fellini (ou é o anti Fellini?). Pela primeira vez, o universo particular (e metafísico) do cineasta veio acrescido de uma supervisão racional, de autocrítica, quer dizer, do outro (Daumier e o Grilo Falante), capaz de ultrapassá-lo qualitativamente. E, portanto, não é um Fellini que auto se nega, mas um Fellini que se supera despojando-se totalmente num burlesco exorcismo.

Comentário de um frequentador do boteco:

– Se é obra de arte, que venha o engarrafamento de amanhã…

ENQUANTO ISSO…

 

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