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“Eu estava indo para um festival na Suíça junto com os Paralamas do Sucesso em 1987. O Hebert [Vianna, vocalista e guitarrista] me disse: ‘Jair, você sabe que você é o pai do rap, né?’ E eu respondi: ‘Não venha arrumar mais filho pra mim’ (risos).” -Jair Rodrigues, cantor | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
“Eu estava indo para um festival na Suíça junto com os Paralamas do Sucesso em 1987. O Hebert [Vianna, vocalista e guitarrista] me disse: ‘Jair, você sabe que você é o pai do rap, né?’ E eu respondi: ‘Não venha arrumar mais filho pra mim’ (risos).” -Jair Rodrigues, cantor| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

A alegria e o sorriso aberto de Jair Rodrigues, que realizou uma temporada de shows em Curitiba no último fim de semana e faz mais três no próximo, na Caixa Cultural (com ingressos esgotados), não fica somente no palco: fora, Jair também adora uma bagunça. Entre o almoço e o descanso para o show, ele conversou com a Gazeta do Povo, e já chegou na porta do hotel às gargalhadas. "Pô, mas vocês nem vão me deixar escovar os dentes?", protestou diante da reportagem e de uma equipe de televisão que também o aguardava. Sacou seus apetrechos de uma bolsa preta e pediu um minuto. Voltou contando que sua boca estava "parecendo uma horta", e cantarolou durante toda a entrevista, chamando a atenção dos hóspedes e funcionários.

Natural do interior de São Paulo, pai de dois filhos (os também músicos Jairzinho e Luciana Melo), Jair Rodrigues, 73 anos e 53 de carreira, começou como crooner na noite paulistana. Fez dupla com Elis Regina na década de 1960, e, diferentemente de outros cantores da MPB, ficou distante dos protestos contra a Ditadura Militar. É conhecido sobretudo por suas atitudes inusitadas no palco, como a de plantar bananeira e brincar com a plateia.

No sábado passado, durante o show no Teatro da Caixa, Jair cantou as últimas músicas no meio do público, a maioria delas, sentado no colo de várias mulheres da plateia, o que arrancou gargalhadas de todos. Durante a conversa com a reportagem, fez questão de garantir: "Se eu não sou o homem mais feliz desse mundo, sou um deles". Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O senhor começou a cantar em corais de igreja. Alguém lhe iniciou na música?

Foi minha mãe, dona Con­ceição. Eu gostava muito de futebol quando tinha uns oito anos e jogava no meio da rua, descalço. Era lateral esquerdo, daqueles furiosos! Vivia machucado. Minha mãe ficava doida, e um dia me disse: "Olha, meu filho. Para com esse negócio de bola. Você é um menino que tem que se dedicar àquilo que Deus te deu, que é o dom da música". Foi ela que me colocou para cantar no coral. Dali em diante, passei a ouvir Sílvio Caldas, Carmen Miranda, Nelson Gonçalves e vários outros, curtia muito Frank Sinatra também. Com 17 anos fui cantar em um restaurante, em São Carlos (SP). Quem plantou isso tudo na minha cabeça foi ela.

O sucesso veio na década de 1960 quando o senhor participou de festivais de música e apresentou O Fino da Bossa, na Record, com Elis Regina. Recentemente o senhor esteve em Curitiba participando de uma homenagem para ela (o show Elis por Eles). Como era a relação com Elis?

Um dia me apresentei em um programa e a conheci. Todo mundo dizia: "A Pimentinha parece você de saia". Um era fã do outro, e ficamos grandes amigos. Depois gravamos juntos, apresentamos o programa e viajamos por esse mundo de Deus. Muita gente pensava que éramos namorados, mas nunca teve nada. Ela deixou um legado enorme... Até hoje não deixo de fora as músicas que eu cantava com ela. Brinco com o público que ela está no palco, e que só eu posso ver. Depois digo: "Agora volta lá pra cima, o Senhor está chamando você. Está bom aí? Eu não quero ir pra aí tão cedo". (risos)

A música "Deixa Isso pra Lá", de 1964, é considerada o primeiro rap brasileiro. O que acha do título?

Eu estava indo para um festival na Suíça junto com os Paralamas do Sucesso em 1987. O Hebert [Vianna, vocalista e guitarrista] me disse: "Jair, você sabe que você é o pai do rap, né?" E eu respondi: "Não venha arrumar mais filho pra mim" (risos). E aí que ele me explicou que eu fui o primeiro a versar numa música.

O senhor tem 53 anos de carreira, e continua num ritmo intenso. Co­mo é manter a rotina?

Eu estou preparado. Não perco o meu tempo, estou sempre fazendo meus exercícios físicos, cuidando da voz. Estava no interior do Rio Grande do Sul anteontem, hoje já estou aqui. Para estar descansado, não precisa ficar dormindo dez horas. Para mim, quatro está de bom tamanho.

Seu último trabalho foi o DVD Festa para um Rei Negro, de 2009. Tem algum projeto novo em andamento?

Sim, começo a gravar logo. É um CD que posteriormente será um DVD com inéditas, e músicas que não fazem parte do meu repertório. O título será Jair Rodrigues Samba Mesmo. Sei que pode parecer incoerente, mas quero gravar "O Sole Mio", que me marcou muito quando estive na Itália. Nada impede que eu grave em samba!

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