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Karol Conka e seus convidados no palco da Boca Maldita, na Corrente Cultural - Foto: Kraw Penas
Karol Conka e seus convidados no palco da Boca Maldita, na Corrente Cultural - Foto: Kraw Penas| Foto:

Da Coluna Acordes Locais, publicada às quartas, na Gazeta do Povo:

Karol Conka e seus convidados no palco da Boca Maldita, na Corrente Cultural - Foto: Kraw Penas

Karol Conka e seus convidados no palco da Boca Maldita, na Corrente Cultural – Foto: Kraw Penas

A música sem os negros

Hoje é o Dia da Consciência Negra. O poder econômico e o judiciário não deixaram que a data fosse homenageada com um feriado. Não se pode perder o dinheiro de um dia. Um dia que não é apenas mais um dia, igual aos outros dias.

A escravidão no Brasil, que também foi apoiada pelo poder econômico e pelo judiciário da época, durou três séculos e meio. Aproximadamente 130 mil dias. Dias de vergonha. Dias infames. Dias para não esquecer e não repetir. Agora, passados cerca de 45 mil dias do fim da escravidão no Brasil, aqueles 130 mil dias não valem um dia.

Mas esta é uma coluna de música. Cantarei com Cartola a composição de Candeias, dois negros: “Deixe-me, preciso andar/ vou por aí a procurar/ rir pra não chorar.”

A música popular mundial seria muito chata sem os negros. Não existiriam o blues, o jazz, o rock, o rap, o samba, os ritmos nordestinos brasileiros, a rumba, o mambo e outros ritmos latinos, os ritmos árabes, os indianos … Dançaríamos valsa, polka e mazurka.

Na corrida da Corrente

A foto que ilustra esta coluna foi feita por Kraw Penas, um fotógrafo negro, durante a Corrente Cultural de Curitiba, na Boca Maldita. Esta é a turma da Karol Conká, MC curitibana, negra, que com toda sua beleza, gentileza e generosidade abriu o palco para convidados locais e forasteiros e transformou a Boca Maldita em uma grande festa de várias vertentes do rap. E ela, representante da música curitibana, está toda confortável sendo mainstream, merecidamente. E viva a mistura!

Assim como a alma (né, André Abujamra?), a música não tem cor. Quanto mais misturada, melhor. Assim como Karol Conká misturou amigos e tendências sobre o palco da Boca Maldita, eu me misturei na Corrente Cultural, correndo de um palco a outro. Aqui faço um resumo do que vi e senti, lembrando que, em um evento desse tamanho, não dá para ver e ouvir tudo e, aqui neste espaço, também não dá para escrever tudo.

No TUC, sala Ivo Rodrigues, aconteceram ótimos shows. Vi Punkake e Cabes MC. Vi Narciso Nada partindo para um novo e interessante caminho. Vi o Sick Sick Sinners quebrar tudo com a energia e competência de sempre. E, principalmente, vi Charme Chulo, pra mim um dos melhores shows de toda a Corrente, com a mistura de rock caipira, de uma qualidade excepcional.

Do TUC para outro palco, o da Carlos Gomes, com outro tipo de som. Uakti e a Orquestra de Câmara de Curitiba, apesar do grande atraso que atrapalhou minha perambulação sonora no dia, fizeram uma bela apresentação. Música de excelência que mistura elementos tradicionais, clássicos, a instrumentos criativos, exóticos.

Nas Ruínas de São Francisco, vi Anacrônica recuperando a melhor fase e se preparando para novos voos de forma consistente. Vi o Maxixe Machine, com o som um pouco pior, mostrar porque deve ser referência em música, letra e criatividade a todas as bandas de Curitiba. E, principalmente, vi Confraria da Costa reunir um público enorme e vibrante e pôr todo mundo para cantar e dançar ao som de seu rock pirata, num belo encerramento de atividades sonoras de um sábado musical.

VI outras boas apresentações, como Thayana, Alexandre Nero e a Orquestra À Base de Sopro, Moska e a Orquestra à Base de Corda. Vi o novato Ravi homenagear Waltel Branco. Vi a mistura total no palco da Monsenhor Celso onde tocava quem queria, sem burocracia (uma grande ideia que deve ser mantida).

Mas também vi falhas. A baixa potência ou má distribuição sonora atrapalhou quem ficou longe dos palcos mais lotados. O show de Moraes Moreira, que já tem um problema de voz, foi atrapalhado pela reverberação (eco) em vários pontos da plateia. Esses problemas não são notados pela maioria dos jornalistas credenciados, autoridades e organizadores, porque eles assistem aos espetáculos em locais privilegiados.

Mas os problemas não invalidam a grande festa que é este evento, que merece ter vida longa.

A propósito, a Corrente Cultural de Curitiba deste ano acertadamente homenageou e recebeu o nome de Waltel Branco, o maior músico popular do Paraná. Também um negro.

Veja alguns vídeos dos acima citados:

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