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Pão com Salame
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Nunca comi tanto pão com salame e vinho como no mês de janeiro. É que, na esteira do livro Gomorra, resolvi ler O Poderoso Chefão, de Mario Puzo. E no livro, que nem preciso dizer do que se trata, eles comem pão com salame e vinho tempo todo. Pensei, deve ser a coisa mais saudável do mundo. O problema é que vou lendo e comendo e então, o cara morre no final do liv…bem, vocês sabiam que ele morria no final, não? Morre gordo e do coração, numa cena meio patética.

O fato é que, por causa disso, parei de comer pão com salame. No mais, a coisa já estava ficando parecida com meus tempos de balconista de vídeo-locadora. Os chefes da espelunca onde trabalhava eram legais, compravam lanche para os funcionários. Na segunda-feira tínhamos pão com mortadela. Na terça, pão com mortadela. Na quarta-feira, para variar o cardápio, era servido pão com mortadela, e na quinta-feira o que? Isso mesmo, pão com mortadela, que também era o lanche da sexta-feira. No sábado, para nossa felicidade, eles não iam compravam lanche. Mas alguém da padaria ia entregar deliciosos pães d’água recheados com mortadela.
Passei três anos comendo pão com mortadela rigorosamente todos os dias.

Minha vida se iluminou quando pedi demissão daquele subemprego. Por muito tempo fiquei sem um centavo no bolso, mas qualquer coisa era melhor do que comer mortadela. Meu cabelo cheirava como a distinta maçaroca de carne e a minha pele estava adquirindo um tom rosado semelhante ao produto derivado de animais não muito graciosos.

Eu não sabia, mas um amigo meu chamado Glauco Delinski me contou que existe uma hierarquia no ramo dessas porcarias. É um assunto interessante que, não entendo porque, nunca me dediquei mais a fundo. No topo está o presunto. Seguido de perto do presuntado. Depois vem o salame e logo abaixo, a famigerada mortadela. Então a coisa começa a declinar na cracóvia, até chegar ao chouriço e, por fim, no inimaginável queijo de porco, que deve ser feito com as unhas, os pelos e os excrementos do animal.

Se Don Vito Corleone tivesse comido pão com mortadela diariamente como eu comi, ao invés de pão com salame, ele dificilmente teria chegado ao topo do crime organizado, pois teria morrido do coração muito antes. Se eu tivesse comido pão com salame diariamente, ao invés de pão com mortadela, talvez hoje fosse uma pessoa normal, talvez vivendo na Sicília, com os rendimentos das minhas empresas de construção civil, importadora de azeite, lavanderias, pizzarias, de bookmakers do Bronx e uma ou outra extorsão, para não perder o hábito.

Como diria o próprio Padrinho, o destino do homem é um só. O dele era salame Milano (25 reais no mercado), o meu era a mortadela da padoca, 2 reais por 400 gramas. (Benett)

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Ei, tem um monte de charges novas no meu Blog de Charges!

Okie-dokie!


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