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“Presságio”: ainda dá tempo de assistir
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Aproveitei o feriadão e fui ver Presságio, com Nicolas Cage. Tinha lido algumas recomendações na internet (inclusive do Roger Ebert, um cara que eu sempre lia na época em que trabalhava como crítico de cinema em São Paulo), e gostei do que vi.

Para quem não sabe do que se trata: em 1959, uma escola primária comemora sua inauguração com uma “cápsula do tempo”, em que estudantes desenham o mundo como eles acham que será 50 anos depois. Em 2009, a cápsula é aberta e cada aluno atual ganha um envelope. Um menino, filho de um astrofísico do MIT, ganha um envelope cheio de números, escritos por uma menina que, percebe-se logo no início do filme, parece meio paranormal. John Koestler, o astrofísico (Nicolas Cage), descobre que no meio da enorme sequência de números estão as datas de várias tragédias dos últimos 50 anos (ou seja, entre 1959 e 2009): atentados terroristas (inclusive o mais famoso deles), desastres naturais, acidentes trágicos, nos Estados Unidos e no resto do mundo.

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Em “Presságio”, John Koestler (Nicolas Cage) encontra, em rabiscos de 1959, as datas de vários desastres posteriores.

Obviamente, o astrofísico (e um colega igualmente cético) ficam intrigados com o fato. O negócio é que, na lista, ainda há fatos por ocorrer. Mais que isso não dá para contar, porque posso estragar a surpresa de quem ainda não viu o filme.

Aí entramos em alguns detalhes: o astrofísico é filho de um pastor (ok, aqui a relação entre ciência e religião vira um clichezão), e meio que perdeu a fé quando sua mulher morreu em um incêndio, o que lembra o personagem de Mel Gibson em Sinais (com a diferença de que, no filme de M. Night Shyamalan, o próprio pastor se torna cético após a morte da esposa). A desilusão de Koestler é mais evidente na aula em que propõe aos alunos uma discussão sobre determinismo, acaso e propósito. Koestler pergunta aos seus alunos: o universo é como é por simples acidente? Ou existe um propósito por trás disso tudo? Ou, ainda, os eventos que levaram o universo a ser como é, inlcuindo aí o surgimento da vida e sua evolução até a espécie humana, seguem uma cadeia de eventos predeterminada? Quando um aluno pergunta a Koestler no que ele acredita, ele diz que as coisas simplesmente acontecem.

É uma pena que a discussão não se aprofunde. Poderíamos ver, por exemplo, que determinismo nem sempre exige um propósito. Mas é impossível não pensar, por exemplo, no princípio antrópico. Levado ao extremo, ele sugeriria que o universo evoluiu da maneira como evoluiu com o propósito de permitir o surgimento da espécie humana (o que, para mim, já extrapola o campo da ciência). Nessa escolha entre propósito, acaso e determinismo, o filme faz uma opção (que, obviamente, não revelo aqui). Esse é um exemplo interessante de discussão em que partimos de dados científicos para chegar a conclusões filosóficas, ou teológicas. Dawkins, por exemplo, nega que haja propósito na natureza. Já um teísta certamente ficará muito feliz em admitir a existência de um propósito no universo.

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As leis do universo são o que são por acaso, ou o cosmo é regulado para permitir a nossa existência?

Não deixa de ser irônico que, no filme, uma profecia caia nas mãos de um cientista cético que consegue interpretá-la corretamente. Mas o que fazer depois? Até que ponto o fato de conhecer (do qual deriva o nome original do filme, Knowing) o futuro tornará possível mudá-lo? E, se não é possível mudar nada, o que nós ganhamos ao saber o que virá? Aliás, como percebeu um amigo meu que também viu o filme, parte da profecia em Presságio é “circular”: só se realiza como previsto porque parte do pressuposto de que alguém conhece a profecia; esse meu amigo cita Minority Report, em que o assassinato cometido por John Anderton só é possível porque Anderton conhece, de antemão, a previsão feita pelos paranormais, e por causa disso acaba envolvido numa trama que levará justamente ao crime.

Como eu disse no título do post, Presságio ainda está em cartaz em Curitiba. Mesmo que você não esteja assim totalmente interessado no debate filosófico, é um filme-catástrofe competente (os efeitos especiais são muito caprichados), com uma boa dose de suspense. Clique no nome do filme, lá no começo do texto, e você verá as salas e horários de exibição. E depois conte aqui o que você achou. Mas, caso for deixar um comentário que possa estragar a surpresa de quem ainda não viu, avise logo no começo!

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