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Brasil tem produção de azeite de oliva pequena, mas premiada no mundo
Premiado internacionalmente, o azeite de oliva brasileiro ainda é raro nas gôndolas dos supermercados do país. O Brasil está na lista dos principais importadores de azeite de oliva e dá os primeiros passos para se posicionar como um produtor de qualidade — porém ainda longe de ser referência em quantidade. O processo é rápido: leva pouco mais de uma hora para se extrair o azeite dos frutos da oliveira, e deve ser feito o quanto antes para que a azeitona não oxide.
O cultivo de oliveiras no Brasil tem pouco mais de dez anos e foi a partir de 2013 que alguns produtores colheram o suficiente para lançar as primeiras marcas. São todos azeites de oliva extravirgem, ou seja, apresentam acidez menor que 0,8%, aromas e sabores frutados e isentos de qualquer defeito, tais como ranço ou textura viscosa.
Segundo o Ministério da Agricultura, a produção brasileira em 2017 é estimada em 60 mil litros, contra 30 mil do ano passado. O escoamento da produção por ora é restrito a empórios locais e lojas de fábrica.
Diminui ainda mais o volume de produção o fato de o azeite mais rico e saboroso ser extraído do fruto ainda imaturo — quanto mais verde o fruto, menos óleo. Para os especialistas, ainda é cedo para cravar características próprias no aroma e sabor das azeitonas cultivadas em solo nacional. “Ainda é muito cedo, porque os olivais têm no máximo sete anos desde que foram plantados [na Serra da Mantiqueira]. A oliveira leva quatro anos para frutificar, portanto foram três. O inverno de 2015 foi ruim, então o azeite feito em 2016 foi completamente atípico e não é parâmetro. As características da safra de 2017 imaginamos que sejam permanentes: notas predominantes de maçã verde, amêndoas maduras, grama verde e mato cortado”, descreve Nélio Weiss, que lançou em 2017 a marca Olibi.
Também na Serra da Mantiqueira a vinícola Guaspari investiu em azeitonas para diversificar o potencial da região e os primeiros resultados foram bem recebidos. “O azeite de oliva extravirgem é muito aromático, bem verde, bem amanteigado e tem uma pungência diferente da do italiano. É mais ‘macio’”, diz Cristian Sepúlveda, enólogo e agrônomo da vinícola.
“Eu digo que não tem segredo para fazer um bom azeite. Bastam cuidados no campo, ajuste das máquinas, limpeza e um bom fruto. Estando fresco, o azeite é bom em qualquer lugar do mundo”, diz Rafael Marchetti, sócio-proprietário da marca de azeites gaúcha Prosperato e da Tecnoplantas, empresa que comercializa mudas de oliveiras.
A oliveira, típica de clima mediterrâneo, adaptou-se bem em regiões do Rio Grande do Sul e Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo. “Não é nenhum milagre. Temos solo rico em matéria orgânica, temperaturas baixas no inverno para que floresça. Ao mesmo tempo, ela não para de crescer no Brasil como acontece na Europa, em que ficam dois meses em crescimento vegetativo”, diz Marchetti. As árvores acabam crescendo mais no Brasil e dando mais frutos.
O Ministério da Agricultura permite o cultivo de dez variedades: arbequina, picual, koroneiki, arauco, coratina, ascolano, grappulo, maria da fé e arbequina — esta, a principal por ter se adaptado bem ao clima e solo da Serra da Mantiqueira.
“Nunca um produto industrializado no Brasil começou com tanta qualidade”, sentencia Marchetti. A sommelier de azeites Maria Beatriz Dal Pont concorda: “O investimento é alto e o produto é de qualidade. Em média, é preciso oito quilos de azeitona para extrair um litro de azeite de oliva”.
Pela produção em pequena escala, o preço não é tão convidativo quanto os importados. Uma garrafa de 250 ml de azeite de oliva extravirgem da Serra da Mantiqueira pode custar R$ 50. “Existe uma diferença muito grande ao se degustar um azeite que cruzou o mar e ficou meses armazenado, entre porto, distribuidor e no ponto de venda, e um azeite feito próximo de onde ele é comercializado, como é o caso do azeite nacional”, diz a sommelier.
Os olivais estão concentrados nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais e começaram a ser implementados de meados dos anos 2000 em diante. A produção ganha volume ano a ano e o pouco tempo de experiência, no entanto, não significa baixa qualidade. “Os produtores têm colocando as safras no mercado principalmente a partir de 2016. Temos mais de 15 empresas produtoras de azeite no Rio Grande do Sul, muitas participando de concursos internacionais e sendo premiadas, como a Prosperato e a Batalha”, cita Maria Beatriz.
A previsão dos produtores e especialistas é que no longo prazo, com o volume de produção aumentando, o produto fique mais acessível. “O azeite de oliva é como um suco de laranja: é azeitona esmagada e só. Quanto mais fresco, mais saboroso”, ensina Maria Beatriz.
Marcas brasileiras de azeite de oliva
A Prosperato, uma das primeiras marcas a entrarem no mercado, colheu a primeira safra comercial em 2013 na Campanha Gaúcha. Em 2017, a marca produziu três rótulos e com eles granjeou cinco prêmios em competições nos Estados Unidos, Itália e Israel. Seu azeite monovarietal Koroneiki, uma azeitona grega, ganhou 85 pontos no Flos Olei 2017. “Sabíamos que nossos produtos eram bons, mas não a nível de ganhar prêmio. Resultados como esse dão mais confiança para quem vai investir”, diz Marchetti.
Em 2014, a colheita de azeitonas nos 1,4 mil hectares na Campanha Gaúcha e fronteira oeste do Rio Grande do Sul foi de 300 mil toneladas, peso que foi transformado em 33 mil litros de azeite de oliva. Os dados são da Embrapa RS.
Na Serra da Mantiqueira, há 160 produtores de oliveiras distribuídos por aproximadamente 2 mil hectares. A safra de 2017, segundo a Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (ASSOOLIVE), rendeu 42 mil litros de azeite. A região reúne 20 municípios mineiros e dez paulistas. “Recomendo que os produtores que evitem lançar uma marca própria nos primeiros anos, porque pode haver quebra de safra e mesmo hoje temos pouca oferta nacional. Azeite é diferente de vinho. Todos os azeites têm de ser consumidos no mesmo ano”, explica Marchetti.
Em Aiuruoca, no sul de Minas Gerais, Nélio Weiss implementou seu olival. O economista se define como um gourmand e para fugir da correria de São Paulo, comprou uma propriedade no município. Ao longo de uma década investiu R$ 1,1 milhão para reflorestar com mata nativa, plantar seu olival e instalar o lagar para produção de azeite de oliva. Das 21 mil árvores que plantou em 32 hectares, 6 mil são oliveiras. O primeiro rótulo saiu em 2017 sob a marca Olibi, que também comercializa as folhas da árvore para infusões, mudas de oliveiras, azeitonas de mesa e azeitonas desidratadas.
O investimento também é feito por quem quer diversificar o mix de produtos. É o caso da vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista, que começou a plantar oliveiras em 2007. “A ideia era ter um grupo de variedades e culturas diferentes de café, que é o forte da região, por isso o vinho e as oliveiras”, relata Cristian Sepúlveda, enólogo e agrônomo da Guaspari.
A safra comercial veio dez anos depois: apenas 3 mil litros em 7 hectares plantados. “Nosso primeiro teste aconteceu em 2013 e resultou em um azeite de qualidade excepcional, porém com quantidade muito limitada. Em 2014 houve uma quebra de safra em virtude do clima e, em 2015 voltamos a produzir, mas ainda em pouca quantidade, fator que não nos permitiu a comercialização”, explica Sepúlveda.
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