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O jeito é ficar parado
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– Quase que levei uma paulada da Receita… – chegou bufando o professor Afronsius, antes mesmo de ter início oficialmente o dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha. Natureza Morta fez o inevitável, largou a tradicionalíssima pergunta:
– Imposto de Renda? Malha fina?
– Não, nada disso. Quase levei uma paulada foi de um carro da Receita, ao atravessar a rua. Mas a culpa foi toda minha. Cruzei fora da faixa de pedestre.
A conversa prosseguiu. E o professor Afronsius contou que, para colaborar com o trânsito de Curitiba, deixou de utilizar seu carro.
– Está na garagem. Servindo de canteiro para capim. Decidi utilizar o famoso transporte coletivo. Uma breve experiência.

Vias alternativas

Um tanto quanto avesso a aglomerações, o vizinho desistiu do ônibus. Não exatamente por causa dos ônibus, mas de boa parte dos passageiros que não colabora de jeito nenhum.
– Tem a turma que insiste em ficar plantado na porta, apesar dos apelos em contrário.
– Atravancando o progressio – emendou Beronha.
– Mais ou menos isso. Quem pretende entrar leva um sufoco, quem quer sair também. Tudo isso sem falar daqueles que entram com mochila de alpinista nas costas. Ou com um sacolão de coisas compradas em liquidação. 1,99, imagino.
Diante disso, o professor Afronsius optou pela caminhada.
– Até porque não sei andar de bicicleta e não tenho mais idade para tentar o skate. Mas, confesso, cheguei a pensar em transporte com liteira, camelo, canoa, jangada, trenó, módulo lunar, gôndola, batiscafo e carona. Sem sucesso,porém.

Nada como a vida no campo…

Ao perceber a crescente irritação do parceiro, Natureza tratou de mudar de assunto, abrindo o leque:
– O jeito é ir morar no campo. Perto de um rio bom de lambari – não precisa ser rabo vermelho – e de uma mata para realizar algumas caçadas.
O professor Afronsius reagiu prontamente:
– Não me fale em caçada.
Aí, explicou o motivo. Nos velhos tempos, gostava de caçar perdiz. Gostava tanto que ganhou um cachorro de presente. Um cão indicado para grandes caçadas.
– Perdigueiro?
– Não me fale desse animal! – quase explodiu.
Só no dia seguinte é que o solitário da Vila Piroquinha ficou sabendo do motivo do destempero total. Segundo alguns frequentadores do Bar VIP da Vila Piroquinha, aquele mesmo que o Beronha diz frequentar “só ocasionalmente todos os dias”, o que se sucedeu foi o seguinte: todo animado com o tal perdigueiro, aliás, de nome Totó, saiu para a primeira caçada – em dupla. Lá pelas tantas, perto de umas barrocas, viu uma perdiz. Apontou, mirou, fechou os olhos (“não mato nem mosquito”) e abriu fogo. A ave se mandou, bela e formosa.
– Só faltou fazer pitofió – conforme nosso anti-herói de plantão.
Ao ouvir o disparo, Totó, que estava a seu lado, junto ao pé direito, engatou uma primeira e saiu correndo em direção à mata. O professor Afronsius teve a mesma reação. Só que, mal saiu do lugar, trombou com o cachorro. E despencou barroca abaixo.
Horas depois, voltava para casa. Todo sujo e frustrado.
Algum bom tempo depois, já refeito do vexame, ficou sabendo por caçadores mais experientes que, entre outras características, o perdigueiro corre em diagonal. Como o professor correu em linha reta…
Beronha:
– Também pudera, um cachorro de caça chamado Totó…
Natureza voltou a mudar de assunto, mas, conversão à direita, voltou aos pedestres. Muitos deles, ao utilizar a faixa correspondente, imitam o perdigueiro. Caminham em diagonal. Azar de quem está seguindo reto.
O bate-papo não prosperou. E não foi por causa de uma blitz da Setran.

ENQUANTO ISSO…


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