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Restaurante mexicano serve mescal e pratos exóticos
“Mescal é como o beijo, não se pede, se toma”. A frase parou aqui na abertura da coluna sem pedir licença, tentando romantizar o tema. Com certeza, já devia ter tomado uma dose da bebida, pois esqueci o autor. E se você só conhece a mais famosa aguardente do país, a tequila, corra conhecer o mescal – a coqueluche do momento e muito melhor porque fabricada de maneira artesanal e tradicional. Esqueça o gim. “Serve para tudo de ruim e para tudo de bom também”, é o ditado popular sobre a bebida assegurando seus efeitos para indigestão e constipações. Vai ver por isso me sai muito bem da efervescente, em todos os sentidos, a Cidade do México. Imagino que qualquer coisa marinada com a forte bebida, que também é feita com o suco fermentado da planta nativa chamada agave, uma parente do cacto, fique boa. Mas há que se tomar cuidado. Será que é minha a observação? Paciência, estava nas anotações. Apenas isso, e nada mais, porém, não esqueci o que provei no Guzina Oaxaca, ficou como saudade grudada no coração. Outra lenda. Mesmo não indo até Oaxaca trouxe uma parte de lá comigo.
Antes dessa comoção, preciso contar que coloquei os pés no restaurante temendo o encontro com as larvas e com o fantasma de Montezuma na cabeça, uma maldição que assombra muitos turistas que já passaram poucas e boas no país. Seria uma vingança do imperador aos intrusos invasores. Parece que o mal acomete estrangeiros que chegam ao país com sede. É folclore, convidada para um menu harmonizado com mescal, eu asseguro. A proposta da casa para jornalistas que estavam em um evento na cidade teve coquetéis, aperitivos, pratos típicos, empanadas, moles – o molho típico mexicano, que tem dezenas de ingredientes, como pimenta e chocolate – e os temidos vermes, tão comuns por lá. Não é que são bons? Se não soubéssemos o que era, comeríamos tranquilamente, juro. O mal-estar que muitos dizem sentir deve estar relacionado à altitude da cidade, que pode sim causar enjoos e tonturas, no mínimo. Esqueça a história.
Entre quadros, tapeçarias, cerâmicas e objetos de artistas do Estado de Oaxaca, o ambiente convida a se entregar às comidas de um dos lugares mais pobres do país, mesmo instalado no pomposo bairro de Polanco e na principal avenida dele. Aberto desde o café da manhã até o jantar, é endereço para ir quando estiver por lá. Mais de 90% dos ingredientes chegam do Estado duas vezes por semana para as mãos habilidosas do chef Alejandro Ruíz, que transforma o lugar em uma verdadeira “embaixada gastronômica”. Para não assustar ninguém, prepararam um cardápio com opções bem palatáveis, como costeletas de cordeiro, e também algumas arrepiantes para a maioria dos mortais, com direito àquelas minhoquinhas estranhas no recheio de tortillas e tacos. Torrados, os bichos são meio docinhos, gosto de ervas às vezes e bom. Foi mais fácil traçar os pequenos com perninhas e protuberâncias onduladas escondidas.
Deixei de lado o raio do preconceito. Confesso, não foi fácil. Fiquei pensando nas proteínas, tentando me convencer. Aqueles que foram no tradicional se arrependeram, eu mesma, não vou esconder, declinei de alguns pratos, só provando uma garfadinha da vizinha. Larva de mariposa (gusano de maguey), fungo de milho (huitlacoche), ovas de formiga (escamoles), tudo o que eu consegui traduzir. E lá fomos nós com muito mescal, benza deus, enfrentando toda criatividade e diversidade com galhardia. Estando lá, não se acovarde.
Onde
Mazaryk 513, local 3/4, Cidade do México – www.guzinaoaxaca.com/
Mazaryk 513, local 3/4, Cidade do México – www.guzinaoaxaca.com/
Quanto
Cerca de 600 pesos mexicanos
Cerca de 600 pesos mexicanos