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Geração Coca-Cola
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“Somos os filhos da revolução. Somos burgueses sem religião. Somos o futuro da nação. Geração Coca-Cola”.

Eu nasci em 1965, no início da revolução, o que me faz integrante da geração Coca-Cola, como bem definiu Renato Russo. Morei cinco anos em Brasília, numa super quadra de oficiais de Marinha, onde as crianças pouco falavam sobre política.

Minha volta ao Rio de Janeiro em 1979 quando começou a anistia política; minha ida para França onde morei até 1982 sob um regime socialista e, posteriormente, minha entrada para a universidade me mostraram formas diferentes de pensar a questão dos regimes políticos.

Como o discurso de casa era muito diferente do discurso das ruas, me mantive, propositalmente, afastada da política. Pelo menos, é essa a explicação que encontro em minha memória por não ter participado das passeatas pelas Diretas Já em 1983 nem do impeachment do Collor em 1992.

De lá para cá, o Brasil nunca mais se uniu para reivindicar o que quer que fosse. Mas hoje, 30 anos depois, a última gota caiu fazendo transbordar o balde de ressentimento, indignação e paciência dos brasileiros.

Este seria o momento de pagar a minha dívida de omissão para com o Brasil e sair às ruas carregando cartazes com frases de reinvindicações. Mas, onde estou eu neste momento?

Simplesmente, do outro lado do mundo! Mais do que isso. Num país comunista que experimentou este regime até o limite do suportável. Aqui, eram os capitalistas que comiam as criancinhas. E esse discurso era levado ao pé da letra, com ordens de comando para matar os capitalistas demoníacos. Sugiro dar uma olhada no post sobre o Terry e a leitura de mais um livro: O último bailarino de Mao.

Mas, evidente que tudo isso mudou, se não já teríamos virado Brazilian Barbecue, literalmente. Mas, apesar de estarmos em uma China mais aberta, mais flexível e que recebe os estrangeiros de braços abertos, ainda assim, já tivemos a polícia batendo em nossa porta pedindo para checar nossos passaportes.

Atualmente, até mesmo as crianças estão sendo paradas nas ruas para apresentarem seus vistos de residentes, como aconteceu com o Marquinhos e seus amigos de 14 anos.

Portanto, pelo sim, pelo não, nós supostamente não estamos autorizados a fazer passeatas, mesmo que elas nada tenham a ver com a China. Nosso receio é que as autoridades chinesas pensem que, ao manifestarmos nosso desagrado pelo governo brasileiro, estejamos por tabela incitando os chineses a fazerem o mesmo.

No entanto, se olharmos o que vem acontecendo na mídia, a impressão é outra.
A CCTV, rede de TV oficial da China, está dando ampla cobertura aos eventos do Brasil, assim como os jornais distribuídos aos expatriados como o Shenzhen Daily.

Chris

A CNN, que apesar de fechada, algumas vezes é retirada do ar quando fala de assuntos mais delicados, também vem noticiando as manifestações sobre o Brasil a cada hora.

O Youku exibe vídeos diversos sobre as manifestações, inclusive um que brinca com o fato do brasileiro ser tão bom de futebol, que chutou uma bomba de gás lacrimogênio de volta para os pés da polícia.


Segundo nossos amigos chineses, o Brasil está muito distante geográfica e culturalmente do Brasil, por isso as notícias estão correndo soltas. Parece que o mesmo não vem acontecendo com os problemas no Egito que, além de mais próximo, é governado atualmente por uma junta militar.

Bom, já que não podemos estar aí no Brasil com vocês, a Família Brasileira na China organizou sua própria manifestação de solidariedade. Filhos e netos da revolução, geração Coca-Cola e geração digital juntas por um Brasil melhor.

Olivia Zandstra
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