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Discutir a relação entre ciência e fé: bom o suficiente para Cambridge e Oxford, mas não para a USP. (Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP)
Discutir a relação entre ciência e fé: bom o suficiente para Cambridge e Oxford, mas não para a USP. (Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP)| Foto:

Lembram do curso Faraday que estava previsto para ocorrer na Escola Politécnica da USP, agora entre 9 e 12 de outubro? Pois é, teve de mudar de local quase na última hora. Depois de tudo acertado, divulgação feita, preparativos em curso, a organização avisou, no site do evento, que agora ele ocorrerá na Universidade Mackenzie, em São Paulo.

vista aérea da Cidade Universitária da USP

Discutir a relação entre ciência e fé: bom o suficiente para Cambridge e Oxford, mas não para a USP. (Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP)

Segundo o próprio site do curso, a USP (mais precisamente, pelo que apurei, a diretoria da Escola Politécnica) teria vetado a realização por se tratar de “atividade religiosa”, além de entender que “a realização do curso em seu câmpus ‘fere a laicidade de Estado'”. A Poli, por meio de sua assessoria de imprensa, deu outra justificativa. “A diretoria da Escola Politécnica da USP informa que a realização do Curso Faraday-Kuyper nas dependências da Escola não foi possível pois, na mesma data, será realizada a Virada Científica da USP, evento de grande porte do qual a Escola participará e que utilizará os espaços solicitados”, escreveu a assessoria.

A apuração do blog descobriu que estava tudo certo entre os organizadores do curso e a universidade, sem nenhum tipo de questionamento, até que começou a divulgação do evento, com cartazes sendo colados nos mais diversos espaços, como murais de faculdades e pontos de ônibus dentro da Cidade Universitária (sei que funciona assim porque estudei na USP). Aí é que começou o problema. Alguém, não está claro se foi aluno ou professor, nem se é da Poli ou de outra faculdade, viu e não gostou, encaminhando uma denúncia à ouvidoria da USP. A partir daí, os organizadores foram obrigados a “se explicar” a algumas instâncias da Poli e da universidade, que, como se diz popularmente, sentaram em cima do processo. Diante da demora para resolver a questão, em 26 de setembro os organizadores decidiram desistir da USP e procurar outra instituição para garantir a realização do curso na data prevista, até porque há convidados vindo do exterior. Só depois disso (quando Inês já era morta, ou seja, o curso não ocorreria na Poli de qualquer maneira) é que veio uma resposta da Poli, com duas alegações para que o curso não ocorresse lá: coincidência de datas com um outro evento, como a assessoria de imprensa da faculdade havia dito ao Tubo, e o caráter “religioso” do evento, o que feriria a laicidade do Estado. Quanto a essa segunda justificativa, a assessoria de imprensa da Poli disse não saber de nada.

Só posso lamentar que a USP (como eu disse, universidade na qual eu me formei em Jornalismo) tenha uma visão tão míope do que seja a laicidade do Estado, pois o curso Faraday-Kuyper não privilegia nenhuma confissão religiosa, nem faz proselitismo religioso. Uma simples olhada na programação indicaria que, sim, é um evento acadêmico, e não “religioso” como teria alegado a Poli. Aliás, a organização já havia tomado o cuidado de realizar fora do câmpus a única parte do curso que tem um caráter religioso, o culto do dia 12. A universidade, inclusive, já sediou outros eventos de ciência e religião no passado. E não deixa de ser irônico que o curso ainda apareça no site da USP, classificado como, adivinhem?, “evento científico” (aproveitem enquanto não tiram do ar).

Taí o print screen que não me deixa mentir. Imagem captada às 13h33 desta terça-feira. (Imagem: Reprodução)

Taí o print screen que não me deixa mentir. Imagem captada às 13h33 desta terça-feira. (Imagem: Reprodução)

E agora o detalhe do quadro onde se lê que o curso é um

E agora o detalhe do quadro onde se lê que o curso é um “evento científico”. (Imagem: Reprodução).

Também é uma pena que a USP não tenha se espelhado no exemplo de duas das principais universidades do mundo, Cambridge e Oxford, que têm até mesmo centros de pesquisa sobre a relação entre ciência e fé. Mas não fico totalmente surpreso. O preconceito antirreligioso da academia na América Latina foi inclusive citado no relatório final do projeto “Ciência e Religião na América Latina”, da Universidade de Oxford. E me recordo do caso do VI Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião, do qual participei em 2011, que deveria ter ocorrido na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), mas que também precisou mudar de local na última hora devido à hostilidade de alguns professores, que assinaram manifestos e chegaram inclusive a insinuar que a integridade física dos participantes estaria em risco caso o congresso ocorresse na Unam. Felizmente, a Universidade Panamericana se prontificou a receber o evento.

Mas em Curitiba está tudo confirmadíssimo!

Os curitibanos não têm o que temer. A PUCPR vai receber uma palestra de Hilary Marlow no dia 14. Vocês já fizeram sua inscrição?

Não perca a palestra do Instituto Faraday em Curitiba! (Imagem: Divulgação)

Não perca a palestra do Instituto Faraday em Curitiba! (Imagem: Divulgação)

(Aviso: o Instituto Faraday, citado neste post, deu ao blogueiro uma bolsa para participar de um curso na Universidade de Cambridge, em 2011)

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