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ODOFIABÁ!
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Virá sob vibração das causas primeiras até à beira da praia arrastando as sete anáguas a forrar-lhe as vestes ornadas com pérolas. Sobre as ondas.

Espumas, cristais de forças litorâneas – tudo é transe, enigma, depósito de crenças em flores e presentes e velas e perfurme, sete versos/orikis, sete ondas verdazuis. Rum, rumpi e lé, mãos no couro dos atabaques. Brasil e África de muitas peles.

Barquinhos abarrotados de flores e presentes, pedidos feitos em silêncio submerso. Branco, preto, beges brasileiros – miscigenação, ecumenismo, sincretismo, a tal afro-transcendência.

Abebê mostrando tamanho do sorriso do mar, vasta cabeleira a servir de rede aos pescadores, hoje é dia de Iemanjá, divindade do mar, mãe de peixes-filhos, ventre quente. Odoyá.

Quem for pra beira do mar, verá a quantidade de desejos encaminhados. Lágrimas, olhos marejados, o transe liquefazendo demandas, esforço físico a buscar clarezas. Eu peço: leve a sofreguidão de muitos para o fundo do mar. A minha também. Saúdo: Yá sessu, eru yá mim. Tantas pétalas descoladas, preserve minha seiva. Mantenha-me ereto nas procelas.

Que não for pra beira do mar, saberá igualmente que hoje é dia 2 de fevereiro – afinal que o dia dela chegou. Imagens fortes, letras bem impressas darão conta de que o Brasil dos mares saúda a divindade coroada.


Alguém vai cantarolar ou assobiar Caymmi: “Dia 2 de fevereiro/ dia de festa no mar/eu quero ser o primeiro/ a saudar Iemanjá”. Todos os caminhos caymmianos deram nas águas de Dona Janaína, Dandalunda, tantas denominações.

Iemanjá abençoou as águas do doce homem que lia a linha do mar e conversava com o povo salinizado. Um olho no peixe, outro na jangada, ambiências marítimas, sargaço mar, promessa de pescador. “Tome conta de meu filho/ que eu também já fui do mar/ ê… ê…ê…ê…/A Alondê,Yemanjá Odoyá”.

A beira e o mar. E o amor que muitas vezes quer beber, se vira às salgadas águas e padece. O de comer vem em escamas e dissipa o cheiro forte de quem tem fome. As pratas e ouros, apenas o suficiente para manter um povo em ponto de honra. Dá peixes ou metáforas, senhora.

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Povo de matizes e aquiescências dançamos, cantamos, oramos, em transe ficamos muitas vezes no carnaval – é fevereiro – e nas roças. Contas, crucifixo, correntes , escapulários, folhas batidas de Angola, varetas agudas de Ketu, os santos: Nossa Senhora das Candeias, Senhora dos Navegantes, correspondências sincréticas.

Mitologia sincopada. Batuques e pedidos de proteção, saúdo assim, brasileiramente, Dona Iemanjá. Da Silva!

Mais informações sobre candomblé e divinidades afro-brasileiras no site www.orixas.com.br

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