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Tomates cerejas recheados de pesto. Foto: Divulgação
Tomates cerejas recheados de pesto. Foto: Divulgação| Foto:

Goulash de seitan e cogumelos. Foto: William Reavell/Divulgação

Quando vi na fan page da Editora Alaúde que um novo livro sobre vegetarianismo já estava no prelo, suspirei e esperei. Gosto muito dos títulos deles (como já falei aqui e aqui) e qual não foi minha surpresa ao ver que Indispensável, da autora croata Dunja Gulin, é, na verdade, um livro de receitas veganas! Em inglês o título é Vegan Pantry, ou “despensa vegana”, o que faz o trocadilho com a palavra “indispensável” ficar no ponto. “Fiquei um pouco surpresa com o título em português, é bem diferente das outras traduções. Mas faz sentido: todo cozinheiro precisa de uma despensa e toda pessoa precisa comer vegetais diariamente para estar saudável. Então é um livro realmente indispensável”, brincou Dunja.

Muito mais fácil do que adaptar preparos é seguir o bê-a-bá de quem passou pelo caminho das pedras. Por isto, Indispensável é ótimo para iniciantes: a introdução – que a autora julga longa, mas é imprescindível em um bom livro de receitas – ensina a cozinhar leguminosas e grãos (desde o tempo médio de preparo a detalhes como se a água deve estar quente ou fria), quais produtos manter na despensa e para quê podem ser usados e também preparos de ingredientes básicos, como seitan caseiro, pão sem glúten, massa de pizza, queijo vegetal com rejuvelac e formas de marinar e preparar tofu, tempeh e seitan. O livro custa R$ 74.

O meu exemplar tá assim: cheio de post its nas receitas que ainda quero testar. Foto: Flávia Schiochet/Arquivo pessoal

Conversei com Dunja por e-mail, e ela me contou sobre sua infância e adolescência na Costa Adriática, na Croácia. Ela começou a cozinhar ajudando a família e preparando pratos para amigos. Logo na adolescência se interessou por alimentação natural e meteu-se a trabalhar como auxiliar de chefs croatas desta área. Ela é autora de outros três livros de receitas veganas: Doručak (“café da manhã”), The Vegan Baker, Raw Food Kitchen e Fermented Foods for Vitality & Health todos inéditos no Brasil, mas os três últimos podem ser encomendados em algumas livrarias. Em seu site, há vídeos em que a autora ensina receitas – se você entender alguma coisa, faça uma legenda pra todos nós podermos acompanhar, por favor, rs. São várias as influências de Dunja, desde macrobiótica até crudivorismo, e suas receitas são a expressão do comfort food pra mim. Aqui está um trecho do nosso papo:

A croata Dunja Gulin, autora do livro

A croata Dunja Gulin, autora do livro “Indispensável”. Foto: Divulgação

Dunja, no seu livro você diz que experimentou o vegetarianismo e a macrobiótica ainda na adolescência. O que a fez optar pela cozinha vegana?

Tive sorte de crescer na costa Adriática onde as pessoas cozinham muito e se importam com a qualidade da comida. Vegetais formam grande parte da dieta mediterrânea, então eu sempre comia muita coisa plant-based e nunca gostei de comer muita carne. Meu pai foi vegetarianos por um tempo, então eu comecei a ler muito sobre isso bem cedo em minha vida, e eu gostava de receitas vegetarianas. Aos 15 anos eu assinei uma revista sobre vegetarianismo e a partir daí sempre estava atrás do que era novidade no cenário de comida saudável. Foi assim que entrei na macrobiótica, que é uma filosofia oriental muito interessante. “Vegan” nem era uma palavra naquela época; é uma palavra relativamente nova para uma dieta baseada em plantas. Apesar de eu não seguir uma dieta totalmente vegana*, a maior parte da semana eu preparo comidas veganas em casa e trabalho apenas com comida vegana em retiros de yoga, conferências e cruzeiros.

 

Ao combinar vegetarianismo, crudivorismo e macrobiótica, qual o retorno do seu público? Você acredita que ainda exista um estigma relacionado à culinária natural?

A resposta é incrível e este livro está sendo traduzido para muitas línguas, então acho que isto responde à sua pergunta! 🙂 Eu acredito que a maior parte das pessoas apreciam minha abordagem mais compreensiva e descontraída para cozinhar e para comer; não estou me limitando a uma dieta em particular, e não julgo as escolhas que as pessoas fazem. Estou feliz de poder ensinar a quem quer que esteja interessado em como preparar um prato vegano realmente saboroso e saudável. Eu aprendi muito com a abordagem macrobiótica, mas desde então eu segui combinando essa filosofia com os métodos de preparação das cozinhas mediterrânea, vegetariana, vegana e crudívora e criei meu próprio estilo de cozinhar – uma abordagem sem dogmas e parece que as pessoas têm gostado disto! Não haverá estigma se você não está pregando e fazendo da dieta uma religião – todas as tradições existentes no mundo combinam comidas cozidas e cruas, plantas e animais. É só uma questão de encontrar uma dieta que funcione para você, seja ela vegana ou não. Mas comer mais refeições plant-based definitivamente ajuda a manter o corpo humano saudável e feliz!

Tomates cerejas recheados de pesto. Foto: Divulgação

Tomates cerejas recheados de pesto. Foto: William Reavell/Divulgação

Existe algum segredo para um prato vegano ser saboroso? É o equilíbrio entre os cinco gostos?

Existem pequenos truques que fazem a diferença, e não só para a culinária vegana.Tento ensinar às pessoas os princípios básicos da cozinha em vez de lhes dar apenas as receitas, porque há milhares de receitas em livros e na internet, mas se você aprender como incrementar o sabor com ingredientes básicos, então vocês estará livre de receitas e qualquer coisa que você preparar ficará saborosa. Tento explicar o passo a passo do método de construir o sabor porque acredito que seja importante saber em qual etapa do preparo você coloca temperos, ou se você acrescenta água quente ou gelada ao refogar vegetais ou o que é melhor ser posto no começo e no final do cozimento. Eu também uso alguns realçadores de sabor naturais, como alga kombu, vinagre de umeboshi [uma conserva japonesa de ameixa salgada], molho de soja tamari, etc. É importante aprender estes truques, eles podem transformar um cozinheiro amador em um excelente chef!

 

Como é seu método de criação e adaptação de receitas?

Em muitos casos eu pego a receita “tradicional” e tento encontrar um jeito de torná-la vegana sem perder o sabor e as texturas originais. Isto é especialmente desafiador em sobremesas, porque muitas delas dependem de leite e ovos. Um bom número de receitas dos meus livros são versões veganas dos meus pratos preferidos preparados pelas minhas avós quando eu era criança. Este é um livro formado principalmente por estas receitas reconfortantes, que nos fazem mais felizes, alimentam nossas almas. Isto também é importante, e não apenas nutrientes. É o amor e a energia que colocamos na comida. Avós são ótimas fazendo isto!

Às vezes eu pego um prato popular que o mundo inteiro ama, como pizza, curry, goulash, cream cheese, bolo de chocolate, etc, e faço uma versão vegana que pode ser mais gostosa que o original. Posso testar a receita mais de dez vezes até estar satisfeita com o resultado, mas às vezes acerto logo de primeira. É um trabalho imprevisível, escrever um livro. Mas eu amo!

Arroz selvagem com rúcula e pinóles. Foto: Divulgação.

Arroz selvagem com rúcula e pinóles. Foto: William Reavell/Divulgação.

Você acredita que ao optar por uma alimentação vegana as pessoas deveriam atentar para escolhas mais saudáveis? Nos dias de hoje, temos tantas opções industriais e eu vejo tanta gente entrando neste estilo de vida e consumindo apenas junk food…

Vegan e saudável definitivamente não são sinônimos. Eu encontro muita gente que come apenas comida vegana, mas faz péssimas escolhas, e também muita gente que não é vegana, mas tem uma dieta saudável. É isto que explico em detalhes na introdução deste livro: além de ver se o ingrediente é vegano, ele também deveria ser integral, sem aditivos químicos e orgânico sempre que possível. Por exemplo, uma sobremesa baseada em margarina e açúcar processado é vegana, mas muito prejudicial à sua saúde. Um molho feito com proteína texturizada de soja no lugar de carne é vegano e altamente proteico, mas de forma alguma é saudável. Aconselho que as pessoas escolham mais ingredientes que venham diretamente da natureza, que cozinhem “do zero” sempre que puderem, que comprem temperos e condimentos de qualidade e que evitem refeições pré-prontas e processadas. Este é um conselho para todo mundo, não apenas para as pessoas que são ou tentam ter uma alimentação livre de derivados animais. 

*Para este texto foi considerado o conceito de dieta como a escolha de ingredientes e alimentos de uma pessoa, por isto a expressão “dieta vegana”.

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