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Aventura pelo Marrocos
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A medina de Fès é a maior do mundo com cerca de 200 mil habitantes

Poderia começar falando das medinas marroquinas, do deserto, da história, da cultura árabe, mas escrevi esse post sentada no trem de Tanger para Fez enquanto duas crianças árabes de cerca de 4 e 6 anos cantam em alto e bom tom, com uma pronúncia quase perfeita, e de cor, Michel Teló, “Ai se eu te pego”, pode? Fazia tempo que eu queria contar sobre esses “fenômenos” musicais. Essa música e a do Gustavo Lima(aquela do “tchê tchê rere”) tocam em todas as rádios por todos os cantos, desde a África do Sul, passando pela Turquia, Europa e agora Marrocos. Impressionante o poder de disseminação destas músicas. A cada esquina, em qualquer canto do mundo, vemos alguém cantando ou o celular tocando “Ai se eu te pego!” Não sei se rio ou choro!

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A segunda classe nao tem lugar marcado marcado, é de quem chegar primeiro

Um país exótico
Sair da Europa para o Marrocos é sem dúvida alguma um impacto sem tamanho. Para quem nunca esteve em um país muçulmano, mais ainda. Calor de 40°C pra começar, cheiros bons e ruins se misturam pelas ruas estreitas tipo labirinto, poeira vermelha, mulheres vestidas dos pés a cabeça, gente por todos os lados falando árabe ou francês (segunda língua), gatos e mercados de rua por todas as esquinas. Os árabes falam alto, mas não como na Itália ou na Espanha, eles berram e muitas vezes é impossível saber se estão conversando ou brigando. Estão sempre carregados com muitas sacolas (ficávamos imaginado o que teria dentro), não respeitam fila e tão pouco mulheres. Querem constantemente tirar vantagem em tudo, sobretudo com os turistas, não se preocupam com a higiene, fazem xixi de pé em “vasos” no chão, e assim por diante. Parece um caos, não? E realmente é, mas não desanime. É interessante. Muito.

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Trem de Tanger à Fès – pessoas em pé voltando para casa antes do Ramadã

Free fighting
Enquanto eu escrevo essas linhas, para comprovar o que estou dizendo, dentro do trem, por coincidência ou não, alguns árabes, que estão em pé porque não há lugar para todos, começam a se estapear no meio do vagão entre gritos de mulheres e crianças. As brigas, tapas, socos e discussões entre eles são comuns em qualquer lugar. Essa não foi a primeira que presenciamos. Já estivemos presente em duas: uma feia dentro de um micro ônibus na Jordânia, e outra agora em Tanger, também dentro do ônibus para o centro da cidade. O pior é que não conseguimos entender uma só palavra do que falavam e nunca saberemos o motivo. Ainda bem que em nenhuma delas nada de mais sério aconteceu. No primeiro momento cheguei a me assustar, achando que ainda voaria algum homem enorme daqueles por cima de nós e não teríamos para onde correr. Agora, depois de passar por alguns países muçulmanos acho engraçada a situação. As vezes a ignorância é sábia. Não entender o que acontece nos protege! Viva a diversidade cultural!

Essa viagem pelo Marrocos que acabou de começar está uma aventura e ainda promete. Depois da briga e de um calor de derreter o cérebro dentro do trem, ele pára no meio da rota e alguns jovens descem correndo para roubar frutas e verduras das plantações em volta do trilho. Em seguida os donos das terras chegam munidos de paus, pedras e foices e começam a se defender e a jogar pedras nos jovens. Resultado: mais de duas horas de atraso. Sem contar que quando começamos a andar novamente, crianças nas ruas atiravam pedras nas janelas que se estilhaçavam. Tensa a situação.

Conversando com um guia de turismo marroquino que conhecemos durante a viagem, soubemos que aquilo não era muito comum. Os trens estavam lotados e os ânimos exaltados, pois em dois dias começaria o Ramadã, um período de tempo no ano (entre 29 e 30 dias) em que todos os muçulmanos adultos devem fazer jejum de comida, bebida e sexo, durante o dia – do nascer do sol ao pôr do sol. Segundo o guia, os árabes costumam sair de férias antes e retornam às suas casas para ficar perto da família nessa época e por isso a agitação e quantidade de gente nas ruas e nos trens. Mais uma experiência interessantíssima. Bingo! Acertamos na mosca! E viva a diversidade cultural!

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Estação de trem em Fès, Marrocos

As primeiras horas no Marrocos foi uma prova olímpica de atletismo. É preciso se preocupar com as mochilas, acertar o vagão e ainda disputar um lugar para sentar. Os trens cheios, praticamente sem ar condicionado que não dava conta de tanta gente, e toda essa situação fez nossa estadia com os árabes ainda mais “divertida”- digamos assim (nessas horas é preciso ser rápida e rir, não tem outra).
Adrenalina, emoção, free fighting? Venha para o Marrocos!

Depois desse panorama geral das nossas primeiras horas aqui, para aqueles que ainda querem vir para cá (rs, brinco mas para vir e gostar é preciso estar no espírito, estar disposto, ler sobre a cultura muçulmana e se preparar), vou contar o que fizemos e um pouquinho sobre cada lugar que passamos. Nesse post, acho que as fotos falam mais que as palavras.

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Nossa maratona de espera entre um trem e outro

Maratona
Nossa jornada foi pegar o carro em Barcelona e descer até Algeciras, no sul da Espanha, pertinho do Marrocos. Deixamos o carro estacionado no porto da cidade e então pegamos o ferry para Tanger, do outro lado do Estreito de Gibraltar, já em terras marroquinas. Esse trajeto de ferry é rápido e barato: 1h15 e 25 euros por pessoa. Até ai, tranquilo. De lá fomos para estação de trem para irmos até a cidade de Fès, nossa próxima parada. De Fès pegamos um trem de longa distância para Marrakesh. Nossa última parada no Marrocos foi Essaouira, no litoral. Imaginem para voltar à Espanha quantas horas viajamos? Mais de 30 horas.

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Vista de cima do Riad da medina de Fès

Fès, a maior medina do mundo
Fès tem uma população de 1,5 milhões de pessoas, entre árabes e berberes e foi a primeira capital do Marrocos durante mil anos. Hoje a capital é Rabat. É em Fès que está a maior medina do mundo – cidade antiga construída dentro das muralhas, onde vivem cerca de 200 mil pessoas em ruas-labirinto que satélite nenhum consegue identificar, ou seja, impossível se localizar e não se perder. É preciso contratar um guia!

A medina de Fès tem 15km, 14 portas e 789 mesquitas. Cada cidade marroquina costuma ter a sua e elas possuem características semelhantes como, além das milhares ruelas, os mercados chamados de “souqs”, fontes d’água artisticamente trabalhas em mosaicos para que se lavem antes das orações, mesquitas, o mellah (bairro judeu), o banho turco, a escola para abrigar estudantes islâmicos e ensinar o Alcorão – chamada de madrasa, e um forno comunitário para assar pão.

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As madrasas são escolas para abrigar estudantes e ensinar o Alcorão ao jovens

Para entrar realmente no espírito do país, o melhor é ficar hospedado dentro da medina, nos Riads. Há muitas opções com preços melhores ainda. O Marrocos no geral é barato. Recomendamos o Riad que ficamos: Zitouna. Como é inevitável contratar um guia para nos guiar pelas ruas, fizemos um roteiro recomendado pela gerente do Riad e tradicional da cidade. Visitamos a madrasa, o bairro judeu, fomos numa cooperativa de cerâmica onde se fazem fontes e os famosos tajines – travessas de argila que vão ao fogo para cozinhar uma comida típica. Visitamos o curtume, lugar insalubre com um cheiro terrível onde eles tratam e tingem o couro para fabricação de calçados, casacos e bolsas; e fora da medina, o Palácio Real.

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Pelas ruas e souqs da medina os comerciantes vendem de tudo, inclusive carne de camêlo “fresquinha”

A culinária marroquina é uma delícia, mas são bem condimentadas. É preciso cuidar onde comer, para evitar intoxicações. Cuidado com os sucos te laranja naturais que são baratos mas a higiene… Preste atenção nos famosos souqs marroquinos (eles vão te chamar a atenção!), mercados que vendem de tudo – carnes, temperos, roupas, pratas, bijoux, luminárias, remédios, cerâmicas, lenços – e estão por toda a medina. Não se esqueça de negociar muito os preços, mas somente se tiver realmente a intenção de comprar!

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Os souks de Marrakesh

Pra lá de Marrakesh
Marrakesh é a cidade mais visitada do Marrocos por sua medina, hotéis e resorts de alto nível(fora da medina), além do comércio dos souqs, atraente e barato. De tanto que gostava, o estilista Yves Saint-Laurent comprou uma casa e passava temporadas aqui.

Porém, se você quer vir pra cá, não venha em julho como nós. Em Marrakesh pegamos uma temperatura que nunca imaginamos: 49°C. Quase insuportável. Juro. Para se ter uma ideia, o ar é seco e o sol é tão forte que bebemos mais de 5 litros de água em uma caminhada e tive que tirar o brinco de metal e o relógio porque queimavam. Para melhorar, passei o primeiro dia inteiro da cama para o banheiro, do banheiro pra cama sem condições de sair. Eles não são higiênicos e devo ter comido algo que não fez bem.

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Praça de Jemaa el-Fna à noite

Ficamos hospedados dentro da medina em Marrakesh. Aqui é mais fácil de se localizar e não precisa necessariamente de guia. É possível pegar o mapa e percorrer os principais locais a pé ou de taxi, extremamente barato (não se esqueça de negociar!). Aproveite para experimentar o famoso cuscuz marroquino e curtir a praça central a Jemaa el-Fna, onde tudo acontece: encantadores de cobra, dançarinos, músicos, mercado de comidas e bugigangas.

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As muralhas que protegiam a medina de Essaouira dos piratas

Pelos ventos de Essaouira
Essaouira ou antigamente chamada de Mogador (Portugal invadiu no século XVI) foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2009. Fica a 180 km de Marrakesh e é destino daqueles que querem fugir das grandes cidades para relaxar e também ter uma folga do calor de Marrakesh, pois fica pro lado do mar. Para se ter uma ideia, depois de 2h de ônibus de viagem, a temperatura de uma cidade para outra pode variar em 20°C e é preciso tirar um casaquinho da mochila porque venta muito. É destino de surfistas e dos amantes dos esportes aquáticos.

Aqui também ficamos dentro da medina – bem pequena e tranquila para se localizar e fazer tudo a pé. Foi nosso lugar de descanso das pernas e do calor!

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Devido à sua localização estratégica, Essaouira, foi desde sempre cobiçada, nomeadamente pelos portugueses, que a ocuparam no século XVI
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Porto de Essaouira, Marrocos
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Pela medina de Marrakesh
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Especiarias vendidas pelos souks de Marrakesh
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As cobras da praça a Jemaa el-Fna. Eu não poderia ser uma encantadora de cobras
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O calor era tanto que o Seba foi convidado a tomar um banho de mangueira nas ruas de Marrakesh
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Palácio Bahia, em Marrakesh
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Meio de transporte principal nas medinas marroquinas
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Porta do Palácio Real, em Fès
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Fontes espalhdas pelas medinas
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Fès
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Curtume para tratar o couro em Fès
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Farmácia em Fès e eu tentando extrair a semente de Argan
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As medinas e suas ruelas, Marrocos
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Riad Zitouna, em Fès
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Tajine de carne com ameixa, comida típica morroquina
arquivo pessoal
As luminárias marroquinas que não pude comprar. Como vou carregar?
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Nosso próximo destino: Madri e Toledo!

Venha com a gente nessa viagem: raphaeseba@gmail.com e acesse Facebook

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