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Quarto livro  de Jean Wyllys reúne crônicas do autor e tem tom “mais político.” Próxima obra será uma ficção, seu romance de estreia | Divulgação
Quarto livro de Jean Wyllys reúne crônicas do autor e tem tom “mais político.” Próxima obra será uma ficção, seu romance de estreia| Foto: Divulgação

Opinião

Clareza e honestidade são marcas do autor

Em Tempo Bom, Tempo Ruim – Identidades, Políticas e Afetos, Jean Wyllys consegue debater assuntos fortes e polêmicos com muito embasamento. A paixão por causas relacionadas aos Direitos Humanos pela quais luta (como as ligadas ao movimento LGBT) está presente, mas sempre bem pautada em dados, estatísticas e na sua vivência no Congresso Nacional.

A organização das crônicas ajuda a situar o leitor que conhece pouco de sua história: entendemos, por exemplo, que Jean, antes de ser uma figura pública conhecida, seja como vencedor do reality show Big Brother Brasil, em 2005, ou como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, já era militante político. Começou na Igreja, nas Pastorais da Juventude.

Wyllys discorre de maneira breve e lúdica sobre assuntos como homossexualismo, homofobia, as manifestações de junho de 2013, a comunicação de massa, entre outros temas.

Os textos, mesmo curtos e diretos, trazem muito conteúdo, com dados e referências a teóricos e escritores, e têm potencial para conquistar leitores pouco simpáticos à mídia livro.

Crônicas

Tempo Bom, Tempo Ruim – Identidades, Políticas e Afetos

Jean Wyllys. Paralela, 192 págs., R$ 24,90.

Dormindo apenas quatro horas por noite para dar conta da vida parlamentar, acadêmica e de escritor, o deputado com mandato dedicado à causas relacionadas aos Direitos Humanos Jean Wyllys acaba de lançar seu quarto livro, Tempo Bom, Tempo Ruim – Identidades, Políticas e Afetos, pela editora Paralela. É a sua segunda obra com um tom "mais político", como ele mesmo define.

O livro é uma reunião de crônicas do autor sobre suas origens, o começo da militância política (ainda adolescente, quando ingressou na Pastoral da Juventude Estudantil em Alagoinhas, interior da Bahia, onde nasceu), o Congresso Nacional, e as causas pelas quais trabalha e defende.

Entre a intensa atividade política e de escritor, ele faz questão de arrumar tempo para as leituras que chama de "diletantes", geralmente, quando está em trânsito. "São leituras que me iluminam e me trazem um repertório muito bom para a minha atividade política e criação", contou em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. Também é fã de novelas e séries – grava várias – exceto Game os Thrones (exibida na HBO), um de seus vícios. "Dez horas da noite de domingo, não me convide para nada", brinca.

Para o próximo livro, se dedicará à ficção – será o seu primeiro romance. Além disso, também vai gravar (depois das eleições, em outubro), o programa Cinema e Outras Cores para o Canal Brasil, com 13 episódios sobre o novo audiovisual que trata de sexo e diversidade.

Leia a seguir os principais trechos da conversa que a reportagem teve com o autor:

Como funcionou a organização dos textos para o livro?

Quando fiz o contrato com a editora [Paralela, um dos braços da Companhia das Letras], o Matinas Suzuki [um dos diretores] me disse que eles queriam um livro para uma nova geração de leitores, que não é tão próxima da mídia livro, levando em conta a recepção do que eu escrevo nas redes sociais. Então, construí um livro com questões que eu já tratava nas redes sociais desde o começo do meu mandato [como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro]. Reuni pronunciamentos, coisas que eu já tinha escrito, e dei uma unidade, cuidei para ter uma estrutura narrativa, e a pessoa poder ler de forma linear ou não. São textos curtos, e tenho tido muito retorno de pessoas que começaram a ler um texto e acabaram lendo o livro todo.

O livro traz diversos textos sobre o exercício da política. Qual a sua opinião sobre a crítica em relação aos políticos, naquela percepção de que todos são "ladrões"?

É uma crítica superficial. Hannah Arendt [filósofa política alemã, uma das intelectuais mais influentes do século 20], dizia que política é discernimento, e essa crítica não prima por isso. A política também sempre é identificada com Brasília, mas são as assembleias legislativas e as câmaras de vereadores que afetam diretamente a vida do cidadão. Quem presta atenção nos deputados estaduais, na execução orçamentária? Pouca gente. Somos um país de analfabetos políticos, nossa educação é precária. Massificamos a educação e os estudantes saem da escola sem conhecer o pacto federativo, sem saber a distinção dos poderes da república. Nessa falta generalizada de informação, só pode nascer uma crítica equivocada, alimentada pela imprensa, pois a vida depende da política. A ausência dela é barbárie. Se criamos o imaginário de que todo o político é ladrão, você o afasta da escolha consciente de alguém que o represente de fato. O meu mandato tem um alcance, e que reaproximou um contingente significativo da política. Como eu era uma figura de "charmes" [uma definição do filósofo francês Gilles Lipovetsky], por causa do Big Brother Brasil [Jean foi vencedor do reality show em 2005], as pessoas prestaram atenção no que faço. E ao prestarem atenção, elas passaram a se reaproximar.

Nas suas crônicas, você cita alguns autores, como o português José Saramago. Qual é o seu tempo de leitura?

Leio muito nas madrugadas e nos intervalos de viagens. Como não dirijo, aproveito muito esse tempo de engarrafamento, voo, para fazer minhas leituras. Sábado de noite, quando não tenho atividade política, pego as últimas sessões de cinema. No domingo vou ao teatro, e também coloco em dia minhas leituras acadêmicas. Dou aula, só este ano que não dei, sou professor e jornalista [formado pela Universidade Federal da Bahia], estou deputado. E a ocupação tem a leitura técnica do trabalho parlamentar. Todas as leituras me subsidiam, e as leituras diletantes me iluminam, me trazem um repertório muito bom para a minha atividade política e minha criação. Um de seus textos define o que é ser "de esquerda". Você sempre foi de esquerda? Acredita que, por outro lado, há uma percepção errônea sobre o que é ser "de direita"?

Algumas pessoas nascem para ser gauche na vida, e eu sou uma delas, pois a minha identidade me faz estar ao lado esquerdo da vida. Mas não podemos negar o direito de serem conservadores e liberais. Mas, o liberalismo econômico de mercado, com o mercado máximo e estado mínimo, está muito pouco presente no Brasil. Uma coisa é ter um Roberto Campos [economista, diplomata e político, morto em 2001], essas figuras que não são fascistas. A minha crônica quer marcar uma diferença em relação ao fascismo, que também pode ser de esquerda. Identificamos pouco a direita esclarecida, e sim de analfabetos políticos que têm voz nas tribunas e nas principais revistas. E essas pessoas não representam sequer o pensamento de direita.

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