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Startup cria hambúrguer vegetariano com aparência e sabor de carne
George Motz, morador do Brooklyn fortão e com grandes costeletas, se vê como o especialista em hambúrgueres dos Estados Unidos. Um carnívoro contumaz que registrou seu caso de amor com a carne moída em livros e filmes, Motz acredita que já comeu mais de 14 mil hambúrgueres ao longo dos últimos 20 anos.
Contudo, durante uma manhã fria de dezembro, Motz se sentou para comer o sanduíche que prometia ser diferente de tudo o que já havia comido até então. Ele estava no Momofuku Nishi, o novo restaurante do famoso chef David Chang em Nova York, e tinha ido para comer o Impossible Burger.
O Impossible Burger, ou hambúrguer impossível, em tradução literal, pretende ser a resposta do setor de alta tecnologia ao Big Mac, da gigante rede McDonald’s. Criado por uma equipe de cientistas do Vale do Silício, ele é feito de trigo, óleo de coco e batatas, embora se esforce para ser mais que um simples hambúrguer vegetariano. Graças ao acréscimo de heme, uma molécula rica em ferro presente no sangue, (que a empresa produz por meio da fermentação de um fungo específico), o hambúrguer tem aparência, cheiro, textura e sabor de carne.
Patrick Brown, fundador e executivo-chefe da Impossible Foods, afirmou que o objetivo era desequilibrar um mercado multibilionário sem precisar matar uma única vaca. “É possível comer uma carne absolutamente deliciosa sem precisar usar nenhum animal”, afirmou Brown em uma entrevista.
Brown, que já trabalhou como bioquímico na Universidade de Stanford e fundou a Impossible Foods há seis anos, afirmou que durante testes cegos de sabor, algumas pessoas não foram capazes de distinguir o Impossible Burger de um hambúrguer de carne comum. Além disso, em um evento informal organizado pelo New York Times, as reações foram positivas na maioria dos casos.
No Momofuku Nishi, Motz sabia o que estava prestes a provar. O Impossible Burger chegou entre fatias de pão branco e macio, coberto com queijo americano, alface e tomate, com fritas acompanhando.
“Parece de verdade. O peso parece correto também”, afirmou Motz, observando o hambúrguer. Em seguida, deu uma grande mordida, mastigou com vontade e perdeu os olhos no horizonte.
Para a Impossible Foods ser bem sucedida, Brown precisa convencer carnívoros como Motz. “Sem querer desrespeitar os vegetarianos, mas só estamos preocupados com a opinião dos carnívoros de verdade”, afirmou Brown.
Quer mudar o mundo
Vegetariano há 40 anos, Brown não está interessado em simplesmente criar um novo sanduíche sem carne para quem decidiu parar de comer proteína animal. Na verdade, quer mudar os hábitos do mundo.
Vegetariano há 40 anos, Brown não está interessado em simplesmente criar um novo sanduíche sem carne para quem decidiu parar de comer proteína animal. Na verdade, quer mudar os hábitos do mundo.
Ele tirou um período sabático de Stanford há seis anos e refletiu sobre qual problema poderia resolver, e chegou à ideia de reduzir o consumo global de carne.
Não se trata apenas da morte de bilhões de animais que servem de alimento. Ele também estava pensando na agricultura, pesca e produção de alimento para o gado e as aves, colocando sob pressão os limitados recursos do planeta – consumindo combustíveis fósseis, emitindo gases do efeito estufa, ocupando espaço de plantio e poluindo a água. Brown afirmou que “o consumo de carne coloca em risco uma série de ecossistemas terrestres”.
“Mas há uma solução. Produzir os mesmíssimos alimentos, com todas as características exigidas pelos consumidores, mas com um impacto ambiental muito mais limitado, sem utilizar animais. Concluí que esse era um objetivo realmente factível.”
Aportes de grandes empresas
Há muito dinheiro envolvido no zelo vegetariano de Brown. A Impossible Foods angariou mais de US$ 180 milhões em investimentos, incluindo Google Ventures, UBS e Bill Gates. A empresa faz parte de uma nova leva de produtos alimentares – como Soylent, Hampton Creek e Juicero, entre outras – que desejam revolucionar a forma como comemos. Outra empresa, a Beyond Meat, também está fazendo uma alternativa vegetal à carne moída que já pode ser comprada na Whole Foods e em outras redes. O objetivo da empresa também é o de atrair os carnívoros.
Há muito dinheiro envolvido no zelo vegetariano de Brown. A Impossible Foods angariou mais de US$ 180 milhões em investimentos, incluindo Google Ventures, UBS e Bill Gates. A empresa faz parte de uma nova leva de produtos alimentares – como Soylent, Hampton Creek e Juicero, entre outras – que desejam revolucionar a forma como comemos. Outra empresa, a Beyond Meat, também está fazendo uma alternativa vegetal à carne moída que já pode ser comprada na Whole Foods e em outras redes. O objetivo da empresa também é o de atrair os carnívoros.
Existe um mercado crescente para esses produtos. As vendas de substitutos da carne cresceram 18 por cento nos últimos anos, chegando a mais de US$ 1 bilhão nos EUA no ano passado, em relação a cerca de US$ 850 milhões em 2012, de acordo com a empresa de pesquisa Euromonitor International.
“Os clientes estão cada vez mais dispostos a aceitar a ideia de produtos alternativos à carne, e é daí que o verdadeiro sucesso pode vir: por meio de um grupo muito mais amplo que o dos vegetarianos”, afirmou Raphael Moreau, analista de alimentos na Euromonitor.
Contudo, para a Impossible Foods chegar lá, carnívoros como Motz teriam de achar o Impossible Burger melhor que um hambúrguer convencional no ponto de venda.
Brown afirmou que sabe perfeitamente que os carnívoros não vão se tornar vegetarianos apenas para salvar o meio ambiente. “Temos um produto que os consumidores escolhem porque acham mais gostoso. É o mercado que vai decidir.”
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