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O Deus de Albert Einstein
| Foto:
Ferdinand Schmutzer
Einstein rejeitava um Deus pessoal, mas também não aderia ao ateísmo.

Nesta semana Michael Shermer publicou em sua coluna no Big Questions Online um artigo sobre as crenças de um dos maiores físicos da história, Albert Einstein. Costumam circular por aí algumas lendas piedosas; a mais famosa delas menciona um jovem Einstein destruindo um professor ateu durante a aula; outra, citada por Shermer, menciona um suposto diálogo entre o cientista e um padre jesuíta. Nada disso realmente aconteceu, mas o ponto de partida, tanto de Shermer quanto de Matthew Stanley em seu ensaio sobre Einstein no livro Galileo goes to jail, é a série de vezes em que Einstein se referiu a “Deus”, algumas vezes com frases que se tornaram bem famosas.

Carlos Ruas/Reprodução autorizada/www.umsabadoqualquer.com

Tanto Shermer quanto Stanley afirmam que os escritos de Einstein permitem concluir, sem nenhuma sombra de dúvida, que o cientista não acreditava em um Deus pessoal, o Deus da tradição judaico-cristã (Einstein era um “judeu não praticante”, embora defendesse os judeus como povo, e não o Judaísmo como religião). Em algumas ocasiões, o físico chegou a classificar como “infantil” uma crença num Deus pessoal.

No entanto, Einstein também rejeitava o ateísmo. Em uma carta citada por Shermer, o cientista escreveu: “Você pode me chamar de agnóstico, mas eu não compartilho do espírito de cruzada dos ateus profissionais, cujo fervor deriva principalmente de um doloroso ato de libertação dos grilhões da doutrinação religiosa recebida na juventude.” Einstein, ainda, se declarava “religioso”. Num sentido, no entanto, diferente daquele a que estamos acostumados. Em outra ocasião, o cientista disse crer no “Deus de Spinoza”, que se revela na harmonia do mundo, mas não dá a mínima para o que os homens fazem ou deixam de fazer. Stanley diz que, ironicamente, a fonte da religiosidade de Einstein era a mesma que o fazia rejeitar um Deus pessoal: a noção de causalidade universal. Era a isso que Einstein se referia quando afirmou, sobre seus motivos para fazer ciência, “quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Eu quero conhecer Seus pensamentos, o resto é detalhe”. Como diz Stanley, é perfeitamente possível substituir “Deus” por “natureza” sem violentar o pensamento do físico, já que para ele Deus é a natureza e suas leis, em vez de ser o criador delas.

Carlos Ruas/Reprodução autorizada/www.umsabadoqualquer.com

É à luz dessa noção que Stanley mostra como Einstein conciliava ciência e religião, a ponto de cunhar outra frase célebre: “a ciência sem a religião é manca, e a religião sem a ciência é cega”. Segundo Stanley, a ciência depende da religião para a convicção de que o universo é ordenado (algo, aliás, que os judeus e os cristãos já diziam há muito tempo, como explica Thomas Woods); e a religião depende da ciência para descobrir os detalhes sobre a incrível ordem do universo. Mesmo quem crê num Deus pessoal não tem como discordar dessa abordagem.

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Daqui a pouco embarco para São Paulo, para a premiação do Top Blog 2010, que ocorre hoje à noite. O Tubo de Ensaio é um dos três finalistas na categoria “blogs profissionais/religião”, tanto pelo voto popular quanto pelo júri acadêmico. Nas duas disputas, também são finalistas o Ancoradouro, de Fortaleza, e o blog da Ana Néri (que conheci pessoalmente quando estive no programa do professor Felipe Aquino). Queria agradecer a todos que votaram no Tubo, aos que fizeram campanha para convencer outros a votar, e aos comentaristas que tornam o blog melhor com seus insights e sugestões.

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