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O tilintar do talher na taça de vinho é o sinal para que as conversas paralelas cessem por alguns minutos e o presidente faça seu pequeno cerimonial da noite. Marcus Coelho agradece o delicioso jantar servido, detalha um pouco os pratos a serem servidos e justifica as ausências sentidas. Fala também com carinho do amigo que retornou após um pe­ríodo de afastamento, comenta a presença da equipe do Bom Gourmet naquela mesa especial e, finalmente, abre a discussão sobre o cardápio do próximo jantar. A decisão é rápida: o confrade J.J. fará um jambalaya – prato típico de Nova Orleans que leva nada menos que 58 ingredientes. Uma espécie de paella louisiana.

Esta é apenas uma parte do ritual do que ocorre toda última segunda-feira de cada mês na Confraria do Armazém. É nesta data que se reúnem cerca de 25 a 30 homens (o número é realmente incerto devido às participações flutuantes) para cozinhar, trocar receitas e experimentar novos sabores. No encontro de outubro o novo sabor foi apresentado pelo confrade Luiz Augusto Xavier, que levou o badalado alho negro – uma delícia. E inclua neste pacote de novidades do Xavier a presença do Bom Gourmet que foi convidado por ele para conferir o que rola nesta tão comentada confraria. Nossa presença marca a terceira participação feminina em sete anos de criação do grupo – uma deferência que será guardada com muito carinho.

Ritual

Mas vamos ao ritual por completo…. Os trabalhos começam cedo. A equipe que comanda a cozinha (quatro pessoas) chega na “toca” dos confrades às 17 horas. Toca porque eles até tentaram se reunir em restaurantes para fazer uma crítica gastronômica, mas comer apenas não bastava. Eles queriam colocar a mão na massa. Xavier, Marcos Coelho e Carneiro Neto, fundadores da confraria, foram se instalando no restaurante do amigo Farid Assad (o Armazém São Miguel) e ali iniciaram esta história que é puro sabor.

A noite começa a cair e os confrades chegam com suas domas personalizadas. Elas estão penduradas em cabides, dobradas cuidadosamente ou já no corpo daqueles mais despojados. O rumo é certeiro para a cozinha, ao lado dos colegas que estão nas panelas. O cheiro maravilhoso começa a tomar conta do lugar. O papo gira em torno do preparo dos pratos, da receita e dos temperos utilizados, do tempo de cozimento, do fornecedor dos alimentos… o assunto é gastronomia. Não é política nem futebol, tão pouco mulheres ou trabalho. Eles querem é falar de comida.

E os confrades são solidários. No dia em questão um dos participantes chegou cedo com uma ter­­­rine de lagosta para ser servida como ape­­­­ritivo e teve de sair para fazer alguns exa­­­­mes. Retornaria para terminar o jan­­­­­tar, mas os médicos o seguraram no hos­­­­­pital. Passado o susto, não faltou con­­­­­frade para ajudar Claudio Stringari e Ari Perez, que estavam no comando das panelas. O risoto de foie gras com vin­­­­ho do Porto ao perfume de trufas pre­­­­cisava ser terminado e os escalopes de vitela na crosta de ervas e batatas ao gratin com queijo ementhal também. Pa­­­­ra constar: outra terrine também foi ser­­­­vida, de coelho – um sabor inigualável.

Capricho total na preparação dos pratos, servidos à inglesa. E esse é um dos momentos mais interessantes. Todos sentados e concentrados à espera da entrada. O silêncio é marcante. Confesso que demorei a acreditar que aquela cena era real. Parecia que algo aconteceria. Prato servido, a reação de cada um era encantadora… Eles estavam realmente saboreando aquele momento. Eu também. Foi quando outro convidado (mas não calouro como eu) comentou: “É assim mesmo. Vocês mulheres não sabem nada sobre os homens!”

Pode ser, mas foi muito bom ver um grupo tão eclético (advogado, médico, empresário, dentista, jornalista, comentarista e até chef de cozinha) compenetrado naquele ritual. Pensei: será que existe uma confraria feminina gastronômica em Curitiba que mantém toda esta concentração nos pratos e receitas? Nunca ouvi falar, mas adoraria fazer parte de uma.

Para encerrar o serviço, a sobremesa. Isso não foi surpresa: os ho­mens adoram um bom doce. E esta é a especialidade de Stringari, que preparou bananas ao rum com sorvete de canela – este direto da cozinha do Durski, que também é confrade, mas não estava naquela noite.

Era um pouco mais de dez horas quando os primeiros começaram a se levantar para ir embora. Em pouco tempo todos saíram. A expectativa é agora o preparo da jambalaya. O Bom Gourmet já confirmou presença e se compromete a compartilhar na próxima edição a receita deste prato.

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CARDÁPIO DA NOITE

 

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