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O cheiro e o cheiro da discriminação
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Um determinando presidente, ou general de plantão (vou omitir o nome atendendo pedido do próprio), disse que preferia cheiro de cavalo ao cheiro de povo. Ah, segundo Natureza Morta, ele não era o chamado “grosso da tropa”… Isto posto, Beronha disse a Natureza que, pelo menos em Curitiba, com frio e chuva de rachar o cano, o cheiro da gente não deve mesmo ser dos melhores, principalmente quando se está numa estação-tubo ou dentro do ônibus.
O solitário da Vila Piroquinha fez que não ouviu o nosso anti-herói de plantão, até porque lhe veio à mente outro personagem, que garantia:
– Eu tomo banho todo o sábado. Precisando ou não…
Passando ao largo da cavalariça, Natureza revelou a Beronha que as coisas não são bem assim. O cheiro não é privilégio nosso, muito pelo contrário.
Até a chegada dos europeus, vivíamos à beira de rios e riachos, limpos e saudáveis, enquanto nossos “descobridores”, muito pelo contrário.

Um certo verão em Londres

Para se ter uma ideia – ideia sem acento cheira muito mal, pois não? -, no verão de 1858, em Londres, o mau cheiro tornou-se simplesmente insuportável. Tão nauseabundo que os nobres sugeriram que o Parlamento fosse transferido da cidade.
Natureza foi à biblioteca e voltou com “Aroma – a história cultural dos odores”, livro que, certamente, o ex-presidente jamais iria ler. O trabalho de Constance Classen, David Howes e Anthony Synnott, lançado no Brasil em 1996, pela Zahar editora, registra um estudo inglês sobre a higiene, realizado em 1842.
Relata a resposta de um operário quando perguntado sobre a frequência com tomava banho:
– Eu nunca lavo meu corpo. Deixo que minha camisa faça a sujeira desaparecer com o atrito, a minha camisa mostra bem isso. É claro que lavo o pescoço, as orelhas e o rosto.

O rico cheira bem, o pobre…

Mostra ainda o livro que os pobres não separavam – nem podiam fazê-lo – as funções e os odores de suas casas em compartimentos diferentes (quarto, banheiro, cozinha, sala de jantar) como faziam as “classes endinheiradas”.
Desse modo, os cheiros se misturavam indiscriminadamente “nos apertados lares dos pobres”, aumentando a repulsão sentida em relação a eles pela “sensibilizada burguesia”, que associava promiscuidade olfativa com promiscuidade moral.
Um perfumista vitoriano chegou a dizer:
– As classes inferiores têm nariz, mas não cheiram.
Beronha, indignado, resolve atacar o perfumista.
– Vá tomar banho!

ENQUANTO ISSO…


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