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Albert Einstein se identificava com o "Deus de Spinoza": uma entidade que se revela na perfeição do universo, mas não se importa em nada com nossas vidas ou ações. (Foto: Ferdinand Schmutzer/domínio público)
Albert Einstein se identificava com o "Deus de Spinoza": uma entidade que se revela na perfeição do universo, mas não se importa em nada com nossas vidas ou ações. (Foto: Ferdinand Schmutzer/domínio público)| Foto:

Terminei, faz uns dias, de ler a biografia de Albert Einstein escrita por Walter Isaacson. Bastante abrangente e didática, consegue explicar a ciência toda (o que eu não entendi é culpa minha mesmo) e ao mesmo tempo nos faz conhecer bem a personalidade do físico, com seus lados positivos e negativos (marido infiel, pai ausente, essas coisas).

Einstein é um daqueles gênios que todo mundo gosta de citar quando o assunto é religião e ciência, especialmente por causa de frases famosas como “a religião sem a ciência é cega, a ciência sem a religião é manca” e “Deus não joga dados” (essa última só se pode entender totalmente dentro do contexto da sua resistência aos postulados da mecânica quântica). Mas o fato é que Einstein nunca foi particularmente religioso, exceto por um breve período em sua adolescência, em que praticou com afinco os preceitos do judaísmo. Fora isso, jamais foi um devoto, e o livro chega a citar as palavras desdenhosas que ele dedicou aos judeus que faziam suas orações no Muro das Lamentações.

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Outros episódios são mais curiosos, como o de um jantar em Londres no qual o cientista se sentou ao lado do arcebispo anglicano de Canterbury, em 1921. O arcebispo, alarmado com uma possível influência que a Teoria da Relatividade pudesse ter no aumento do relativismo moral, perguntou a Einstein que implicações a teoria tinha sobre a religião. O físico respondeu “Nenhuma. A relatividade é tema puramente científico e não tem nada a ver com religião”. Aliás, Einstein também compartilhava dessa preocupação com a confusão entre os dois conceitos.

Mas, afinal, quais eram as convicções religiosas de Einstein, se é que ele as tinha? Além das menções esporádicas ao longo do livro, Walter Isaacson dedica um capítulo especialmente a esse tema. A “religião” de Einstein não tinha nada a ver com a religião organizada ou com um sistema de crenças; era mais uma admiração, um encantamento com a harmonia e a beleza do universo. Diversas vezes o físico foi “provocado” para esclarecer no que acreditava, seja em entrevistas, seja por cartas que recebia. Juntando todas as respostas, sabemos que Einstein se irritava quando diziam que ele era ateu; o físico acreditava, sim, em uma divindade, que se revelava nas leis e na perfeição do universo, mas não em um Deus pessoal que se importa com as nossas ações – o cientista inclusive rejeitava a noção de livre arbítrio, aderindo a um determinismo quase absoluto. Mais de uma vez Einstein se referiu, como modelo para sua crença, ao “Deus de Spinoza”, uma espécie de designer distante. Não foram poucos os que recordaram o fato de o filósofo holandês ter sido banido pela comunidade judaica de Amsterdam, mas isso pouco importava para Einstein, cuja visão religiosa era coerente com a postura independente e não conformista que adotou como cientista e personalidade pública.

Pequeno merchan

Além de editor e blogueiro na Gazeta do Povo, também sou colunista de ciência e fé na revista católica O Mensageiro de Santo Antônio desde 2010. A editora vinculada à revista lançou o livro Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, uma compilação que reúne boa parte das colunas escritas por mim e por meus colegas Alexandre Zabot, Daniel Marques e Luan Galani ao longo de seis anos, tratando de temas como evolução, história, bioética, física e astronomia. O livro está disponível na loja on-line do Mensageiro.

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