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Purinha ou envelhecida? Cara ou barata? Artesanal ou industrial? Tão vasto quanto o universo da brasileiríssima cachaça são as dúvidas em relação a seu consumo.

Parte delas puderam ser esclarecidas na semana passada, em um evento no Mercado Municipal de Curitiba: a Cacharitiba foi uma feira promovida pela loja especializada Vô Milano que trouxe para a cidade alguns produtores de diferentes estados. No local, há degustação e explicações sobre a forma de produção e consumo.

Também parte integrante do evento, um curso de cachacier (título dado ao especialista na bebida) foi realizado — em pleno Mercado. As aulas foram conduzidas por Manoel Agostinho Lima Novo. Engenheiro por formação, o profissional é estudioso da bebida e integra grupos de produção e discussão da bebida. Também é autor do blog especializado Mundo da Cachaça.

Aproveitamos a passagem do especialista, um dos maiores do país, por Curitiba para desvendar alguns dos grandes segredos da bebida. Quer conhecê-la mais? Então confira:

Cachaça, só no Brasil!

Ela é como o champagne! Se a nobre bebida francesa só pode ser produzida em uma região específica da França (todas as elaboradas em outros locais, ainda que da mesma forma, só são consideradas espumantes), a cachaça só pode ser feita aqui no Brasil. É denominação de origem garantida por instrução normativa do Ministério da Agricultura.

Nem toda aguardente é cachaça

A velha máxima “não compre gato por lebre” cabe muito bem. Apesar de existirem diversas bebidas alcoólicas à base de cana, somente algumas são consideradas verdadeiras cachaças. É que, para isso, é preciso que ela leve tenha sabor e aroma apenas da cana (no caso das puras) e da madeira (caso seja envelhecida). Fora destes padrões, é apenas aguardente. “Alguns produtores colocam banana, tangerina, caramelo, caju, cravo e canela na receita. Com isso, já não é mais cachaça”, diz Lima Novo.
E mais, é preciso obrigatoriamente ter graduação alcoólica entre 38% e 48%.

Cachaça boa é cara?

Uma boa notícia para quem quer investir no vasto universo da bebida: se comparada aos vinhos e uísques, a cachaça é uma bebida de baixo preço. O rótulo mais caro à venda no Brasil custa, em média, R$ 700. “E este é um valor isolado. Existem ótimas cachaças premium por R$ 200 ou R$ 300.”
E mais, o preço não significa qualidade. “Tem cachaças maravilhosas baratas e tem algumas caras muito ruins. Tem bebidas de R$ 400 ou R$ 500 que eu não ousaria beber. Da mesma forma, há ótimos exemplos de rótulos que custam R$ 13, R$ 14.”

Puras e envelhecidas

Para conhecedores iniciantes, a coloração da bebida é quase tão intrigante quanto o seu complexo sabor. Denominações como “cachaça ouro” (de cor dourada) podem facilmente passar a impressão de melhor qualidade. Mas isso nem sempre é verdade. A cor mostra apenas que a cachaça teve estágio em barricas de madeira – e quanto mais escura, significa que mais tempo permaneceu lá.
Mas, tanto as cachaças puras (que são incolores), quanto as envelhecidas (que têm a cor dourada) têm representantes bons e ruins. “É questão de gosto. E particularmente não gosto das puras. Por outro lado, há pessoas críticas em relação às envelhecidas. Alguns inclusive a chamam pejorativamente de licor de cachaça.”

Quanto mais envelhecida, melhor?

Encontrar uma cachaça que estampe o título de “envelhecida 10 anos” pode ser um tentação para os compradores de primeira viagem — talvez influenciados pelo uísque, cuja relação de envelhecimento reflete em sua qualidade.
Mas com a cachaça é diferente. Mais de quatro anos envelhecida, em média, não faz diferença significativa. “Quando saem do destilador, todas as cachaças são incolores. A partir dali, parte vai para um tanque de aço inox e ficam descansando e outra parte vai para barricas de madeira. Estas começam a oxidar, e ganham notas da madeira a que ficou exposta.”
Porém, este processo é eficiente até o quarto ano de armazenamento. “A partir daí, ganha-se muito pouco em aroma ou sabor”, explica o especialista.

As cachaças artesanais são mesmo melhores do que as industriais?

Para o estudioso, são sim. Ele explica que o cuidado na produção é que faz toda a diferença. “Quando se produz a bebida, um dos passos é destilar. Nesta etapa, os primeiros elementos a surgirem são os mais voláteis, como o metanol. No final da destilação, surgem elementos secundários que agridem o sistema nervoso. Há que se eliminar tanto o metanol quanto estes elementos secundários. Dizemos que é cortar a cabeça e a cauda, e ficar apenas com o coração da produção. O que os produtores artesanais fazem é a cachaça do coração da produção. Já as industriais não, pois precisam produzir mais e mais rápido. Engarrafam o líquido com metanol e com outros agentes nocivos”, diz.

Prazo de validade e armazenamento

Guardar uma garrafa de cachaça é tarefa fácil. Não é preciso local ou posição adequada. “Ela é menos exigente que o vinho”, brinca.
A durabilidade também é fator positivo: pode-se guardá-la por tempo indeterminado. “Ela dura mais de 20 anos fechada, sem problema algum. Quando aberta, como entra em contato com o oxigênio, pode haver mudança em seu sabor”, pondera.

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