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Cozinhando em Shenzhen
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Ni Hao,

Uma das coisas que mais me perguntam sobre a China é “como você faz para comer?”. Bom, outro dia abri a porta do armário da cozinha e me surpreendi com a quantidade de garrafinhas de tempero que havia lá dentro. Tentei lembrar quando é que eu tinha comprado tudo aquilo, mas eu mal conseguia ler os rótulos, quanto mais saber como elas foram parar ali.

Depois de um tempinho, me toquei de que, obviamente, aquilo só podia ser coisa da Liu. Foi então que resolvi escrever sobre o assunto “comida” e matar a curiosidade das pessoas, principalmente daquelas que estão vindo morar aqui. Este assunto renderia diversos posts, então, como sempre, vou falar basicamente do nosso dia-a-dia; da vida real.

Para começar a entender um pouco os hábitos alimentares dos chineses, eles fazem questão de comer comida super fresca, por isso vão ao mercado todo o santo dia comprar os legumes e as carnes do almoço e do jantar.

O Walmart parece um Sea World de tanta diversidade de peixes e frutos do mar que oferece. E o que é que eu, que não sei limpar peixe, compro? Filé de linguado congelado pela bagatela de 10RMB, 500 gramas, ou seja, R$3,00. No mercado municipal, o camarão nadando na bacia custa 50RMB meio quilo. O camarãozinho, ainda na bacia, mas que acabou de falecer, dá para comprar por 25RMB.

Mais do que comprar tudo fresquinho, os chineses fazem questão de comer a comida que acaba de sair da panela.
Num restaurante chinês, a gente senta em mesas redondas, pede diversos pratos e todos dividem a comida com todos. Desta forma, cada prato que vai ficando pronto vem direto para a mesa e é imediatamente atacado por pauzinhos nervosos.

Quando saímos com amigos chineses, a corrida aos pratos é injusta, pois não temos a mesma destreza deles com os kuaizi 筷子(hashi é em japonês). Junte-se a isso o fato de que os pauzinhos não são de pau, mas de plástico, o que piora muito a coisa. Eles são mais pesados, a comida escorrega e os próprios pauzinhos ou melhor “plastiquinhos” também escorregam das nossas mãos facilmente. A gente tem até uma aposta na família que é a de ver quem vai deixar os kuaizi caírem no chão do restaurante primeiro. O campeão? Dudu, é claro.

Por outro lado, o que normalmente acontece quando vamos a um restaurante ocidental é que o cozinheiro e o garçom mantém o ritmo chinês: cada prato que fica pronto vai direto para a mesa. Ou seja, todos comem separados e infelizes, seja porque há olho grande na sua comida, seja porque o seu é o único prato que ainda não chegou!

Semana passada, fomos almoçar com amigos chineses (sozinhos, ainda não somos capazes de ir a um restaurante que não seja ocidental) e aproveitei para filmar e fotografar para vocês:

Chris
Chris
Chris
Chris
Chris
Chris

Voltando à Liu. Toda semana eu dou 100 RMB (trinta e poucos reais) para ela ir comprando diariamente os legumes da semana e, como nós acabamos de descobrir, comprar também os temperos chineses. Conclusão: a Liu, a quem ensinei a cozinhar comida brasileira (eu ensinando alguém a cozinhar é de rolar de rir), acabou dando um toque chinês aos nossos pratos típicos usando seu arsenal de pós, óleos e molhos estranhos.

Temperos chineses à parte, dois ingredientes brasileiros conquistaram o coração da minha querida ayi (tia ou empregada em chinês) e ela já me pediu para trazer uma mala cheia da próxima vez que formos para o Brasil: queijo ralado e sopa de cebola para temperar as carnes.

Chris

As refeições aqui em casa acontecem da seguinte forma: eu saio às 7:30 para universidade e chego em casa quase à 1 hora. Quando eu toco a campainha, a Liu vem correndo, fazendo barulho com seus chinelinhos, abre a porta e chispa para cozinha fazer o legume da vez. Bem fresquinho. O mesmo diálogo se repete então:

_ Liu: Ontem, na TV, eles fizeram este prato. Risinhos. Eu não sei cozinhar, mas quero fazer uma coisa diferente todos os dias para você comer. Risinhos. Você prova. Se gostar, eu faço de novo. Se não gostar, eu não faço mais. Risinhos.

_Eu: Hum, Liu, está uma delícia. Pode fazer de novo.

_ Liu: Risinhos, risinhos, risinhos… eu não sei cozinhar, mais risinhos.

E o que ela cozinha para mim?

Todos os tipos de vegetais, ovo com tomate (prato típico do sul da China), tofu com aipo, porco com pimentão, camarão com broto de feijão, brócolis com creme branco, pepino com coentro e por aí vai. Tudo com o mínimo de óleo, ao contrário do que os chineses gostam, e com todas aquelas poções mágicas que estão dentro do armário.

Para as crianças, que chegam da escola por volta das 5:00, eu coloco um cardápio na porta da geladeira só de comidas brasileiras. Antes o cardápio era em inglês, mas agora eu escrevo em chinês para ir treinando os caracteres. Volta e meia nem eu mesma consigo ler o prato do dia.

Chris
Chris

Enfim, leitores, dá para viver tranquilamente na China comendo comidinha caseira brasileira, usando os ingredientes disponíveis por aqui. E a nossa comidinha sino-brasileira vem conquistando o coração de todos os amiguinhos da escola das crianças. A casa vive cheia!

Já falei para Liu: quando você se aposentar, vamos abrir um restaurante!

Risinhos.

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