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Pior foi o 12 a 1
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Perder faz parte do jogo, embora de 7 a 1 seja de arrasar. Mas o que dizer, então, de 12 a 1? Em 1958, quando o Brasil festejava a primeira conquista da Copa, na Suécia, um time mineiro, que resolvera, como agora, beber na fonte as lições do futebol europeu, virou escândalo nacional, acusado de “manchar a imagem do Brasil e do principal esporte nacional”. Verdadeiro crime de lesa-pátria. Como sempre, havia dinheiro por trás. E, por supuesto, um empresário espanhol – em parceria com um jornalista brasileiro.

– Lesa-pátria? – interveio Beronha.

– Sim. Atentado ou crime contra a pátria. Traição à pátria – explicou professor Afronsius, que trazia um exemplar de agosto de 2010 da Revista História da Biblioteca Nacional (“essa revista eu recomendo”).  No texto de André Carazza dos Santos “É proibido perder”, temos que, Brasil campeão do mundo pela primeira vez, euforia total, um time mineiro, no caso, ou escândalo, o Bela Vista FC, de Sete Lagoas, Minas, roubava a cena.

Ingressando no profissionalismo naquele ano, lançou-se numa incrível excursão pela Europa. Deu o maior xabu, segundo o professor Afronsius. Afinal, disputou 23 partidas. Perdeu 19. Uma de 12 a 1. Só ganhou duas.

Propaganda enganosa

Ainda do texto de André Carazza dos Santos, autor, aliás, de A Copa do Mundo no Brasil (1950): Belo Horizonte e o Ideal de Cidade Almejado para Encantar os Estrangeiros, a cartolagem e políticos tentaram impedir a excursão do Bela Vista, acionando a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), o CND (Conselho Nacional de Desportos) e até o Itamaraty. As embaixadas brasileiras não deveriam dar cobertura ao time.

Temia-se uma propaganda negativa do “melhor futebol do mundo”. Diante da catástrofe, todo mundo desceu a lenha no time mineiro.

Para complicar ainda mais, tinham vendido o peixe na Europa como se o Bela Vista fosse “o legítimo campeão brasileiro”. Coisa do empresário, certamente. Ou do jornalista.

Algumas manchetes refletiram a indignação nacional: O Globo, do Rio, tascou “Tragédia nacional”. O Diário da Tarde, de Minas, também pegou pesado: “Uma tragédia esportiva sem similar na história do soccer brasileiro”.

Na Inglaterra, o Newcastle tinha aplicado uma sonora (como se dizia) goleada de 12 x 1 no Bela Vista. Apesar dos pesares, o time encerrou sua excursão em outubro e, na chegada a Sete Lagoas, os jogadores “tiveram uma recepção triunfal”. Afinal, conforme o noticiário, tinha realizado “a mais falada excursão de clube brasileiro”.

Mas, a partir de então, o CND passou a ser tremendamente rigoroso na concessão de licença para excursões de clubes brasileiros.

Jogo a jogo

O Bela Vista pegou o Olympique de Marselha (levou de 3×1), o Real Madri (2×1), Alemanha Aachen (2×1), Lausane (epa! essa o BV venceu por 3×2), Fortuna Düsseldorf (2×0), VfB Stuttgart (2×0), Heide, da Alemanha (nessa também deu Brasil, 1×0), Grasshoppers, da Suíça (1×1), Bologna (3×2), Borussia Dortmund (4×1), Selecionado de Leipzig (1×1), Selecionado de Copenhague (2×1), Holstein Kiel (5×3), Werder Bremen (3×0), Concordia Ihrhove (1×0), Eintracht Frankfurt (2×0), Blauw-Wit, Holanda (6×0), Birmingham City (5×0), Newcastle (12×1), Middlesbrough (4×0), Sheffield United (4×0), (Luton Town (8×0) e Tottenham (3×1).

Bom mesmo foi o Galo

Ainda da Revista de História da BN: “Excursões de clubes brasileiros a terras estrangeiras eram frequentes. Essas viagens representavam oportunidades de levantar algum dinheiro, além de proporcionar um intercâmbio saudável de táticas e conhecimentos futebolísticos. O primeiro time profissional brasileiro a fazer uma excursão à Europa foi o Clube Atlético Mineiro, em 1950. Ao contrário do Bela Vista, o Galo fez uma campanha vitoriosa, derrotando clubes tradicionais como Hamburgo, Schalke 04 e Munique 1860. Superou também um inverno rigoroso, disputando vários jogos em temperaturas negativas”.

Fica o registro.

ENQUANTO ISSO…

20 julho (1)

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