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Sobre corrupção e corruptos….
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Professor Afronsius chegou para o dedo de prosa no Bar VIP da Vila Piroquinha e foi logo dando um susto na turma:

– Estão falando sobre corrupção, não é? E por falar nisso, o que vocês me dizem do IBAD?

Silêncio total.

Aí, mandou ficha: que tal ler – ou reler – IBAD – A Sigla da Corrupção, de Eloy Dutra, Editora Civilização Brasileira, 1963?

Diante do silêncio quase palpável, foi em frente:

– Eloy Dutra, do PTB do então Estado da Guanabara, conduziu a CPI que apurou o caso do Instituto Brasileiro de Ação Democrática, que tinha à frente Ivan Hasslocher. Gravem esse nome. Já ex-deputado, Dutra escreveu o livro. O esquemão era amplo, geral e irrestrito. Em 1962, Ivan Hasslocher, que, oficialmente, era proprietário da agência de propaganda S.A. Incrementadora de Vendas Promotion, criou a ADEP – Ação Democrática Popular, uma filial do IBAD. Objetivo: financiar e comandar a eleição dos candidatos que defendiam os interesses dos Estados Unidos no Brasil.

1 bilhão e 40 milhões de cruzeiros em 5 meses

Assim, por intermédio da ADEP, foram selecionados para receber apoio pelo menos 250 candidatos a deputado federal, 600 deputados estaduais, 8 candidatos a governadores e inúmeros candidatos ao Senado.

– Um candidato federal recebia CR$ 1 milhão e 600 mil, um deputado estadual CR$ 800 mil. O grupo IBAD/ADEP/Promotion gastou 1 bilhão e 40 milhões de cruzeiros nos 150 dias que antecederam as eleições de 1962. A grana, conforme apurou a CPI, vinha do Royal Bank of Canadá e a Promotion tinha ainda conta no Bank of Boston e no National City Bank of New York.

As contribuições eram de grandes empresas, principalmente norte-americanas – e brasileiras.

– Ivan Hasslocher controlou o MSD – Movimento Sindical Democrático, Redetral – Resistência Democrática dos Trabalhadores Livres, e o MED – Movimento Estudantil Democrático, como também jorrou dinheiro para eleições acadêmicas e agitação no Clube Militar.

O Goebells Caboclo

Ainda do livro: Hasslocher era conhecido como o Goebells Caboclo, além, de ser um homem obscuro, sem nenhuma tradição na vida política ou empresarial no Brasil. Pintou por aqui por volta de 1959. E de uma hora para outra foi misteriosamente guindado à posição de verdadeira eminência parda do processo eleitoral brasileiro.

Revista com distribuição gratuita

Ele comandou também 80 programas semanais de rádio, arrendou por 90 dias o jornal A Noite, no Rio, e a Ação Democrática, uma revista mensal com 250 mil exemplares, em papel de ótima qualidade. A revista era  distribuída gratuitamente e “milagrosamente” sem nenhum anúncio publicitário.

Para encerrar a conversa, professor Afronsius ressaltou que todos os deputados federais que participaram da CPI do IBAD foram cassados em 1964: Eloy Dutra (PTB-GB), José Aparecido de Oliveira (UDN-MG), João Dória (PDC-BA), Benedito Cerqueira (PTB-GB) e Rubens Paiva (PTB-SP). Este, inclusive, seria assassinado por agentes do DOI-Codi. Outros membros da CPI foram os deputados Adauto Lúcio Cardoso, Ulisses Guimarães, Pedro Aleixo, Bocayuva Cunha e Temperani Pereira.

Hasslocher, por sua vez, morreu em Houston, Texas, em maio de 2000.

O silêncio da plateia tornou-se mais profundo ainda. Professor Afronsius bateu em retirada.

– Não esqueçam do IBAD. Se há corruptos, há corruptores. Uma máquina muito bem azeitada…

ENQUANTO ISSO…

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