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A ciência torna obsoleta a crença em Deus? – Parte 7: Christopher Hitchens
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Chegamos à metade das respostas à Big Question da Fundação John Templeton, agora com a personalidade provavelmente mais conhecida dentre os 13 que escreveram ensaios sobre o tema. Afinal, esse jornalista e crítico literário é um dos mais famosos ateus militantes do momento!

Christopher Hitchens: Não, mas deveria


Christopher Hitchens é autor de “Deus não é Grande”

Para quem escreveu Deus não é Grande, convenhamos: é uma resposta intrigante. Hitchens começa lembrando que grandes nomes da ciência, como Isaac Newton e Alfred Wallace (o quase sempre esquecido “colega” de Darwin na elaboração das teorias evolucionistas), tinham suas crenças religiosas. Ele também recorda a definição de Stephen Jay Gould, para quem ciência e religião são “magistérios” que não se sobrepõem.

Mas Hitchens acha que o homem nunca teria adotado o monoteísmo se soubéssemos de algumas coisas, como o fato de a galáxia de Andrômeda estar em rota de colisão com a Via Láctea, ou o fato de a espécie humana ter estado à beira da extinção. Meu colega diz que só isso tornaria patética a idéia de que nossa presença no universo é parte de um plano. Para ele, que raio de criação é essa em que o resultado final é absolutamente nada, e em que o ser humano passaria 200 mil anos ralando por conta própria para só haver uma revelação divina uns 3 mil anos atrás?

Esse é um raciocínio que desconsidera de antemão – e o próprio Hitchens afirma isso no ensaio – qualquer resposta que um crente possa dar. Quer dizer, falo dos monoteístas, para quem a história da humanidade é linear, tem começo, meio e fim, e tudo com uma finalidade (conhecemos outras religiões que adotam uma visão mais cíclica da existência). É verdade que, aqui, nós, os que acreditam, ficamos meio que num beco sem saída. Nós sabemos que existe um plano, que ele se cumprirá, mas enquanto estivermos por aqui não entenderemos bem (todos) os porquês. Como diz São Paulo na primeira carta aos Coríntios, só vamos entender a coisa toda “do lado de lá”.

Hitchens ressalta que a religião não pode se basear apenas na existência de um Primeiro Motor, e basta. De fato, seria uma religião bem pobre – no primeiro ensaio que comentamos, Steven Pinker dizia que limitar-se a ser a causa final de todas as coisas seria um papel muito abstrato para uma divindade. Hitchens continua: “a fé precisa acreditar em orações atendidas, moralidade divinamente ordenada, garantia celeste para circuncisão, milagres e o que mais você quiser”. Depois ele diz que as ciências exatas têm explicado aquilo que costumava ser misterioso, e nos trouxeram hipóteses que são tão boas quanto, ou melhores que as respostas que a religião oferece. Pelo visto, esse raciocínio, o do “Deus das lacunas”, é comum aos ateus: também foi usado por Pinker, mas refutado pelo cardeal Schönborn.

Hitchens vai insistir na “religião como explicação do mundo” e dizer que o problema com a religião é ser a primeira e pior tentativa de explicação. “É o jeito que achamos de conseguir respostas antes que houvesse evidência. Pertence à aterrorizada infância da nossa espécie, antes que aprendêssemos sobre germes e pudéssemos explicar terremotos”, diz. Mas qualquer um que tenha religião sabe que ela não é isso. Talvez nem seja principalmente isso.

Provavelmente sabendo disso (que religião não é só explicação do mundo), Hitchens acrescenta que a divindade está na origem do totalitarismo. Não é à toa que o subtítulo do seu livro é “como a religião envenena tudo”. Nesse caso é preciso dar a mesma resposta à crítica de Robert Sapolsky: os piores totalitarismos que tivemos na história da humanidade foram… ateus.

O que Hitchens deixa para o final é a explicação da sua resposta. Por que a ciência deveria, mas não consegue tornar a crença em Deus obsoleta? “É por causa disso [das explicações insuficientes, do “totalitarismo”] que se desejaria que a ciência e o humanismo tornassem a fé obsoleta, ainda que constatemos, infelizmente, que enquanto permanecermos como primatas inseguros continuaremos com medo de quebrar a corrente.” Quer dizer, não abandonamos a religião porque somos um bando de medrosos. E olha que foi justamente Jesus que disse às pessoas para que não tivessem medo…

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Para saber mais sobre Christopher Hitchens:
O longo verbete em inglês na Wikipedia traz suas opiniões sobre uma infinidade de assuntos, bem como links para outros verbetes sobre algumas de suas obras.

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