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Gigante pela própria natureza
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O texto abaixo deveria ter saído na Gazeta do Povo desta sexta, mas o jornalismo, assim como a vida, é imprevisível e, também como a vida, poderia ser melhor e sem limites de espaço. Então publico aqui, só para os íntimos leitores deste humilde blog, o texto de singela homenagem a um amigo barbaramente assassinado (a foto é de Maringas Maciel):

Gigante_Maringas_Maciel

Antonio Gilberto Lago respondia por um apelido que prova que ele nunca foi um homem pequeno: “Gigante”. Tinha o tamanho de seu sorriso, ou seu coração. Era dessas pessoas que vivem muitas vidas em uma só e está sempre a nos surpreender.

Quem o conhecesse apenas dos bares ou dos shows de rock, não o imaginaria a bordo de paletó e gravata, gerenciando uma agência bancária, ou atrás de uma escrivaninha entre os labirintos burocráticos de uma repartição pública.

Quem o conhecesse apenas pela garra e contundência de zagueiro das peladas em campos de areia, grama ou qualquer outro piso, mal saberia dele a delicadeza e a gentileza da amizade sempre sincera.

Aparentemente tímido, como imaginar que outrora aquela figura toda sorriso, então com cabelão e bigode e barba à la Frank Zappa apareceu pelado no meio do palco em um espetáculo do Rocky Horror Show, com a banda Blindagem, no Guaíra?

A barba espessa emoldurava os dentes sempre à mostra em eterno riso que antecedia o sempre carinhoso tratamento dado aos amigos na forma de se referir a eles como “Véio”, “Véi” ou “Veínho”. Um conforto ambulante, um oásis na cidade hostil.

Agora, até na morte, ele nos surpreende. Como pode o alegre e gentil Gigante ser vítima de tal brutalidade? Sua morte joga na nossa cara toda a violência que tentamos não ver, não sentir, mas que nos persegue, nos cerca e nos mata um pouco ou muito a cada dia.

Um poema ao qual sempre recorro nessas horas:

O morto

A morte impõe-nos a ausência
O mundo e o peito esvaziam-se
O nada deixa tudo enorme
Diminuímos
Um dia compreendemos
O morto não partiu
Carregamos o morto dentro
Há que se viver por dois
Honrando-lhe mente e alma
Somos uno em um duplo sutil
Sós, temos um outro que nos socorra
Vida e morte preenchem-nos
Somos três, somos dez, somos mil
Fortes como amor e amizade
Que a terra não cobriu nem o fogo consumiu

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